O messias dos crédulos ressentidos

bolsonaro GUSTAVO CASTAÑON O messias dos crédulos ressentidos
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Quando a Alemanha viu a ascensão do nazismo, vivia o pior desemprego e hiperinflação de sua história. Hitler acabou com o desemprego e levou o país aos anos de mais acelerado desenvolvimento já vistos. Essa era a raiz de sua popularidade antes da tomada de Paris.

Quando o Brasil elegeu Bolsonaro, não havia inflação e o desemprego não era o maior da história. Hoje vivemos o pior desemprego, a pior recessão, e a pior situação da pandemia no mundo. Bozo é um retardado que não entregou nada do que prometeu e coloca a culpa no Congresso, nos Governadores, na Imprensa, no mundo. Qual a raiz de sua popularidade?

Se não descobrirmos exatamente quais são as raízes dessa popularidade invulnerável à sua imbecilidade, maldade e incompetência manifestas, será difícil sairmos desse pesadelo.

Eu tenho uma hipótese sobre o que seria a principal (e é claro que não a única) delas. Da minha limitada experiência pessoal, infiro que, se você conversa com bolsonaristas, conversa mesmo, vê que depois de um tempo aparece um componente religioso na adesão dele a Bolsonaro.

Os líderes bolsonaristas, como sociopatas inescrupulosos que são, criaram versões míticas de Bolsonaro para as principais correntes religiosas brasileiras. Há o Bolsonaro que continua católico devoto, há o Bolsonaro “messias” evangélico que se batizou no Jordão, há o Bolsonaro “homem no cavalo branco do Chico Xavier” do espiritismo reacionário brasileiro.

Para um devoto, reconhecer que Bolsonaro é só um imbecil ou, ainda pior, que é um psicopata imbecil, agora, significa reconhecer que sua igreja ou seu centro é uma arapuca, e seu pastor ou médium um farsante.

Porque ou o seu pastor disse que recebeu do Espírito Santo a indicação de apoiar o “Messias” na luta contra a “gayzificação” e “esquerdização” da sociedade, ou o médium do centro que frequenta disse que os espíritos-guia indicaram Bolsonaro como um instrumento imperfeito dos espíritos para salvar o país.

Ou seja, um bolsonarista, para abandonar Bolsonaro, não tem que reconhecer só que é um estúpido, que foi enganado de novo, nem somente que o país não vai melhorar como ele acreditava. Ele tem que perder tudo o que acredita e dá sentido a vida dele além da família: política e religião. E a defesa da família é também central no discurso bolsonarista. Está aí o caldeirão do bolsonarismo, na minha opinião, que não é exatamente original.

Não será possível destruir essa verdadeira obra do que Jesus chamava de “falso profeta” no espaço de uma geração, ou de duas… mas temos que descobrir como desgastar pelas beiradas essa monstruosidade brasileira para ser possível superá-la no governo do país.

Sem entender que o bolsonarismo é um fenômeno religioso em seu componente central, não creio que será possível.

E xingar os pastores e os médiuns não resolverá nada a não ser um descarrego circunstancial de sua revolta.

Muito menos vociferar contra a religião, porque o que o ateu não entende é que tudo o que qualquer pessoa religiosa não quer é ser como ele. O sentido religioso é um sentido natural e poderoso na maioria das pessoas, e costuma a ser o mais importante em suas vidas. Seu nível intelectual vai determinar qual é a forma que esse sentido vai tomar.

Então não precisamos de guerra cultural. O que precisamos é de outra narrativa que dissolva o bolsonarismo religioso por dentro.

Mas mais do que isso, não escrevo.