O copo meio vazio: balanço e autocrítica do PDT nas eleições 2020

O copo meio vazio: balanço e autocrítica do PDT nas eleições 2020
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Por Felipe Augusto Ferreira -No meu último texto procurei discutir o reposicionamento do PDT no cenário político tomando como referência a eleição paulistana. A capacidade de o PDT conseguir se mostrar claramente para o eleitor como um partido ideológico de esquerda (e não como apenas mais uma legenda) passa pelo fortalecimento da coesão programática e partidária. Isso se dá por duas vias. Uma é cobrança de fidelidade e lealdade aos parlamentares em votações estratégicas e punição exemplar a parlamentares infiéis (punindo no limite com a expulsão). A outra é eleger novos parlamentares ideológicos vindos das bases do partido, parlamentares verdadeiramente comprometidos com o programa do trabalhismo e com o Projeto Nacional.

As eleições são o momento culminante da vida de qualquer partido político. No caso de um partido político que se propõe a governar o Brasil, como o PDT, o desempenho eleitoral se torna ainda mais estratégico. Muito se tem comentado em páginas e blogs ciristas que o PDT teria saído das urnas de 2020 como o maior partido de esquerda do país por ter eleito o maior número de prefeitos (314) e vereadores (3.441) entre os partidos do campo da esquerda (PSB, PDT, PT, PSOL, PCdoB, REDE, PCB, PSTU, PCO e UP). Ainda tem o fato de o PDT ter sido o partido que mais elegeu prefeitos nos estados do Maranhão e Ceará, ter vencido 3 das 4 disputas de 2º turno que disputou (Aracaju, Fortaleza e Serra), e ter sido o partido de esquerda que irá governar a maior população (o 6º partido entre todos os partidos em população governada)[1].

No entanto, isso é apenas olhar o copo meio cheio. Por trás desses números aparentemente positivos para o partido de Ciro Gomes, vemos um resultado que deveria causar consternação para as lideranças trabalhistas. É necessário ler com frieza o resultado das urnas. Segundo o levantamento do G1, embora seja o partido de esquerda que irá governar para a maior população, a população que o PDT irá governar será 13,25% menor em comparação com 2016; o principal aliado do PDT, o PSB, caiu 44,81% em população governada (a 2ª maior queda em números absolutos); enquanto o PT praticamente manteve-se no mesmo patamar (aumento de apenas 0,19%), e o PSOL garantiu com a vitória em Belém o maior salto entre os partidos de esquerda: aumento de 10.758%[2].

Mesmo o discurso triunfalista que coloca o PDT como “maior partido de esquerda da eleição” precisa ser visto com cautela: não é que o PDT cresceu em número de prefeituras, mas sim que o partido encolheu menos que os outros partidos. O PSB, que em 2016 era o partido de esquerda com maior número de prefeituras, teve em 2020 redução de 38,1% do número de prefeituras governadas, caindo de 407 para 252 municípios.

Tabela 1: Número de prefeitos eleitos pelos partidos de esquerda em 2016 e 2020

Partido Nº de prefeitos 2016 Nº de prefeitos 2020 Diferença (%)
PT 254 183 -27,9%
PSOL 2 5 +150,0%
PDT 334 314 -5,9%
PSB 407 252 -38,1%
PCdoB 81 46 -43,2%
REDE 6 5 -16,7%

Analisemos agora a votação que cada partido recebeu para vereador – critério que dá uma visão mais acurada do tamanho de cada partido, uma vez que os partidos tendem a lançar candidatos a vereador em todos os municípios onde têm diretórios – ao contrário do cargo de prefeito, onde há a opção de fazer coligação. Consideremos apenas as 38 cidades com mais de 500 mil habitantes, os principais palanques políticos do país, onde reside 37% da população brasileira e nas quais os vereadores eleitos frequentemente se tornarão os futuros deputados estaduais e federais das eleições seguintes. Segundo dados do professor e pesquisador do CPDOC/FGV Jairo Nicolau, nesses municípios-vitrine vemos que o PT foi o partido que recebeu a maior proporção de votos para vereador entre todos os partidos (6,6%), enquanto o PDT foi apenas o 10º mais votado (4%), atrás inclusive do PSOL, o 7º mais votado (4,8%).

