O endividamento externo é o mal em si

BRESSER-PEREIRA O endividamento externo é o mal em si
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Os países em desenvolvimento não se emendam. Continuam a incorrer em déficits em conta-corrente e se endividar no exterior com a desculpa que as entradas de capital decorrentes desses déficits aumentarão os investimentos. No presente momento, leio no Financial Times que “as economias emergentes arrecadaram mais de US $ 83 bilhões no mercado internacional de títulos desde o início de abril, apenas algumas semanas depois de o G20 oferecer alívio à dívida de muitos países mais pobres.” Esses países entre os quais está o Brasil recusam-se a aprender com seus erros.

A crítica radical do endividamento externo – a afirmação que os países em desenvolvimento não devem adotar a política de crescimento com “poupança externa” (ou seja, com déficits em conta-corrente) mas tratar de crescer com seus próprios recursos – é a tese central da Teoria Novo-Desenvolvimentista.

Só em condições muito especiais, quando o país em desenvolvimento está crescendo aceleradamente, essa política é justificável, porque neste caso os dólares que entram no país para financiar o déficit externo financiarão principalmente novos investimentos.

No mais das vezes, porém, as entradas de capital apenas apreciarão no longo prazo a moeda nacional, e isto tornará as boas empresas do país não-competitivas, impedindo-as de investir, enquanto as receitas de assalariados e rentistas verão aumentar.

Em outras palavras, ao entrarem em déficit em conta-corrente os países se endividam não para investir, como pretendem, mas para consumir, como a lógica econômica determina. Uma moeda apreciada no longo prazo é o mal em si para os países em desenvolvimento.

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira