Em qual período histórico tivemos o auge da nossa malha ferroviária?

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Por Rafael da Fontoura – Em qual período histórico tivemos o auge da nossa malha ferroviária? Considerando que hoje temos menos kms de ferrovias do que no ano de 1929, fruto de desinvestimentos e desligamentos de alguns trechos “deficitários”.

Pois bem, vamos falar disso por ordem: não é o Segundo reinado, pois… foi nele que as ferrovias começaram, e apesar de terem um crescimento estável, não chegaram nem perto do ápice da nossa malha ferroviária, tendo apenas 9.583 kms de extensão em 1889.

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Na República temos um projeto ambicioso de fazer crescer as malhas em 19mil quilômetros, mas com os conflitos e conturbações Deodoro e Floriano não conseguem mantê-lo, sendo forçados a desviar os recursos para as áreas emergenciais, como saneamento e Forças Armadas.

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Porém, as políticas monetárias de Rui Barbosa permitiram uma espécie de “Desenvolvimentismo” primitivo, abrindo caminho para de 1891 a 1898 chegarmos a 14.664 quilômetros de linhas férreas totais, algo surpreendente para o curto tempo e os conflitos da época, como o Contestado.

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Fiz um “pega-ratão” ao não citar a República dos Bacharéis (1895-1930) mas citar o Segundo reinado aqui porque quis dizer a extensão ferroviária total como ápice, mas se formos citar períodos de pico de crescimento, certamente foi de 1908 a 1914, com 1.207 km de trilhos ao ano!!!

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Certamente vou decepcionar aqui a quem votou no Estado Novo, e o coloquei justamente porque… bem, todo mundo tem uma boa visão do Vargas, não tanto quanto eu, mas tem. Ele não investiu tanto em ferrovias pelos mesmos motivos de Floriano e Deodoro: guerras e crises.

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Em 1939 houve a primeira regressão na extensão das linhas férreas brasileiras: míseros 3km a menos, recuperados já em 1940 com os esforços do investimento do PEOP de Vargas. O crescimento estava estagnado, e não encontraria melhoras significativas nos próximos dois governos…

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Passados Plano S.A.L.T.E. e o quarto Governo de Vargas, temos o elefante branco, o bode expiatório, o maior injustiçado da História logística do Brasil… que foi justamente a opção empatada com o Segundo reinado — eu fiquei surpreso com esse empate, sinceramente —: JK, 50-em-5.

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JK, como já falei anteriormente, dedicou mais páginas do seu Plano de Metas para falar e edificar as ferrovias do que as rodovias, embora seja mais lembrado por estas últimas por dois motivos: distorção da mídia e a epopeica Rodovia Belém-Brasília, interligando o Norte ao Centro.

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Anexarei, aqui, algumas capturas de tela falando sobre os projetos de JK.

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JK foi extremamente ambicioso, mas conseguiu, junto a todos os outros gastos, que não foram poucos e geraram dívidas (eu sei, eu sei, vou explicar, já que a mídia só usa pra distorção e ataques) atingir a marca máxima das nossas ferrovias: 38.287 quilômetros de malha ferroviária!

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Muito do projeto foi pausado para que, no plano iniciado lá em 1930, com o nosso maravilhoso e mítico Nacional-Desenvolvimentismo de Vargas, houvessem as Reformas de Base necessárias no Governo de João Goulart. Baseado no sucesso de 1908-1914, JK visava se reeleger em 1965 para focar no campo, tendo em consideração que a grande Reforma Agrária de Jango fosse feita. Esse foco no campo traria os investimentos ferroviários que só estamos vendo atualmente, levando nossa Nação a um pico ainda maior na construção de todos os modais logísticos. Não aconteceu.

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Com o golpe de 1964, os militares tomam outros rumos, em especial o liberal Castello Branco, este sim o responsável pela substituição das ferrovias pelas rodovias em expansão. O foco das ferrovias seria em especial no Nordeste, ignorando o resto das malhas já utilizadas.

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Este não foi bem um abandono, visto que Médici e Geisel retomariam alguns investimentos após o rompimento de Costa e Silva com o projeto de Castello Branco, mas as perdas foram tantas durante os dois primeiros governos que todos os militares concordaram com um desligamento das ferrovias consideradas “ociosas” e “em mau estado”. Os três PNDs falam de retomadas de investimento, mas os focos foram outros, como as não menos importantes rodovias Transamazônica, Cuiabá-Santarém, manutenção da Belém-Brasília e a Perimetral Norte, não as ferrovias.

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No final todos sabemos como acabou a RFF S/A, de JK: após a abertura, Sarney fracassou com seu I PND-NR, Collor se perdeu na própria política econômica pelas pressões já planejadas por Golbery (até provaria, mas não convém), FHC a privatizou e estamos como estamos.

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Curiosamente as ferrovias estão voltando ao cenário Nacional, junto ao grandioso trabalho do DNIT e das nossas Forças Armadas. Este — o ponto logístico em geral, mesmo com a questão ambiental — é o único ponto que tenho a elogiar no atual governo. Poderia ser melhor, mas vai bem:

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Hoje possuímos entre 29mil e 30mil quilômetros de malha ferroviária, quase 90% sob concessão da ANTF, já que o investimento público por si só não daria conta de segurá-la segundo o atual Sistema Financeiro Nacional, políticas econômicas, etc. 31% se encontra em desuso.

Um fato interessante é que o PND (como usam essa sigla!), de Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência da República em 2022, possui um plano para reativar a construção civil e reinvestir nas ferrovias não só para a logística produtiva, mas para mobilidade urbana também. Veja aqui:

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Nem preciso dizer que ele é o principal sucessor dos projetos de JK e Jango, interrompidos pelo golpe de 1964 e substituídos por outro modelo igualmente importante. A mensagem que quero deixar é que todos os modais se complementam: ferroviário, rodoviário, aéreo e marítimo.

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Concluindo: acertou quem votou no Governo JK. Como sempre, Viva a República! Viva o Trabalhismo e o Desenvolvimentismo!

Por Rafael da Fontoura

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