VAZA-JATO: A questão “VEJA” e outras histórias

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Na manhã desta sexta-feira (5) a revista VEJA publicou a primeira grande reportagem de sua parceria com o Intercept, revelando as gravações de conversas escusas entre o juiz Sérgio Moro e membros da força tarefa da Lava-jato. Nesta reportagem, VEJA e Intercept confirmaram o que já se via nas últimas semanas. Moro e o MP atuaram conjuntamente para prejudicar a defesa dos envolvidos na Lava Jato.

A revista VEJA, publicação que ajudou a criar o mito do Juiz Moro, se rendeu aos fatos da parcialidade do juiz de Curitiba, que galgou o cargo de ministro da justiça às custas do Estado Democrático de Direito.

Falência

A Revista Veja é o principal produto da empresa Abril Comunicações, originalmente da família Civita. A Abril, antes somente editora, foi um dos projetos editoriais mais bem sucedidos do Brasil. Até o final dos anos 90.

Num surto megalomaníaco, resolveu apostar tudo no programação de TV fechada, cabeando o Brasil inteiro com fibra ótica. O investimento foi tanto que todos os funcionários “emprestaram” dinheiro a empresa, tendo seus salários “retidos” por alguns meses. Um sistema de capitalização digno do clã Civita.

A internet veio e os lucros da TV fechada no Brasil diminuíram cada vez mais. A Abril persistiu no erro e acabou tornando-se extremamente obtusa frente a tecnologia que mataria anos depois.

A editora demorou anos para se adaptar ao mundo digital. Depois dos altos custos com a TV a cabo, perdeu a capacidade de investimento. O resultado foi catastrófico: uma queda de vendas de mais de 70% e a perda de relevância no debate público nacional. O fechamento de revistas tradicionais como “Superinteressante” já davam sinais claros do que viria a seguir. O império colapsava.

Em 2015 a empresa é obrigada a deixar metade de seu tradicional prédio na Marginal Pinheiros. O bunker dos Civita agora seria dividida com seguradoras e corretores de imóveis.

Em 2018 a empresa entra em recuperação judicial e no mesmo ano é comprada pelo advogado Fábio Carvalho. Fábio, de quem falaremos melhor em breve, assumiu as dívidas da empresa paulista (R$1,6 bilhões) e pagou à família Civita a quantia de 100 mil reais. O preço de um apartamento “sala e cozinha” no interior.

O novo chefe

Fábio Carvalho é conhecido por assumir empresas falidas e reergue-las-las com renegociações, demissões e empréstimos gentis de seus amigos banqueiros. É um empresário bem sucedido e bem relacionado.
Para a compra da Abril, Fábio contou com a ajuda de seu amigo de longa data, André Esteves, outrora preso injustamente pelas mãos do juiz Moro. Esteves comprou os títulos podres da Abril e emprestou 70 milhões para que a empresa tivesse capital de giro. Quem tem amigo não morre pagão.

A repercussão

Antigos membros do corpo editorial da revista tremeram com a chegada da dupla Carvalho/Esteves. Durante as negociações de venda, trataram de plantar notícias nos veículos de seus ex-colegas, os Antagonistas Diogo Mainardi e Mário Sabino.

“O Antagonista” e sua revista “Crusoé” são a dissidência da antiga VEJA dos anos 2000. O antipetismo vulgar e o jornalismo irresponsável são marcas dos veículos, que atuam em sociedade com a consultoria “Empíricus”, mais conhecida como a “empresa da Betina”.

Sabino, ex- redator chefe de VEJA, era conhecido por sua arrogância e por seus episódios cômicos. Na ocasião do lançamento de seu romance, mandou um sobordinado da sessão de literatura fazer uma resenha elogiosa. O resultado foi uma comparação com Machado de Assis e outros nomes que passam longe do parco talento literário de Sabino.

Os “Antagonistas” fizeram uma campanha aberta contra a compra da VEJA acusando inclusive a revista de se tornar “petista” após a aquisição de Carvalho.

A reestruturação

Carvalho, ao assumir o controle da empresa, fez questão de retirar de postos chave os que eram mais leais aos Civita. Colocou o carreirista Maurício x, antigo colunista do Painel, na chefia executiva e dois redatores-chefe com opiniões opostas. Os redatores,Fábio Altman e Policarpo Júnior, se diferem em quase tudo. Altman é filho de militantes comunistas e irmão de Breno Altman, porta voz petista. Policarpo já foi indiciado por ligação com Carlinhos Cachoeira e é notório antipetista, tendo sido processado inúmeras vezes pela claque do Partido dos Trabalhadores.

Em breve esta coluna abordará as decisões políticas que levaram a VEJA ao colapso e os bastidores da reportagem da capa desta semana, sobre os vazamentos da Lava Jato.