Ameaças à democracia não são blefes, são ameaças!

Ameaças à democracia não são blefes, são ameaças!
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O Estadão, jornal mais respeitado do Brasil hoje, é o mesmo que enviou Euclides da Cunha para cobrir a guerra de Canudos, e publicou em capítulos o que viria a ser uma das maiores obras primas da literatura brasileira: “Os Sertões”.

É este jornal que hoje revelou que o Ministro da Defesa, Braga Netto, usou interlocutor político para fazer uma ameaça: “A quem interessar, diga que, se não tiver eleição auditável, não terá eleição”.

Acontece que não foi uma mera bravata, um blefe, como dizem brilhantes ministros do Supremo. Ao fazer a ameaça, Braga Neto estava acompanhado dos chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. E o recado foi dado simplesmente ao Presidente da Câmara dos Deputados.

Horrorizados, os democratas nacionais em uma só voz reagem às ameaças de uma corporação ao coração do regime democrático: as eleições.

Mas ninguém reagiu quando o mesmo aconteceu mês passado.

Esta crise não começa hoje, mas começa com a absurda e estranha intervenção de um poder sobre outro.

E não, não foi do Executivo sobre o Legislativo.

Foi a intervenção de membros do STF sobre o Legislativo.

No meio de junho, o Estadão publicou uma enquete que mostrava o que todos os que acompanham os trabalhos da comissão do voto impresso já sabiam: a proposta iria passar esmagadoramente pela comissão e depois pelo plenário da Câmara.

Nenhuma novidade, pois o Congresso Nacional já aprovou 3 vezes nos últimos vinte anos a modernização do sistema eleitoral brasileiro, sempre barrada depois pelo Supremo Tribunal Federal.

Então, na última semana de junho, os ministros do Supremo Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes saíram em campo para se reunir com dirigentes de 11 partidos. As “conversas” reverteram a tendência de aprovação do voto impresso na Câmara.

Membros da comissão foram substituídos por parlamentares ligados aos presidentes dos partidos, parlamentares esses que sequer acompanharam todos os trabalhos da comissão e dos especialistas em segurança eleitoral que lá passaram.

Mas é aquilo: quando um militar ameaça é “ameaça”, mas quando um juiz do Supremo que tem poder de vida e morte sobre todos os aspectos da vida eleitoral e civil de um deputado sai da toga para fazer lobby, ele só “conversa”.

Democratas já deviam saber que tirar toda a legitimidade do discurso do adversário é tirar o adversário para bailar numa guerra.

Não, a demanda pelo voto auditável não é uma só uma estratégia golpista, mas é também uma demanda histórica de vastos setores da sociedade.

Os militares conhecem intimamente o processo eleitoral brasileiro, assim como os deputados. Qualquer pessoa que tenha assistido TODOS os especialistas que passaram pela comissão sabe que eles consideram o sistema brasileiro frágil.

60% dos brasileiros desconfiam de seu sistema eleitoral, querem uma eleição auditável, mais segura, transparente e que permita recontagem dos votos. Mas a resposta da mídia liberal, regida pelo STF, é sempre afirmar que o sistema já é auditável, mesmo sabendo que não é auditável nos aspectos essenciais, que não é auditado nos que pode ser, e que contraria todas as recomendações de segurança adotadas em todos os países do mundo que usam urnas eletrônicas. Com exceção de… Bangladesh e Butão.

Em vez de desmontar a ameaça golpista e de retirada de legitimidade das eleições por Bolsonaro simplesmente aprovando a modernização do sistema como é feito em todo mundo civilizado (e deixando a disponibilização dos recursos para implantação do sistema nas costas dele), a esquerda optou por dar um cavalo de pau em sua luta histórica pelo voto impresso e dizer que o sistema atual é… “seguro e auditável”.

Ao contrário do que diziam os gênios que defenderam esse cavalo de pau, isso só alimentou e escalou o discurso golpista.

Mas o pior certamente foi o que fizeram membros do TSE e STF, que jamais deveriam legislar ou fazer política, nem deveriam estar tão interessados assim em impedir a modernização do sistema eleitoral. Deviam se ocupar somente de interpretar e fazer cumprir as leis que o Congresso faz.

O que esses juízes fizeram também foi um atentado à democracia.

E se o “supremo guardião da constituição” pode atacá-la, os militares também se sentiram à vontade para isso.

Ameaça à democracia não é brincadeira, é ameaça.

Venha de onde venha.

Agora, poderia dizer que quem pariu Matheus que o embale.

Mas todos nós vamos ter que embalar essa criança.