Tabata Amaral: Da Esperança à Frustração

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Senti a necessidade, enquanto militante do PDT de São Paulo e eleitor da Tabata Amaral, de falar sobre toda a celeuma que a figura dela causou no campo progressista e no próprio partido desde a eleição, do meu ponto de vista. Na verdade, pensei em fazê-lo desde a votação da reforma da previdência, mas acredito que agora, com o anúncio de que a deputada pedirá na Justiça Eleitoral o seu mandato visando a sua saída do PDT, ser o momento ideal, de um fechamento de ciclo. Como falei, a visão que trarei aqui é a de um eleitor e militante, até porque o “caso Tabata”, do ponto de vista de um dirigente, já foi brilhantemente apresentado aqui nesse portal pelo companheiro Gabriel Cassiano, presidente da nossa juventude em São Paulo. Então, vamos lá.

Antes de mais nada, é importante frisar que o entusiasmo com a candidatura da Tabata foi genuíno para um número considerável de colegas progressistas, não era uma coisa só de eleitores do Ciro. Teve muito eleitor do PT e do PSOL considerando-a como opção para o voto de deputado federal. E não era pra menos, a narrativa era incontestavelmente sedutora: jovem da periferia, que somava um histórico familiar trágico a uma incrível história de superação pela via escolar. A garota da periferia de São Paulo que estudou em Harvard e decidiu fazer da Educação um meio de vida para transformar a realidade de outros jovens como ela. Ela tinha conhecimento de causa, havia estudado o caso de sucesso da Educação de Sobral, e de quebra, tinha discutido astrofísica com o Ciro em uma das passagens desse pelos EUA.

Era plenamente justificável se entusiasmar, e é importante frisar isso agora que chegamos ao momento da turma do “eu avisei!”, ainda que nos meus círculos, ao menos, tenham sido a minoria desde sempre. Talvez esse entusiasmo que tomou conta de mim e de muitos colegas tenha relação com uma certa visão marxista presente na nossa formação, nesse caso distorcida e romantizada, que acredita que a consciência de classe tem relação direta com a origem de classe. Nada mais equivocado da nossa parte, e os acontecimentos foram implacáveis ao deixar isso muito claro.

Eu, que ainda nem era do PDT, fiz campanha pra ela em entrada de metrô, distribuí “santinho” e tudo. Lembro que na véspera do primeiro turno estava lá na Avenida Paulista, panfletando para o Ciro e balançando a bandeira da campanha, ao lado do MASP, quando uma van apareceu, subiu na calçada e quase me atropelou! Adivinhem: era a van da campanha dela, e a própria saiu de dentro do carro, trocamos 3 ou 4 palavras, me lembro dela falando que aquele era o quinto ponto da cidade no qual ela estava indo panfletar e conversar com a população. Desejei boa sorte e cada um seguiu o seu caminho. Literal e metaforicamente falando.

Depois da eleição, já no PDT, vi a agora deputada Tabata algumas vezes em atividades do partido. Particularmente participei de duas, uma na sede trabalhista e outra na ALESP (Assembleia Legislativa de São Paulo). Nesse momento, já era comum escutar a reclamação de muitos companheiros do partido, principalmente das lideranças de movimentos, quanto a falta de acessibilidade da deputada. Ali já parecia haver uma blindagem por parte da assessoria a todas as pessoas do PDT. Me lembro que nessa época algumas atitudes já incomodavam: o alinhamento dela ao Acredito, movimento de “renovação política” do qual ela é dirigente, no reconhecimento de Juan Guaidó como presidente da Venezuela, posicionamento contrário ao do PDT. E o famigerado Gabinete Itinerante da deputada, que jamais fez sequer uma referência ao fato dela ser do PDT. Sempre foi algo apresentado de forma completamente individualizada, autoconstrução pura e simples, o que hoje, a luz dos acontecimentos, faz bastante sentido.

Tudo isso só piorou depois da cena com o ministro Vélez Rodríguez no Congresso. Ali me pareceu um ponto de inflexão na relação com o partido, definitivamente. Dali em diante, a deputada se tornou de vez uma figura inacessível para as bases do PDT em São Paulo. Nesse sentido, houve apenas um contato bastante precário com as companheiras da AMT (Ação da Mulher Trabalhista), algo muito claro para todos no partido, uma vez que as ações do Acredito, por exemplo, sempre tiveram muito mais visibilidade nas redes sociais e nas falas da deputada do que as ações do movimento feminino do PDT. Aliás, o movimento por 50% de candidatas mulheres para a eleição do ano que vem continua de vento em popa no partido, diferente do que a deputada afirmou no Roda Viva de hoje (14/10). Quanto aos outros movimentos que a procuraram, esses foram simplesmente ignorados.