Uma análise mais detalhada dos partidos de esquerda agrupando os municípios pelo tamanho da população demonstra que PT e PSOL foram os partidos mais votados da esquerda nas cidades com mais de 500 mil habitantes; que o PT é o maior partido de esquerda nos municípios a partir de 150 mil habitantes; e que o desempenho do PDT diminui à medida que aumenta o porte do município. Ou seja, a maioria dos vereadores eleitos pelo PDT irá representar eleitores de municípios menores, longe dos centros de irradiação política de seus estados.

Ao se observar o desempenho dos partidos de esquerda nas últimas cinco eleições municipais, vemos que, após um período de estabilização que vai de 2004 a 2012, o PT sofre um forte declínio em 2016 (ano do impeachment de Dilma), para em 2020 ter uma leve recuperação puxada pelos municípios de mais de 500 mil habitantes. Enquanto o PDT manteve ao longo de todo o período 2004-2020 uma tendência de declínio progressivo, mais acentuado nos municípios a partir de 150 mil habitantes. É importante ter em mente que foi em 2015 que Ciro Gomes e seu grupo político desembarcaram no PDT, e isso resultou em 2016 na eleição de 49 prefeitos e 394 vereadores pelo PDT no Ceará, e em 2020 na eleição de 67 prefeitos e 568 vereadores cearenses. Mas mesmo a chegada do grupo dos Ferreira Gomes não estancou a tendência de declínio do PDT nos municípios de mais de 150 mil habitantes. Ou seja, caso os Ferreira Gomes não tivessem ingressado no PDT, o declínio do partido teria sido muito mais acentuado.

Até mesmo o argumento de que o PT teria sido o mais derrotado em 2020 precisa ser visto com cautela. Como já foi dito, o PT foi o partido mais votado entre todos os partidos nas cidades com mais de 500 mil habitantes. Se o PT não conseguiu eleger nenhum prefeito em capitais em 2020, por outro lado aumentou de 4 para 7 o número de prefeituras com mais de 200 mil habitantes (o melhor desempenho entre os partidos de esquerda), enquanto o PDT caiu de 7 para 6 municípios[3]. O PDT disputou 4 segundos turnos em 4 estados, mas o PT foi o partido que mais disputou segundos turnos entre todos os partidos: 15 segundos turnos em 9 estados, nas cinco regiões do país, vencendo em 4 cidades (Juiz de Fora, Contagem, Diadema e Mauá), alcançando em média 44% dos votos nessas cidades no segundo turno  – apenas em Caxias do Sul e Anápolis o candidato petista ficou abaixo de 40% no segundo turno[4].

Se a comparação dos desempenhos relativos de PT e PDT já deveria fazer com que os trabalhistas adotassem um tom mais cauteloso, ao se comparar o desempenho das urnas com o PSOL é que deveria acender o sinal da alerta. É certo que o PSOL ainda tem um desempenho irrelevante em número prefeituras, mas apresentou um bom desempenho nos municípios de mais de 500 mil habitantes, mantendo uma tendência de crescimento constante desde a sua fundação e já superando o desempenho dos tradicionais PCdoB e PSB nesses municípios. Além disso, foi capaz de colocar o seu candidato, Guilherme Boulos, no 2º turno em São Paulo, compensando os 17 segundos de tempo de TV com uma forte campanha digital e engajamento voluntário. Se o PT não saiu do lugar, o PDT não foi capaz de ocupar o lugar o PT nas Câmaras Municipais. Quem parece ter capitalizado à esquerda o declínio petista dos últimos anos foi o PSOL, e não o PDT, o que é perceptível no gráfico a seguir.

