Alan Turing e a Rainha Elizabeth

Alan Turing e a Rainha Elizabeth
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Por Cesar Benjamin – A morte da Rainha Elizabeth trouxe de volta a memória do matemático e lógico Alan Turing, pai da computação moderna, autor de uma importante obra teórica, mas mais conhecido por seu papel na quebra dos códigos alemães durante a Batalha do Atlântico, na Segunda Guerra Mundial.

O trabalho de Turing foi decisivo. Graças a ele, a Inglaterra conseguiu decifrar as mensagens que usavam as máquinas Enigma, o que decidiu os rumos da Batalha do Atlântico. O código alemão era considerado inviolável, pois a configuração de cada máquina era trocada todos os dias e permitia bilhões de combinações. Turing tinha pouco tempo para encontrar a configuração que estava sendo usada em cada dia, um trabalho praticamente impossível. Isso exigiu o desenvolvimento de técnicas excepcionalmente engenhosas, que incluíram a construção de uma gigantesca máquina de calcular, praticamente um protocomputador.

Em princípio, todo código pode ser decifrado, pois não existe um procedimento de codificação irreversível (que, aliás, não teria sentido). A segurança total exigiria que se chegasse a uma sequência completamente aleatória de signos, sequência que não poderia ser reconhecida como informação. Isso é impossível. Partindo de alguma ordem, nenhuma complicação obtém uma sequência de signos em completa desordem. As mais refinadas técnicas de codificação tentam simular o acaso, imitar a completa falta de sentido, sem que essa meta possa ser alcançada. A segurança de um código se mede pelo tempo necessário para a sua decifração; se esse tempo for extenso demais, o código, na prática, é indecifrável.

O que Turing conseguiu foi quebrar os códigos alemães praticamente em tempo real, para que o Estado Maior inglês tomasse suas decisões, muitas vezes dramáticas. Os alemães chegaram a perceber que havia algo errado e tomaram mil e uma providências para eliminar falhas e espionagens, mas não admitiram que o sistema Enigma estava sendo violado. Isso se deveu ao frio profissionalismo dos oficiais ingleses, que não usavam todas as informações que a equipe de Turing lhes repassava. Decidiam criteriosamente quais navios e quais tropas seriam deixados à própria sorte, para morrer, e quais seriam salvos, para que os alemães não percebessem que todas as suas mensagens estavam sendo lidas.

Depois da guerra, foi ficando claro que o serviço secreto inglês estava infiltrado em alto nível pela inteligência soviética, o que gerou um clima de paranoia. Turing tornou-se um alvo, por sua capacidade de quebrar códigos. Nesse contexto, o serviço secreto inglês usou sua condição de homossexual para conseguir condená-lo à prisão, com base em uma lei da época da rainha Vitória, a mesma lei que havia permitido a condenação de Oscar Wilde.

Preso e forçado a tomar injeções de hormônios, Turing, humilhado, suicidou-se em 1954, com apenas 42 anos de idade, ingerindo uma maçã envenenada. Era inocente. Deixou um legado inestimável à humanidade, pela derrota do nazismo, e à ciência da computação.

Por Cesar Benjamin