É importante frisar essa questão da construção partidária, já que na entrevista a deputada afirmou que estava “construindo o PDT” e promovendo mudanças dentro do partido. Posso afirmar com muita tranquilidade que, sinceramente, nunca presenciei tal construção por parte dela. Que “construção” é essa que sempre ignorou as bases? Que renovação é essa que prega “mais democracia” das instâncias partidárias, mas se dá apenas em espaços fechados? Aliás, reclamar da democracia interna do PDT tendo direito a voz e voto em todas as instâncias, além de ter sido eleita vice-presidente estadual do partido em São Paulo, e ter sido lançada como pré-candidata à prefeitura da capital é, no mínimo, incongruente. Espaço, definitivamente, não faltou.

Mas enfim, voltando ao meu relato. Apesar das ambiguidades da deputada Tabata Amaral, sempre a defendi por disciplina partidária, afinal de contas, eu respeito tudo que é deliberado coletivamente e de forma legítima pelo meu partido, porque é assim que a política deve ser construída, de forma democrática e não individualista. Só eu sei quanto tempo e energia eu gastei defendendo a nobre deputada. Batendo o pé de que ela iria votar junto com o PDT contra a reforma da previdência, até porque, até a véspera da votação essa era a indicação em todas as entrevistas e falas dela.

Mas aí veio o “sim”, e pior, um vídeo bastante desonesto por parte dela justificando o tal voto, atacando o PDT, e chamando todo mundo que votou “não” de “eleitoreiro”. Atitude baixa e vil, no mínimo. Nesse momento, fez sentido a ausência dela no Seminário Popular sobre a Reforma da Previdência que promovemos com o Ciro em Heliópolis. Ela estava confirmada e não apareceu, mandou representante, sabendo que iria votar “sim” poucos dias depois. O que dizer dessa atitude? E aqui vale ressaltar que a narrativa da deputada, sobre a reforma que passou ser parecida com a apresentada pelo Ciro e o PDT na campanha, também falta com a verdade. Depois do estelionato eleitoral da Dilma em 2014 eu achava que não teria outra decepção tão grande na política. Estava enganado.

Aliás, preciso frisar aqui também, que é o cúmulo da falta de respeito e gratidão o que a Tabata vem fazendo com o Ciro e com a militância do PDT de São Paulo desde a votação da reforma, falando aos quatro ventos que a eleição dela “não dependeu de ninguém” e nem de partido nenhum. É um tapa na cara de todo mundo, e é uma obviedade que ela dificilmente teria a votação que teve sem o apoio do Ciro e da nossa militância. Falta humildade a ela para reconhecer o óbvio, inclusive.

Enfim, meu relato seguiu a linha da minha experiência enquanto eleitor da Tabata e militante trabalhista: da esperança à frustração. Queria encerrar afirmando algo muito importante, principalmente nesse momento: tenho muito orgulho da direção do PDT de São Paulo, das nossas lideranças, que vêm comandando uma reconstrução fantástica do partido aqui na cidade e no estado, junto a uma militância qualificada e aguerrida. O PDT de São Paulo, na sua História, nunca teve a qualidade e o protagonismo que tem hoje, e isso deve ser ressaltado sempre. Entrar no PDT há um ano foi uma das decisões mais acertadas que tive na vida, sem sombra de dúvidas.

Dito isso, acredito que cabe a qualquer dirigente partidário sempre buscar os melhores quadros para comporem as suas fileiras, e é impossível dizer que a Tabata não era um grande quadro que se apresentava para a política naquela conjuntura de 2018. Apostas são sempre imprevisíveis, as vezes dão certo, às vezes dão errado. Faz parte do jogo. O que importa é o aprendizado que fica para todos nós e a certeza de que não faltarão quadros verdadeiramente trabalhistas para levar adiante as bandeiras de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e tantos outros, em defesa da Educação, da soberania nacional e da defesa dos trabalhadores, com vontade, e acima de tudo, coerência.

  1. Professor, excelente artigo. Define com lhaneza a nossa decepção qto á jovem deputada. O tempo se encaregará de escrever o epílogo da história de Tábata. Q ela encontre o seu caminho na política. Porém, como dizia o gde Brizola “a política perdoa a traição, mas não perdoa os traidores”.

  2. Excelente texto!
    Bom conhecer o comportamento dela dentro do partido (queria “estar nele” sem “estar com ele”).
    Decepções e surpresas fazem parte da vida.
    Quem, não tomado pela ira, previa que Marina Silva fosse apoiar Aécio no 2º turno de 2014?
    Quem, não determinado a torcer contra, sabia que Dilma nomearia Joaquim Levy Ministro da Fazenda em 1º de janeiro de 2015?
    Digo com tranquilidade: se morasse em São Paulo, também teria votado na Tábata.
    Agora no más!

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