Por Zé Ribeiro e Leonardo Aragão – O mundo do futebol ficou em polvorosa com o anúncio da criação de uma Superliga envolvendo 12 entre os maiores clubes do planeta, que aguardam a adesão de outros três para iniciarem o torneio de maior rentabilidade financeira do planeta, na palavra dos envolvidos.
O novo torneio, que substituiria a Liga dos Campeões da UEFA, hoje a principal competição de clubes do mundo, provocou a fúria de inúmeros dirigentes de confederações esportivas, jogadores e torcedores. A ausência de mérito para a disputa do campeonato, algo presente em todas as ligas continentais, e a exclusão da possibilidade de equipes de menor expressão terem a chance de desafiarem os maiores campeões de todos os tempos, revoltou e até irritou milhões de pessoas mundo afora, inclusive fora da Europa.
Além do aspecto desportivo e da óbvia ganância dos clubes (e de seus proprietários), é importante apontar elementos que têm sido desconsiderados no debate público acerca da criação da Superliga neoliberal europeia, inflada por investidores estadunidenses que querem transformar o futebol em cópias rentáveis da NBA e outras megacompetições dos EUA.
O primeiro ponto é que se hoje o futebol europeu representa tanto para o desenvolvimento do esporte, concentrando os principais atletas e os clubes mais ricos do planeta, é porque conta com uma “cadeia produtiva” que movimenta e torna os campeonatos com nível técnico alto e competitividade intensa.
Os clubes grandes são de fato os que recebem mais atenção, audiência e dinheiro. Mas há uma série de clubes médios e pequenos que são fundamentais para movimentar os campeonatos, encorpando os times para as fases finais.

Se tais torneios são tão charmosos, atrativos e sucessos absolutos de público e renda, assistidos por bilhões de pessoas, é porque há uma luta imensa para qualificação a essas competições de elite.
Os campeonatos nacionais, as copas, e as divisões de acesso cumprem um papel singular de formação e revelação de atletas. Os clubes de porte nacional, mas também os regionais e até semiprofissionais, que disputam divisões bem menores dos seus respectivos países, disputam copas onde enfrentam por alguma sorte do destino camisas pesadas da Europa. As ligas nacionais classificam para as ligas continentais que estão no topo da pirâmide. Justamente por ser o topo, porque você sobe e chega lá.
As federações e as seleções também entram na equação pois transformam os jogadores em ídolos mundiais. Estes mesmos jogadores que são revelados em jogos pelas ligas nacionais em qualquer clube ou divisão, e geralmente brilham na Champions League como parte desse caminho rumo ao estrelato.
Toda esta cadeia produtiva fez do futebol europeu o que ele é. Você dá sua contribuição e recebe algo em troca.
A Superliga quer acabar com essa magia, essa competição que move o futebol e faz você lutar para chegar ao topo. Seus 12 signatários querem fechar um clubinho só para receber benesses que foram construídas com o suor deles, de clubes médios e pequenos. Sem contribuir para a cadeia produtiva como um todo.
A UEFA, em que pese não ser uma entidade de histórico ilibado (assim como vários clubes europeus não o são, mesmo entre esses 12 proponentes da Superliga) está correta em organizar uma reação visando a proteção do futuro do futebol europeu, mas que gera impactos profundos no futebol mundial. É preciso combater esta ação tipicamente rentista que em troca de lucro rápido deseja matar a cadeia produtiva que os gerou, bem como a paixão pela competição que elevou o futebol a ser esse esporte fantástico.
Por Zé Ribeiro e Leonardo Aragão