O respeito à diversidade sexual no ambiente sindical e social

Entre as diversas bandeiras defendidas no sindicalismo, uma das principais é o respeito à diversidade, independente da orientação sexual de cada cidadão
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Entre as diversas bandeiras defendidas no sindicalismo, uma das principais é o respeito à diversidade, independente da orientação sexual de cada cidadão, todos compreendemos a importância pela via progressista de estimularmos políticas que valorizem a emancipação humana.

No entanto, é importante compreendermos, que todos somos impactados pelos preconceitos, lapidados desde a infância, seja entre os homens como também entre as mulheres.

Como acadêmico e dirigente sindical, sempre realizo viagens para congressos, fóruns, reuniões, treinamentos, entre outros eventos, em prol da comunidade científica e trabalhadores, oportunidades que procuro compartilhar o quarto com companheiros (as) que por afinidades mantém o mesmo rol de prioridades na vida coletiva, entre eles alguns amigos são homossexuais, o que não os diferenciam dos heterossexuais.

No entanto, em bate-papo entre companheiros(as), comentamos a respeito dos amigos(as) que compartilho o quarto, obtendo a seguinte indagação de alguns homens e mulheres: “Como você consegue dormir no quarto com um homossexual?” Questionei, qual é o problema? Sendo indagado, “Como vamos ficar pelado na frente deles? E na hora de dormir se tentarem algo sexualmente?”.

Neste momento, tive a plena certeza que na sociedade como um todo, seja no campo conservador em maior grau, como também no campo progressista em menor grau, existe um termo que vou definir como “Fragilidade Masculina”, quanto a sexualidade, principalmente por ser de cunho ideológico e cultural, na questão das mulheres, prefiro não utilizar nenhuma definição, por não ser o meu lugar de fala, mas me solidarizo, pois acredito que devem sofrer as mesmas discriminações.

Realizei o seguinte questionamento, quais medos cada um de nós, principalmente os declarados heterossexuais trás no subconsciente, qual será a repressão dos nossos sentimentos impostos pelo ideal de masculinidade, quantas afetividades positivas estamos nos distanciando, temos uma sociedade que adoece os homens toxicamente, se temos insegurança de dormirmos no quarto com um homossexual, também possuímos medo de sermos vistos nos atos comuns da sociedade com estes irmãos e avaliarem que somos homossexuais.

Este é o fenômeno da homofobia social, somos simpáticos e defendemos em vários fóruns à diversidade, mas em relações comuns do dia a dia, reproduzimos aquilo que defino como homofobia recreativa, discriminação em forma de piadas contra os homossexuais.

A luta emancipatória na seara da educação e sindical, demanda o combate a homofobia, a partir da revisão de nossas práticas individuais na construção de identidades, posteriormente institucionais, que impactam na estrutura social homofóbica da sociedade, excluindo os homossexuais de uma empregabilidade digna, condicionando  muitos trabalhadores a permanecer “no armário” quanto a sua orientação sexual.

No sindicalismo a luta institucional contra a homofobia e a valorização dos homossexuais é imprescindível, frente ao protagonismo das entidades na representação dos trabalhadores.

Todavia, existem especificidades que necessitam ser compreendidas, visando a construção de uma agenda que confronte a inexistência de políticas do Estado, em todas suas esferas, seja no legislativo, através da construção de leis em prol da diversidade, no executivo, com a implantação de políticas institucionais, e no judiciário, que observem o cumprimento das leis e punam os homofóbicos.

A intersecção entre as bandeiras de luta no sindicalismo fortalece o movimento, sendo fundamental voltarmos nossas ações aos grupos historicamente excluídos em relação a identidade de gênero e orientação sexual. A empatia é o princípio básico, com ruptura de modelos que não funcionam mais na nossa geração, a mediação absorvendo os conhecimentos ancestrais é urgente.

Na seara da conscientização os  LGBTQIA+, podem somar outras camadas de discriminação, no campo da interseccionalidade, como a racial, deficiência, religiosa, regional e as próprias discriminações internas do movimento, denominada como homofobia interiorizada, que é o sentimento negativo em relação a si próprio, gerando sequelas profundas na construção do ser, e um processo de flagelamento e sabotagem, procurando evitar principalmente situações muito comuns de assédio verbal, exclusão de atividades familiares e agressões físicas.

Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), demonstra que os homossexuais são impactados pelo preconceito, disparidade salarial, hierarquização sexual do trabalho e o racismo, sendo subjugados em ocupações informais com baixa qualificação, ampliando o cenário de vulnerabilidade e exploração, proporcionando ao sindicalismo pauta fértil de atuação em prol da isonomia de direitos.

No cenário nacional, os estudos e censos da temática são escassos, uma vez que as categorias tem dificuldades de tratar do tema, ficando normalmente direcionado apenas aos homossexuais e aos solidários, os demais avaliam que não sendo homossexuais, não precisam acumular conhecimentos e contribuir na construção da pauta.

Desta forma, é imprescindível os movimentos sociais, centrais sindicais, confederações, federações e sindicatos acumular o maior conhecimento possível e identificar como este tema atinge suas bases, pela via da discriminação direta aos trabalhadores ou  exclusão laborativa.

Torna-se inevitável a formação de ativistas sociais e dirigentes sindicais hábeis no tratamento das pautas identitárias, que consigam ressignificar o sentido da luta, combatendo os preconceitos internos em prol da empregabilidade decente e a  igualdade de oportunidades.