Getúlio e os militares: castilhismo-florianismo vs. 1964

Getulio e os militares castilhismo florianismo vs 1964
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Não dá pra ter uma visão plena da Era Vargas sem o componente militar. Ora, uma das chaves de leitura do getulismo é a da nacionalização do Estado.

As principais linhas de unidade em todo território brasileiro eram a figura do Império, a Igreja católica-romana e o escravismo. Com a República tudo isso caiu.

Quem tentou manter um Estado com agência unitária em todo o território foi Floriano Peixoto e seus jacobinos. Floriano foi um dos maiores líderes que o país possuiu. infelizmente, morreu cedo demais para consolidar um movimento coeso no Rio de Janeiro.

Mas o florianismo continuou vivo na escola militar da Praia Vermelha e no castilhismo no Rio Grande do Sul, que se consolidou na guerra civil durante os primeiros anos republicanos. Não dá pra pensar o castilhismo sem o florianismo. Uma possível interpretação para a origem da Era Vargas é a convergência desses dois pólos ”florianistas” nos anos 1920/30, o rio-grandense e o das escolas militares.

Quando o jacobinismo florianista deixou de ser um movimento político decisivo na virada do século XIX/XX, depois de Canudos e do Contestado, o país caiu refém do regionalismo, das elites agrárias, da oligarquia paulista, do projeto liberal-conservador. O Estado central era frágil, não existiam instituições verdadeiramente nacionalizadas, não antes da união entre o castilhista Getúlio e os tenentistas e forças nacionalizantes dentro do Exército.

Vargas nunca pôde se apoiar inteiramente nas forças políticas civis rio-grandenses que alavancaram a Revolução de 1930, porque possuíam fortes características oligárquicas e regionalistas. E Getúlio possuía uma perspectiva nacionalizadora, centralizadora, anti-liberal, e portanto anti-oligárquica. Cada vez mais ele se apoiou no clube 3 de outubro e depois em certos escalões do oficialato superior do Exército.

O Estado Novo possuía esse elemento militar como base do poder político de Getúlio.

Infelizmente, o Exército não deu o salto seguinte. Vargas organizou a ideologia trabalhista, e nisso os militares não o seguiram inteiramente, até porque uma parte significativa deles havia caído no conto da sereia americanófila a partir da participação na Segunda Guerra Mundial.

O trabalhismo e as Forças Armadas passaram a polarizar em certo grau, já que se formou uma corrente fortemente anticomunista/americanófila entre os militares. E a disputa entre essas correntes não era brincadeira, existiam formas de expurgo permanentes caso uma delas predominasse no Exército [e o termômetro eram as eleições no Clube Militar]. Nêgo era mandado pra postos na Amazônia, no meio do sertão etc.

Mas existiam também correntes que não eram anti-trabalhistas, e que também perderam e sofreram expurgos com o golpe de 1964. De todo modo, nem assim o regime inaugurado com o golpe fez com que boa parte dos militares abandonasse a ideia de um projeto de país soberano, apesar do forte ”anticomunismo/anti-trabalhismo” que manteve a herança escravocrata no Brasil.

Daí que o objetivo não deve ser nunca o de retirar os generais da política, mas o de reforçar entre eles aqueles que possuem uma alma verdadeiramente patriótica, disposições nacionalistas e apoio a um projeto soberano.

Por André Luiz Dos Reis

Publicado pela Frente Sol da Pátria