Protestos de estudantes derrubam falácia do “marxismo cultural”

Protestos de estudantes derrubam falácia do “marxismo cultural”
Alunos do Pedro II e institutos federais protestam contra corte de Bolsonaro
Botão Siga o Disparada no Google News

Os protestos dos estudantes universitários desta semana derrubam a falácia do “marxismo cultural” e mostram como esse argumento sórdido e boçal não vai resistir à passagem do tempo e dos fatos, da mesma forma que a mamadeira de piroca.

A “fakenews” de hoje é quase o “factoide” da minha época de repórter dos anos 1980 e 1990. Enquanto este último tinha prazo de validade temporal, aquele não resiste aos problemas concretos do país que vão se agravando. A falsa mamadeirinha foi útil nas eleições de Bolsonaro e agora já não é mais. E a crise geral, o Brasil vai aguentar até quando?

Os estudantes foram às ruas para protestar sobre algo específico, e não para firmar posição a favor ou contra algum ideário partidário ou modo de produção social. Específico, mas, evidentemente, tendo a ver com as demais partes da destruição em curso do país. Vão dizer agora que os estudantes das universidades são comunistas? Ou que são baderneiros, maconheiros e devassos? Que pais e professores do Colégio Pedro II são socialistas ou “marxistas culturais” complacentes com delinquentes? Ou terroristas?

As manifestações revelam que vários rastilhos estão se espalhando aos poucos país afora – e não serão para menos diante do conjunto de problemas de uma verdadeira terra devastada: desemprego crescente, tentativa de destruição da previdência pública, desindustrialização, entrega de recursos estratégicos para os estrangeiros, desorientação e conflitos internos do próprio governo, além dos cortes nos gastos sociais e nos recursos da saúde e educação. Isso, para não citar outros vexames, como o apoio à recente tentativa do golpe “tabajara” contra o governo e o povo da Venezuela.

Talvez a eleição de Jair Bolsonaro entre para a história como o grande mico da democracia brasileira, talvez pior que o da eleição de Fernando Collor de Mello. Apesar de ambos serem potenciais destruidores do Brasil, este último não veio com ameaças deliberadas e, pelo menos, guardava resquícios da política possível. Porém, não a ideia do tudo ou nada na base da porrada de extrema direita.

O problema é que, se até ditaduras precisam de um discurso legitimador ético-moralista – porém, mais do que isso, apoios político e materiais consistentes interna e externamente –, cabe a indagação: o governo Bolsonaro vai deter o povo nas ruas na base das armas, bombas e granadas? Vai prender e matar? Pertinente a pergunta porque, do jeito que as coisas andam, só restará ao povo ir para as ruas, a exemplo da grande lição que os estudantes estão dando para todas as demais categorias sociais.

Nesse contexto, uma rápida reflexão se faz necessária sobre algo já falado exaustivamente, que é a estratégia prestidigitadora do governo de desviar a atenção dos problemas maiores. Embora, a questão da liberação das armas seja uma medida horrorosa, obviamente devendo ser combatida, ela faz parte do processo criativo de polêmicas como espécie de produção de “pósfactoides”.

Em outras palavras, com pompa e solenidade, o governo vai criando fatos que, não necessariamente são mentirosos ou promessas vazias, como os factoides de antigamente produzidos por alguns políticos conhecidos. Assim, ele baixa medidas polêmicas, para atender a interesses específicos e clientelistas, que produzem efeitos concretos de certas políticas perniciosas (caso das armas, por exemplo), enquanto grandes questões nacionais vão sendo manipuladas nos bastidores, a exemplo da destruição da previdência pública.

Nas sombras, os vultos são de interesses diversos, envolvendo atores internos e externos, além dos chamados representantes da opinião pública, isto é, donos de grandes conglomerados de comunicação social, que apoiam, por exemplo, além da destruição da previdência pública, a flexibilização das leis trabalhistas, a entrega de recursos estratégicos a estrangeiros, além da privatização dos serviços de saúde e educação.

Entretanto, não há sombras e vultos de políticos que possam vencer a claridade das ruas, a não ser pagando fatura altíssima nas próximas eleições ou até mesmo indo para a cadeia. Se o povo já não terá mais o que perder, a ele não restará nada a não ser ganhar e ocupar as ruas, assim também as esplanadas ao redor de parlamentos e palácios. Tudo indica que o Brasil caminha para essa paisagem tumultuada.

Deixe uma resposta