Essa tendência também pode ser verificada quando se observa a quantidade de vereadores que cada partido de esquerda elegeu nas capitais. Se em 2016 o PT havia sido apenas o 3º partido de esquerda com maior número de vereadores em capitais (atrás do PSB e do PDT), em 2020 o PT recuperou terreno e se tornou o partido de esquerda com maior número de vereadores em capitais (e o segundo partido entre todos os partidos  com maior número de vereadores em capitais), o PSOL elegeu 11 vereadores a mais em comparação à eleição passada, enquanto o PDT permaneceu praticamente estagnado (apenas 1 vereador a mais), e o PSB sofreu forte queda (11 vereadores a menos).

Tabela 2: vereadores eleitos nas capitais pelos partidos de esquerda em 2016 e 2020

Partido Vereadores em capitais 2016 Vereadores em capitais 2020
PT 40 49
PSOL 23 34
PDT 45 46
PSB 52 41
PCdoB 20 14
REDE 7 7

As eleições municipais são momento propício para eleger quadros da base partidária, visto que os vereadores são os políticos mais próximos da população. Vereadores de capitais são especialmente estratégicos pois ocupam o centro político dos estados, e assim têm mais chance de se destacarem e de se projetarem politicamente para se tornarem os futuros deputados federais e estaduais do partido. Na esquerda o PSOL é especialmente habilidoso em conseguir usar as eleições de maneira estratégica para alavancar seus quadros. Dois exemplos recentes: em São Paulo, Sâmia Bomfim havia sido eleita vereadora em 2016 com 12.464 votos – a menos votada entre os 55 vereadores eleitos daquele pleito; no entanto dois anos depois foi a 8ª parlamentar mais votada do estado de São Paulo com 249.887 votos. Em 2016 Áurea Carolina havia sido eleita a vereadora mais votada de Belo Horizonte com 17.420 votos, e em 2018 conseguiu a 5ª melhor votação para federal em Minas Gerais, com 162.740 votos no estado. Mas o PDT também tem o seu próprio exemplo: em 2016 Goura havia sido eleito vereador em Curitiba com 6.573 votos, em 2018 havia se tornado deputado estadual do Paraná com 37.366 votos, e em 2020 aumentou ainda mais o seu patrimônio eleitoral ao ficar em 2º lugar na eleição para prefeito, com 110.977 votos.

Entretanto, o desempenho do PDT nas principais capitais do país ficou abaixo das elevadas expectativas que os trabalhistas depositavam nas eleições.

Na maior cidade do país, o PDT seguiu a orientação nacional de priorizar alianças com o PSB, e o sindicalista getulista Antonio Neto foi candidato a vice do ex-governador Márcio França, em uma campanha em que a chapa tentou se colocar como uma via progressista moderada em relação à chapa Boulos-Erundina do PSOL, e com um discurso de “voto útil” como a chapa mais capaz de derrotar o prefeito tucano Bruno Covas no 2º turno. Na tentativa de atrair um eleitor moderado de centro, Márcio França evitou marcar posição em muitas questões-chave da eleição como a vacinação obrigatória e o desempenho do governo federal durante a pandemia. França chegou inclusive a articular um encontro com Bolsonaro em agosto, na tentativa de fazer um aceno ao eleitor que votou no presidente em 2018 – fato que quase implodiu a aliança com o PDT (conforme debate interno na legenda à época), e que foi fartamente criticado pelos candidatos do PSOL e do PCdoB ao longo da campanha.

