O amadorismo dos criminosos na política brasileira

Fabrício-Queiroz CESAR BENJAMIN O amadorismo dos criminosos na política brasileira flávio bolsonaro
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Uma coisa continua a me impressionar nessa sequência de vários anos que une política e criminalidade no Brasil: o amadorismo dos criminosos.

O tal capitão Adriano era tido como grande profissional, mas alugou uma casa num resort para passar o aniversário com a mulher e as filhas, que, é claro, estavam sendo monitoradas pela polícia.

Escondido, o Fabrício Queiroz mandava fotos e trocava mensagens fúteis com a mulher, usando telefone celular.

Operações de busca e apreensão em residências continuam a obter provas importantes, inclusive planilhas e listas de contatos, contra pessoas notoriamente investigadas há muito tempo.

Para mim, tudo isso é incompreensível.

Vivi clandestino durante mais de três anos durante a ditadura militar, que contava com um meio de investigação terrivelmente eficaz, a tortura. Um meio que, se fosse usado hoje, como sempre defendeu o nosso presidente, esclareceria qualquer coisa em dez minutos.

Durante os anos de clandestinidade:

* nunca usei telefone nem enviei cartas;

* nunca mantive qualquer contato com família e amigos da época em que tinha vida legal;

* morei em dezenas de lugares diferentes, com nomes diferentes, sempre com boa documentação;

* não anotava absolutamente nenhuma informação; levava tudo na cabeça;

* não conduzia comigo sequer as chaves dos locais onde dormia;

* meus contatos não conheciam a minha identidade, e vice-versa; nos encontrávamos em locais públicos, usando senhas, e nunca sabíamos onde o outro morava; o tempo de tolerância em qualquer encontro marcado era de cinco minutos; o não comparecimento a um encontro (“ponto”) e ao subsequente “ponto de segurança” gerava medidas imediatas de recuo, pelo risco de que alguém tivesse sido preso;

* a volta para casa era feita sempre com manobras de despistamento;

* nunca ficava na rua depois de 22:00 horas;

* nunca bebia bebidas alcoólicas;

Resistimos assim durante anos, em diferentes organizações. Muitos acabaram sendo presos ou mortos, mas quando a ditadura caiu, na década de 1980, bastante coisa ainda funcionava.

Fico impressionado com o amadorismo do crime no Brasil atual.

Por César Benjamin