O recado do Chile à esquerda latino-americana

O recado do Chile a esquerda latino americana
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As eleições no Chile neste fim de semana deveriam servir de profunda reflexão para a esquerda latino-americana. Depois de enormes manifestações populares contra o modelo pinochetista que ainda vigorava no país, foi convocada Assembleia Constituinte sob um governo de esquerda.

E então este governo, sob liderança de Gabriel Boric, desperdiçou todo o capital político em pautas identitárias e pós-modernas, incluindo a tentativa canhestra de fazer do Chile um Estado Pluri-Nacional, nova obsessão dos movimentos cujas vozes são ditadas pelo social-liberalismo e universidades ianques e europeias, aquilo que Jessé Souza chamou em algum momento de “esquerda de Oslo”.

Para não citar performances bizarras do beatiful people moderninho, incluindo a polêmica retirada de uma bandeira do Chile do ânus de um ator no espetáculo “Las Indectectables”, supostamente representando o aborto do Chile antigo.

Resultado, o projeto de Constituição foi rejeitado pela população, e as eleições de ontem para uma Nova Constituinte consagraram uma vitória acachapante da direita político-partidária. Tão grande que ela pode, se quiser, discutir sozinha as mudanças no projeto constitucional.

Grande parte da esquerda gosta de responsabilizar as fake news e o crime organizado, quando não a pura e simples ignorância do povo [maneira como ela qualifica todo e qualquer valor que não se adeque à Tábua dos Dez Mandamentos dos puritanismo progressista dos movimentos identitários] , pela emergência de uma direita populista no continente. Mas ela deveria ter mais atenção aos abismos que construiu em relação à voz e as sensibilidades populares.

O processo constituinte no Chile é mais um exemplo acabado da rejeição popular à ‘nova esquerda’ mesmo diante do fracasso social acachapante das políticas neoliberais. A população prefere sentar no colo do capeta do que aderir à agenda do Partido Democrata ianque.