A Venezuela resiste à segunda ofensiva golpista e os traidores estão fugindo

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Juan Guaidó e Leopoldo López, com apoio dos EUA, tentaram uma segunda ofensiva golpista na Venezuela e fracassaram miseravelmente. Após o primeiro fracasso de meses atrás com a provocação nas fronteiras através da falsa “ajuda humanitária” organizada por Colômbia e EUA, dessa vez Guaidó cooptou alguns poucos militares golpistas, libertou o criminoso condenado, Leopoldo López, e juntos tentaram uma verdadeira insurreição armada. Acabou a hipocrisia e a tentativa de desestabilização por guerra híbrida, tentaram um golpe armado ou o desencadeamento de uma guerra civil. Essa segunda possibilidade ainda não é descartada. Mas por enquanto, o governo legítimo está sendo vitorioso, López fugiu para a embaixada chilena e pediu asilo, e alguns militares golpistas de baixa patente fizeram o mesmo na embaixada brasileira.

O dia amanheceu com os golpistas libertando López, chamando o povo às ruas e tentando tomar militarmente uma base aérea. Roubaram alguns carros blindados, armas e munições, e organizaram ações armadas contra pontos importantes da capital Caracas. A ação militar golpista foi fraquíssima, limitou-se a incendiar alguns blindados do governo, não conseguiu tomar nenhum ponto estratégico, nem mobilizar manifestações massivas. O Palácio Miraflores, sede do governo, onde segundo informações da imprensa ficou o presidente Nicolás Maduro, foi cercado e protegido pela Guarda Nacional Bolivariana e os coletivos populares chavistas. Dessa vez não haveria possibilidade de sequestro do presidente e tomada do palácio. O governo reagiu com surpreendente sangue frio. Diante da fraqueza do golpe poderia ter massacrado os traidores insurretos, mas ficou apenas na defensiva protegendo suas posições e controlando os pequenos focos de manifestações da oposição. Diante de ataques com coquetéis molotov reagiram com jatos d’água.

A repercussão no Brasil é absolutamente hostil à soberania do país vizinho, mas não consegue esconder o fracasso do golpismo da oposição. A Globo, não é preciso explicar o porquê, passou o dia denunciando a “violência da repressão” diante de imagens de manifestantes tacando bombas e incendiando carros blindados do governo. Quando a Globo começa a chamar manifestantes de terroristas? Acho que a “análise” da mídia brasileira não tem nada a ver com métodos de manifestação e luta, mas com o alinhamento aos EUA ou aos Estados soberanos periféricos. Ao final da tarde, o clima no noticiário é melancólico com seus comentaristas lamentando que a insurreição não conseguiu atingir os seus objetivos, e que seus líderes começam a fugir.

O governo brasileiro, apesar de pronunciamentos golpistas do presidente Bolsonaro ou do chanceler Ernesto Araújo, praticamente não joga papel na mediação do conflito venezuelano. O vice-presidente Mourão deu uma declaração tida como “polêmica”, mas que é uma constatação bastante realista: “Ou Maduro sai do governo, ou Guaidó vai preso.”. Parece algo hostil ao governo Maduro, mas na verdade mostra a compreensão implícita do general aposentado brasileiro de que Guaidó tentou um golpe armado contra o governo de seu país. O vice brasileiro ainda reconhece a gravidade da radicalização oposicionista na Venezuela ao afirmar que não há mais pontes de diálogos entre governo e oposição para uma solução negociada.

Diante desses fatos fica claro que o governo tem uma correlação militar sólida de defesa de seu Estado nacional. Em 2002, os golpistas conseguiram tomar o Palácio Miraflores e sequestrar o presidente Hugo Chávez. A reação social e popular foi fortíssima, o que permitiu que os militares legalistas retomassem o palácio e exigissem a devolução do presidente do país. A ligação do general Raúl Baduell para os golpistas é um momento heroico e cinematográfico da história venezuelana, relatado por Bob Fernandes:

“-Meu general, eu não negocio. Eu me apego à Constituição. O presidente Chávez me garantiu que não renunciaria, e eu acredito nele. E, se ele renunciasse, o vice-presidente é quem deveria tomar posse. Vocês golpearam o presidente, isso é um golpe de Estado. Meu general, se vocês não devolverem o presidente Chávez vivo, faltarão postes na Venezuela para pendurá-los…”

Um país que sobrevive dessa forma a um golpe militar orquestrado pelos EUA tem em sua história um momento fundante e impossível de ser apagado das estruturas de seu Estado nacional. Essa experiência garante coragem, mas também frieza e inteligência para seus líderes resistirem. A oposição por sua vez também se reinventa. Leopoldo López é um perigoso reacionário traidor de sua pátria que conseguiu fugir. Guaidó é um jovem político liberal que aceitou ser uma marionete dos EUA. Se a correlação militar ainda é muito sólida, a correlação econômica e social é decadente, como demonstrou Igor Fuser em artigo por ocasião da primeira tentativa de golpe de Guaidó. Pelo jeito, os EUA e os golpistas tentaram o golpe militar sabendo dos altos riscos de derrota, mas a fuga de López é importante para o longo prazo, no qual a aposta numa guerra civil parece ser o horizonte estratégico dos EUA que não pretendem enviar fuzileiros navais para um Vietnã maior e mais armado, e com ajuda da Rússia.