Aldir, Elis e o Brasil que não foi

Aldir, Elis e o Brasil que não foi
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Na gravação única de “O bêbado e a equilibrista” por Elis Regina, o “Hino da Anistia” em 1979, a esperança e a melancolia são sentimentos que se mesclam em épocas diferentes.

Inspirado na melodia de “Smile”, o samba de Aldir Blanc e João Bosco reanimou Carlitos, o palhaço de Charlie Chaplin, e se fantasiou por inteiro do cenário circense nos arranjos de Cesar Camargo Mariano. No clima chapliniano, ecoa suave a vinheta instrumental que inicia e que encerra a faixa de Elis. São 30 segundos, no começo e no fim da faixa, de notas musicais tocadas no acordeom que parecem desvelar na escuridão uma janela perdida, mas cada vez mais próxima e visível, por onde passa um facho de luz. São 30 segundos de sutileza, ressoando feito a brisa da esperança do fim da ditadura militar e início da redemocratização do país.

Aldir, Elis e o Brasil que não foi

Mais de 40 anos da versão imortal do hino de Aldir Blanc, os mesmos arranjos são a nostalgia que não aconteceu. A delicadeza daquela melodia permanece por igual – o humanismo chapliniano também é imortal –, mas agora encarna uma melancolia pungente. Virou o réquiem de todos os sentimentos que habitaram a alma e o coração dos que sonhavam com “a volta do irmão do Henfil”. Aquela brisa de esperança de 1979, ventilada devagarinho nos segundos dessa vinheta instrumental em forma de realejo, é um sopro do passado.

No tempo presente, a versão de Elis para o samba de Aldir Blanc adquire um sentido trágico: o lamento por um Brasil que não foi.

Por Gabriel Deslandes