O populismo e a participação da plebe na política

Pra ocupar o espaço de Lula [e também de Bozó, que seduziu grande parte das classes populares], um candidato tem de aceitar ser o Imperador do povão, o César de nossa plebe, o Brizola de nosso tempo. Deixem os aplausos da USP e dos centros acadêmicos pro Haddad.
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Getúlio Vargas e Brizola foram populistas. Uso o termo não no sentido negativo e pejorativo que liberais e a intelectualidade uspiana lhe conferiram. Mas pra apontar a capacidade que possuíam de se ligar diretamente às classes populares e aos despossuídos, em uma relação quase pessoal de confiança e lealdade.

Essa ligação direta tornava secundários partidos políticos e outras instâncias de intermediação da democracia burguesa. E isso pra horror da classe média liberal, pois retirava o processo político-eleitoral de seu controle, aumentando a importância dos pobres, daqueles setores sociais sem organização efetiva.

Daí o esforço perene do establishment para fortalecer os sistemas de controle na mídia, universidades, sindicatos autônomos, benção dos agentes do mercado etc. Era necessário combater o “populismo”, o que significava, no fim das contas, domesticar o processo eleitoral e diminuir o peso da opinião popular.

Pra mentalidade burguesa, a mediação das instituições liberais é sempre necessária a fim de evitar os riscos implicados na “democracia”. Na verdade, democracia seria apenas aquele sistema em que a população daria aval às escolhas já mediadas pela verdadeira “opinião pública”.

O povão quer sair às urnas não pra aderir a um programa político-partidário mas para coroar um Rei em quem confie, para aclamar um novo César. Para a mentalidade burguesa, nada pode ser mais bárbaro. Assim como o Senado Romano, ela repete, com desprezo: “a plebe, a plebe…”

A grande vantagem de Brizola sobre seus concorrentes é que ele conseguia se comunicar com os setores mais pobres, o “lumpem”, as camadas desorganizadas. Já a nova esquerda dependia mais do novo sindicalismo, de organizações camponesas, do apoio do funcionalismo público, da visibilidade na classe média com culpa burguesa.

Lula pode ter vencido Brizola em 1989 por apenas meio por cento dos votos, mas perdeu para Collor, o candidato dos “descamisados”. Enquanto o petista conseguia arrebatar as camadas urbanas dos grandes centros — e as classes populares fiéis a Brizola e que transferiam praticamente 100% de seus votos para o “sapo barbudo” –, Collor era carregado nos ombros pela “Ralé”.

Aliás, Lula só alcançou sua dimensão atual por ter se tornado um populista. O lulismo ficou maior do que o PT. O sapo barbudo atrai a confiança pessoal dos pobres, já o ”partido dos trabalhadores” atrai a militância de DCE universitário e os líderes da CUT.

Pra ocupar o espaço de Lula [e também de Bozó, que seduziu grande parte das classes populares], um candidato tem de aceitar ser o Imperador do povão, o César de nossa plebe, o Brizola de nosso tempo. Deixem os aplausos da USP e dos centros acadêmicos pro Haddad.

Por: André Luiz Dos Reis.