O saldo disso foi o 3º lugar na eleição com 13,6% dos votos, a ida da chapa do PSOL ao 2º turno com 20,2% dos votos, o aumento da bancada do PSOL de 2 para 6 vereadores, a redução da bancada do PSB de 3 para 2 vereadores, e nenhum vereador eleito pelo PDT, cuja chapa fez menos votos que as chapas do PCdoB e do PRTB (partidos que haviam caído na cláusula de barreira em 2018). Se em 2016 a chapa do PDT de então (uma chapa fisiológica com apenas 13 candidatos) teria feito 1 cadeira pelo quociente eleitoral (que não veio por conta da regra vigente à época que ainda permitia coligações na proporcional), com uma chapa completa de 79 candidatos em 2020, formada majoritariamente por militantes orgânicos e ideológicos, o PDT reduziu sua votação proporcional em 57,5%, incapaz de fazer sequer 1 cadeira. A despeito do desempenho de Jilmar Tatto, o PT perdeu apenas 1 vereador em relação a 2016, e dividirá o posto de maior bancada da Câmara Municipal com o PSDB, com 8 vereadores.

Tabela 3: votação dos partidos de esquerda em São Paulo em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 853.808 652.924 -23,5%
PSOL 184.461 444.235 +140,8%
PDT 128.987 54.802 -57,5%

O desempenho do PDT no Rio de Janeiro também não foi muito satisfatório, a despeito da boa votação de Martha Rocha. Em 2016 o PDT integrava a vice do candidato do PMDB, Pedro Paulo, candidato à sucessor de Eduardo Paes e acusado à época de ter agredido a esposa. Nessa situação constrangedora o PDT conseguiu eleger 2 vereadores pelo Rio, enquanto o PSOL (que havia lançado Marcelo Freixo) elegia 6 vereadores, e o PT (que era vice de Jandira Feghali do PCdoB) elegia 2. Em 2020, com candidatura própria à prefeitura, o partido elegeu apenas 1 único vereador. Benedita da Silva fez praticamente a mesma votação de Martha Rocha para prefeitura (11,27% da petista contra 11,3% da pedetista), mas conseguiu fazer o PT aumentar sua bancada para 3 vereadores, assim como o PSOL conseguiu subir para 7 vereadores.

Tabela 4: votação dos partidos de esquerda no Rio de Janeiro em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 110.674 141.965 +28,3%
PSOL 283.648 289.102 +1,2%
PDT 102.635 62.473 -39,1%

Em outras capitais em que o PDT lançou candidatura própria também sofreu perdas. Em Porto Alegre o PDT havia feito 3 vereadores em 2016 e em 2020 fez apenas 2, enquanto o PT manteve 4 vereadores nos dois pleitos e o PSOL aumentou sua bancada de 3 para 4 vereadores. Em Curitiba o PDT caiu de 5 para 3 vereadores enquanto o PT aumentou de 1 para 3 vereadores. Em Campo Grande o PDT caiu de 2 para 1 vereador, enquanto o PT subiu de 1 para 2 vereadores. Mesmo em Fortaleza, a principal cidade em que o PDT governa, a despeito do aumento da votação proporcional da chapa em 11,8%, o PDT perdeu 1 cadeira, caindo de 11 para 10 vereadores, enquanto o PT aumentou sua bancada de 2 para 3 vereadores, e o PSOL, que não havia eleito nenhum vereador em 2016, conseguiu eleger 2 vereadores em 2020. Aracaju foi a única capital onde o PDT lançou candidatura própria em que o partido teve aumento da bancada de vereadores em relação a 2016, indo de 1 para 3 vereadores – lá o PT fez apenas 1 vereador em 2016 e 2020, e o PSOL elegeu sua primeira vereadora neste ano.

