Neste 21 de abril relembro o artigo “21 de abril decalcado“, pra mim, é um dos melhores do Disparada. Adiciono ao “devaneio meio cabalístico meio histórico de personagens” a perda de Nelson Pereira dos Santos, a figura mais importante do Cinema Nacional, que também faleceu nesta data.
Papel decisivo para a formação do Cinema Novo, Nelson deu ao cinema brasileiro o brilhantismo e a ousadia de ser cinema na periferia, inspirando tantos cineastas, tantos brasileiros, na pretensão de acreditar.
Da missão de reafirmar o Brasil no imaginário nacional e até internacional pela estética cinematográfica, Nelson revolucionou em plena década de 50, quando o Brasil vivia a frustração experiencial do cinema indústria, criando seus “Rios” 40 Graus (1955) e Zona Norte (1957).
Nelson devorou a rica literatura brasileira. Transformou a palavra escrita em estética quase antropofágica: era o Cinema Novo. Foi nesse período, de pré e durante a chamada Época de Ouro do Cinema Brasileiro, principalmente em virtude da criação da Embrafilme, que Nelson eternizou “Vidas Secas”, “Tenda dos Milagres”, “Memórias do Cárcere” e “Jubiabá”, dos grandiosos Graciliano Ramos e Jorge Amado.
Muito além da literatura e do roteiro adaptado, Nelson construiu um cinema contado de histórias próprias, de uma genialidade celebrada por um brasileiro que via seu tempo e entendia a importância de o eternizar em memórias a partir da arte que é a cinematografia.
O pai do Cinema Moderno brasileiro conclui sua filmografia com o essencial “A Música por Tom Jobim”, elevando a potência do maestro soberano para contar aos brasileiros de sua geração – e daqueles que ainda viriam, como Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim foi ouvido e regravado, através de Garota de Ipanema, chegou a ser a canção mais ouvida no mundo. A canção foi ultrapassada, em 2012, apenas pelos Beatles, com “Yesterday”.
Foi essa a potencialidade atingida pela cultura brasileira. Nelson a engoliu e tornou mais. Graças a seu majestoso cinema, ele aqui fica.