Por Arthur Koblitz, presidente da Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES) – Eu repudio veementemente essa campanha canalha e desonesta de destruição de reputação do Ciro Gomes. Acompanho eleições desde 1989. Nunca vi um candidato fazer tanto pela politização do povo e pela educação do povo sobre temas econômicos. Nunca ninguém propôs reformas e políticas tão inequívocamente progressistas. Nunca foi tão claramente exposta a necessidade de enfrentamento do sistema financeiro para mudar o rumo do país.
Tal esforço de persuasão foi realizado durante um longo período, por meio de dezenas de entrevistas à imprensa e às redes sociais e pela publicação de um livro. Ciro defendeu nesses espaços o diagnóstico de que Bolsonaro AGRAVOU, mas não foi o responsável pela grave, existencial, crise política e econômica do país. A raiz da crise, defende Ciro, é o modelo econômico herdado de FHC e o modelo de relacionamento do presidente com o Congresso. Resolver a crise exige a mudança desses dois modelos. O primeiro estagnou o país e o mantém desigual, o segundo provoca os recorrentes escândalos de corrupção que assolam o país. Juntos enfraquecem a democracia.
Juntos geraram Bolsonaro! Em função da retórica de apologia à ditadura e à sua condição de picareta de terceiro escalão, Bolsonaro pode se apresentar como inimigo do sistema político vigente. O que poderia ser mais simbólico da derrota da democracia do que a chegada ao poder de Bolsonaro?
É claro que essa análise distingue radicalmente Lula de Bolsonaro. Lula é o principal operador de um sistema democrático disfuncional, Bolsonaro é o autoritário que chega ao poder pela disfuncionalidade do modelo. Ao mesmo tempo, pela mesma análise, fica claro porque Lula não é a resposta para a crise e por isso não é a resposta à Bolsonaro. A volta de Lula significa a permanência do dois modelos. As alianças e ausência de programa de Lula confirmam essa previsão. Eleger Lula é manter a desmoralização da democracia, deixá-la refém de (um novo?) Bolsonaro.
É na demonstração dessa tese que se fundamentam as denúncias que Ciro faz a Lula e ao PT: não escaparam à lógica da adesão aos dois modelos. Assim, pode ser visto q a crise de 2015 e os escândalos de corrupção não foram acidentes, erros pontuais de Dilma ou a ação da Lava Jato.
Ciro apresentou uma alternativa de rompimento com os 2 modelos. Essa é a base de suas propostas. Ninguém é obrigado a concordar com essa tese. Aparentemente, a maioria está convencida de uma tese mais simples. Bolsonaro, sua boçalidades e ameaças autoritárias precisam ser vencidos e escolher Lula no 1° T é a forma mais fácil de fazer isso. Depois de vencer Bolsonaro, algum jeito vai ser dado. Essa tese tem vários furos. Ela está baseada no pavor de um 2° turno contra o Bolsonaro, mas ignora os riscos de passar cheque em branco para Lula. Que votem em Lula os que dela estão convencidos. O que é inaceitável é que exijam que a campanha de Ciro não possa se apresentar, que não possa fazer as críticas que acredita pertinente porque isso colocaria em risco a estratégia que escolheram! E mais que passem a sugerir, jogo sujo, a aliança de Ciro a Bolsonaro por isso!
No fundo o que está em disputa são duas táticas legítimas para enfrentar a ameaça à democracia. Essa duas táticas poderiam ser confrontadas em debates. Mas a estratégia escolhida contra Ciro foi a de fugir de debates, fugir dessa disputa de ideias e acionar a campanha de destruição de reputação de Ciro e de estigmatização de seus eleitores. Isso é covarde, canalha e antidemocrático.
Por Arthur Koblitz, presidente da Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES)