Tabela 5: votação dos partidos de esquerda em Porto Alegre em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 72.019 59.599 -17,2%
PSOL 59.478 66.098 +11,1%
PDT 49.423 36.165 -26,8%

Tabela 6: votação dos partidos de esquerda em Curitiba em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 27.892 49.125 +76,1%
PSOL 21.356 13.123 -38,5%
PDT 90.475 47.613 -47,4%

Tabela 7: votação dos partidos de esquerda em Campo Grande em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 12.911 24.072 +86,4%
PSOL 1.343 2.194 +63,4%
PDT 27.749 17.149 -38,2%

Tabela 8: votação dos partidos de esquerda em Fortaleza em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 50.402 71.667 +42,2%
PSOL 26.938 50.194 +86,33%
PDT 208.831 233.422 +11,8%

Tabela 9: votação dos partidos de esquerda em Aracaju em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 18.768 13.437 -28,4%
PSOL 3.849 10.863 +182,2%
PDT 9.918 25.559 +157,7%

Nas cidades em que o PDT ocupou a vice a situação não é muito melhor. Em Recife, cidade onde o PDT Nacional chegou a dissolver o diretório municipal para forçar a aliança com o PSB, o PDT perdeu o único vereador que havia eleito em 2016 e não elegeu nenhum em 2020, enquanto o PT aumentou sua bancada de 2 para 3 vereadores, e o PSOL aumentou de 1 para 2 vereadores. Em São Luís o PDT ocupou a vice do candidato do DEM, viu sua bancada se reduzir de 4 para 3 vereadores, e perdeu o posto de maior partido de esquerda da câmara para o PCdoB, que subiu de 3 para 4 vereadores, enquanto o PT elegeu novamente apenas 1 vereador. Em Goiânia, onde o PDT ocupou a vice do candidato do PSB, o partido elegeu novamente 1 única cadeira na câmara municipal, enquanto o PT, que não havia eleito nenhum vereador, ganhou 1 cadeira. Em Maceió o PDT ocupou a vice de João Henrique Caldas do PSB, mas assim como em 2016 não elegeu nenhuma cadeira na câmara, enquanto o PT saiu de zero para 1 cadeira em 2020.

Tabela 10: votação dos partidos de esquerda no Recife em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 50.489 57.883 +14,6%
PSOL 23.493 36.427 +55,0%
PDT 36.768 14.108 -61,6%

O PDT conseguiu sair maior em pelo menos três capitais em que o partido abriu mão da cabeça de chapa e compôs alianças. Em Salvador, onde o PDT ocupou a vice do candidato do DEM Bruno Reis, o PDT ampliou sua bancada de 1 para 2 vereadores, o PT subiu de 3 para 4 cadeiras e o PSOL manteve 1 cadeira. Em Rio Branco, onde o PDT ocupou a vice da candidata do PSB, o partido subiu de 1 para 3 cadeiras em 2020, indo no caminho inverso do PT, que caiu de 4 em 2016 para nenhuma em 2020. Mas foi em Belo Horizonte onde o PDT deu o maior salto em capitais, saindo de zero vereadores em 2016 para uma bancada de 3 vereadores, puxados pela recordista absoluta de votos para a câmara da capital mineira, a Professora Duda Salabert. PT e PSOL fizeram 2 vereadores cada em 2016 e 2020.

Tabela 11: votação dos partidos de esquerda em Salvador em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 69.487 94.775 +36,4%
PSOL 33.626 28.426 -15,5%
PDT 31.692 57.217 +80,5%

Tabela 12: votação dos partidos de esquerda em Belo Horizonte em 2016 e 2020

Partido Votação 2016 Votação 2020 Diferença (%)
PT 41.747 46.220 +10,7%
PSOL 46.132 51.814 +12,3%
PDT 27.401 74.554 +172,1%

É importante notar que esta foi a primeira eleição para vereadores sem coligações. Ou seja, partidos menores que costumavam fazer suas cadeiras a partir da coligação com legendas maiores agora tiveram que montar sua própria chapa. Desse modo, o fim das coligações proporcionais passa a demonstrar, de maneira cabal, a força e a fraqueza dos partidos, que agora dependem apenas de si para eleger suas cadeiras. Dito isso, é notável que todos os partidos de esquerda (com exceção do PSOL) tiveram redução no número de vereadores, sendo que o PCdoB foi de longe o partido de esquerda mais atingido com o fim das coligações[5].

