A critica moral a classe dominante, normalmente chamada de “elite”, tem uma falsa radicalidade. Parece criticar a burguesia, mas no fundo trabalha com uma razão ingênua: critica o seu “atraso”, “falta de visão”, “elitismo” e afins como forma de criar uma espécie de razão Iluminista nessa classe para, finalmente, realizar o sonho de um capitalismo estilo alemão nos trópicos.
No fundo, sem qualquer novidade e o sentido prático de um Hélio Jaguaribe, querem ensinar a classe dominante a exercer um bom domínio – com “inclusão social”. Por isso, a critica não passa por uma teoria do desenvolvimento capitalista periférico e da autocracia burguesa. Mas como é impossível negar o vale de lágrimas e sangue que vivemos, é necessário apontar um responsável direto, irremediável, um responsável que não pode ser salvo das misérias que vivemos. Para manter a aparência de radicalidade e crítica, tomam uma mítica classe média para Cristo.
Por anos e mais anos, enquanto bancos, latifúndio, multinacionais, grupos de mídia, construtoras e afins cresciam “como nunca antes na história desse país”, Marilena Chauí apontava que a classe média é uma abominação ética, política e fascista! O grande capital não. Esse precisa ser ensinado como ser nacional e democrático!
Agora Jessé Souza diz que o ódio a filosofia e sociologia do bolsonarismo representa a baixa classe média (sabe Deus o que é isso) sem leitura que não consegue entender os livros!
É ódio e inveja, segundo o sociólogo da elite do atraso (ou do atraso da sociologia?).
No final das contas, segue a mesma busca, o eterno retorno de um pacto de classe.
Podemos fazer uma crítica moral a classe dominante. Mas no Brasil de hoje, essa crítica moral, é contrarrevolucionaria. Pior, é uma espécie de crítica não-critica que busca ocultar dados básicos. O governo Bolsonaro pretende vender metade das refinarias do país. A Fiesp, CNI, Abimaq e assemelhados, não têm problemas com isso. Seu papel de burguesia associada e dependente continua garantido. E se suas indústrias fecharam, não é problema também. Elas podem se transformar em burguesia compradora revendendo o último produto chinês ou vivendo de renda de aplicações financeiras cada vez mais gordas.
E segue a vida. E a tolice em forma de teoria social.