Eleição exigirá voto útil do campo progressista

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O que direi não é nenhum segredo e nada novo para quem tem se atentado aos caminhos que começaram a se delinear tão logo a corrida eleitoral iniciou – e ela já está entrando em seus momentos mais decisivos. Conforme se alerta há muito tempo, o pleito presidencial de 2018 fugiria um pouco ao padrão tradicional que se estabeleceu basicamente desde a eleição de 1994 com a polarização entre petistas e tucanos pelo executivo no âmbito nacional. Há agora mais jogadores, tanto na direita quanto no campo progressista, indefinições eleitorais, crise econômica, política e uma enorme desconfiança sobre todas as instituições que consubstanciada com os fatores anteriores interferem diretamente na percepção do eleitorado.

Por mais que a maioria dos cientistas e analistas políticos concordem que as últimas movimentações no xadrez político-partidário favoreçam um cenário de repetição da polarização entre PT e PSDB num eventual segundo turno, ninguém consegue cravar isso no momento. É certo que o Alckmin com apoio do centrão, da grande mídia e enorme tempo de tevê conseguirá desidratar o Bolsonaro, que tem um eleitorado fiel e engajado? Dá para assegurar que o Lula depois de ter sua candidatura impugnada vai realizar em curto espaço de tempo e estando encarcerado o quase milagre de transferir parte considerável do seu capital político para Fernando Haddad, que é nacionalmente um quase desconhecido? São questões de difícil resposta.

O que é fácil cravar no momento é que esse cenário de muita indefinição vai exigir voto útil do campo progressista desde o primeiro momento, isto é, o primeiro turno. No passado candidaturas críticas à esquerda sem tantas pretensões eleitorais contavam com um cenário melhor estabelecido para obter um voto mais ideológico. O eleitor de esquerda se fiava no fato da garantia de ter no segundo turno um candidato do campo para poder votar no primeiro em alguém que tivesse mais alinhado às suas concepções e às suas críticas ao sistema. Foi assim, por exemplo, que o PSOL conseguiu expressiva votação em 2006 com Heloísa Helena. O voto foi tanto contra o sistema como também contra a forma que o PT ali já envolvido em escândalos se saiu do seu primeiro mandato.

No entanto o pleito de 2018 não dará espaço para esse tipo de postura. A forma como a eleição se apresenta, com um candidato de extrema-direita como Bolsonaro na casa dos 20% das intenções em cenário sem Lula, tal qual deve ocorrer com o provável parecer do TSE, com Alckmin sendo catapultado por uma estrutura poderosa e com campo progressista até aqui fracionado entre duas possibilidades competitivas, a do Ciro Gomes e a do Haddad, tirarão a possibilidade do eleitor mais consciente de “perder” seu voto em candidaturas ideológicas, mas que não se mostram competitivas. Era o caso de Manuela D’Ávila, que retirou seu nome da corrida, e é o caso de Boulos, do PSOL, e também de Vera Lúcia, do PSTU. Não haverá espaço para esse voto ideológico. Porque ele pode ser no final o que venha a fazer a diferença entre termos um candidato progressista no segundo turno ou não, correndo o risco até do pior dos cenários com Alckmin fazendo companhia ao Bolsonaro.

Essa possibilidade empurrará o eleitor para o voto útil já no primeiro turno. E ele será fundamental para evitarmos que no próximo ciclo o Brasil fique refém do que há de mais atrasado e reacionário na política – porque um segundo turno com duas candidaturas muito à direita no espectro político (e basta conferir quem é a vice do Alckmin) conferirá enorme poder a eles, com uma hegemonia que deve ser reforçada também no legislativo. Essa possibilidade deve ser evitada a todo custo. Pelo bem do Brasil. Pelo nosso bem.