Existe uma famosa frase repetida por diversos intelectuais que diz de forma irônica “O que resta da ditadura? Tudo, menos a ditadura”.
O fim da ditadura empresarial-militar significou um período de expansão assustadora do aparato penal do Estado burguês. Foi na democracia [burguesa] da Nova República que cresceu como nunca o encarceramento em massa, os assassinatos pelo Estado, a expansão dos tipos penais, as chacinas constantes nos presídios e fora deles. Existia no nível do discurso e do simbólico uma dissociação: a classe dominante, representada pelos educados paulistas, como FHC, ou os membros mais ilustrados das oligarquias, como Marco Maciel, adorava a morte, o sangue, o genocídio, o exército nas favelas, mas proclamava os valores “universais” dos direitos humanos, democracia, liberdade e afins citando Claude Lefort e outros.
Esse costume gerou até fatos estranhos, como Delfim Netto, um filhote da ditadura com as mãos sujas de sangue, ser aceito nos meios de certa esquerda.
Agora, finalmente, a prática se encontra com o discurso. Bolsonaro não é um desvio na história. Ele é o encontro, o abraço, entre a ação e a linguagem. Ele é a prática da dominação política traduzida em verbo.
Não devemos permitir que a classe dominante se livre de Bolsonaro. Não devemos permitir essa tentativa dos liberais, dos João Dória, Miriam Leitão, FHC, Miguel Reale; dos Marinhos, Setúbal, Aguiar, Correia, Coelhos, Magalhães e afins se separem do Bolsonaro.
Bolsonaro é sua expressão, sua cria, seu retrato. É sua versão sem máscara.
O criador merece a criatura. Não podemos deixar essa oportunidade passar. O mito da cordialidade e civilidade da classe dominante tem que ser destruído.