GILBERTO MARINGONI: Na história oficial petista, o ajuste de Dilma não existiu

Ex-presidente Dilma e seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy
Ex-presidente Dilma e seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy
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A entrevista de Lula, na sexta, representa uma vitória democrática significativa. O maior líder popular dos anos recentes está em grande forma e segue dono de inteligência política invejável. A comparação com o muar que nos governa é cruel para este.

Mas há problemas do lado de cá. A conversa do ex-presidente reafirma algo já presente nas peças de propaganda da campanha presidencial passada. Embora cite a ex-presidenta Dilma Rousseff 12 vezes em 114 minutos de conversa, as menções são superficiais.

LULA SE REFERE COM MAIS VAGAR à sucessora em duas oportunidades. A primeira é para jogar em seu colo a opção por não regulamentar a mídia. O ex-presidente lembra da I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009, e afirma: “Em junho de 2010, nós preparamos uma regulamentação dos meios de comunicação. Ao invés de dar entrada no Congresso, porque iria ter eleição, eu pensei ‘não, vou deixar para o novo Governo’. A razão pela qual a Dilma não entrou, não sei”.

A segunda menção se dá quando perguntado sobre Antonio Palocci. Lula conta ter dispensado os serviços do ex-ministro em 2005, após o escândalo do caseiro. Lembrado de que o seu antigo auxiliar voltara como homem forte na campanha de 2010 – juntamente com José Eduardo Cardozo e José Eduardo Dutra -, Lula joga novamente a responsabilidade para a mandatária: “Certamente a Dilma admirava o trabalho dos três porque fizeram ela ganhar as eleições”.

NA CAMPANHA PRESIDENCIAL de 2018, Dilma Rousseff praticamente sumiu da propaganda petista. O partido jamais avaliou seriamente seus 63 meses e meio à testa do Planalto.

Dilma promoveu “o maior ajuste fiscal” da História do Brasil no início de seu segundo mandato, como enchia a boca para dizer. Fez isso, sabendo que a economia mundial se desacelerava e que sérias turbulências atingiam o país desde o primeiro semestre de 2014.

O resultado do ajuste foi a maior depressão que tivemos desde 1900. O PIB encolheu quase oito por cento, entre 2015-16 e o desemprego duplicou entre dezembro de 2014 e março de 2016.. O mergulho sem fim que vivemos – e que deu argumentos para o avanço da direita e da extrema-direita – é seu legado mais marcante.

AVALIAR AS RESPONSABILIDADES da presidenta e de dirigentes partidários no desastre não deve ser tarefa fácil. Foram opções racionais e não erros cometidos. Ninguém chama um banqueiro, como Joaquim Levy, para promover desenvolvimento e distribuição de renda.

Saber os motivos da opção recessiva é algo de vital importância para que tais iniciativas não se repitam e para que o maior partido de oposição consiga sair do casulo tático em que se meteu. Diante das cobranças inevitáveis que é submetido, o PT tem se valido do comportamento de avestruz. Muda de assunto, grita Lula Livre! e se mostra incapaz de organizar uma ação oposicionista ampla e consistente, mesmo contando com 57 deputados federais (a maior bancada) e quatro governadores.

Lula livre! Mas como parte e não centro de uma jornada que deve estar baseada nos sofrimentos e demandas de nosso povo por emprego, salário e renda. Coisas que foram seriamente abaladas pela trombada recessiva de quatro anos atrás.

Não adianta retocar as fotos. Decisões desastrosas geraram consequências sem expectativa de reversão.

Por Gilberto Maringoni