Tabela 13: número de vereadores eleitos nacionalmente pelos partidos de esquerda em 2016 e 2020

Partido Nº de vereadores 2016 Nº de vereadores 2020 Diferença (%)
PT 2.815 2.665 -5,3%
PSOL 56 90 +60,7%
PDT 3.770 3.442 -8,7%
PSB 3.635 3.030 -16,6%
PCdoB[6] 1.010 694 -31,3%
REDE 180 146 -18,9%

Apesar do desempenho geral do PDT em vereadores e prefeitos ter sido satisfatório a nível nacional (queda de apenas 8,7% de vereadores e de 5,9% no número de prefeitos), o partido não conseguiu melhorar o seu desempenho geral, especialmente em capitais (conforme tabela 2). Especialmente em São Paulo e Rio, as duas maiores vitrines políticas do país e nas quais o partido apostou alto nas chapas majoritárias, as chapas pedetistas tiveram forte queda no número de votos (ver tabelas 3 e 4).

Quais as razões para esse desempenho tão pouco satisfatório do PDT nessas cidades, especialmente em comparação com o PT e o PSOL?

Aposta no “voto cirista”

Em primeiro lugar, um erro fundamental de muitos candidatos a vereador do PDT, especialmente de muitos dos candidatos jovens da Turma Boa, foi de não terem trabalhado sua autoconstrução política junto às bases (comunidades, sindicatos, entidades de classe, movimentos sociais), isto é, não terem construído base social para suas candidaturas. O voto para vereador é um dos votos mais difíceis de conquistar, pois é um voto essencialmente comunitário, e também porque a eleição municipal é a única que não é “casada” com a eleição nacional (ao contrário das eleições para deputados e senadores).

Dessa maneira, as pautas nacionais têm um efeito mais reduzido na votação para vereador. Assim como Bolsonaro não conseguiu emplacar a maioria de seus candidatos a vereador nas capitais, os candidatos do PDT que buscaram se lastrear politicamente única e exclusivamente na imagem do Ciro também não tiveram sucesso. Afinal, a atenção do eleitor médio de 2020 não estava voltada para uma eleição presidencial que somente irá ocorrer daqui a 2 anos, mas sim para as demandas locais mais imediatas, como o buraco da rua, o posto de saúde, a coleta de lixo, a escola fechada pela pandemia, as enchentes do bairro, etc.

Ficou a impressão de que muitos candidatos da Turma Boa apostavam em um hipotético “voto cirista” para tentar se elegerem, numa espécie de versão de sinal invertido da onda conservadora que elegeu vários deputados e senadores na “onda Bolsonaro” de 2018. Mas assim como não existe “voto bolsonarista” para vereador, não existe “voto cirista”, e nem mesmo “voto lulista” – nenhum dos vereadores eleitos pelo PT se elegeram única e exclusivamente pelo uso da imagem de Lula, sem que tivessem base ou identidade próprias. É necessário que o candidato a vereador construa uma identidade própria, atrelada a um trabalho de base na sua localidade.

 Desvinculação entre as votações do Ciro e do PDT

Um desdobramento do que foi elencado acima é de que, a despeito do 3º lugar da eleição presidencial e dos seus 13.344.366 votos, esse saldo eleitoral do Ciro não se traduz automaticamente em saldo eleitoral para o PDT. Mesmo sendo uma das principais lideranças da oposição e pautando o tempo todo o debate econômico sobre um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento para o país, ao que parece esse saldo de visibilidade do Ciro não é aproveitado pelo PDT – ao contrário do que ocorre com Lula e o PT, por exemplo.

Isso pode ser visto na tabela a seguir, que compara a votação que o Ciro teve nas 26 capitais brasileiras com a votação das chapas do PDT em cada cidade. Esta análise tem o intuito de verificar o nível de fidelização dos eleitores do Ciro ao PDT – em outras palavras, se os eleitores que votaram no Ciro em 2018 passaram a votar no PDT em 2020. Isso é importante para caracterizar se o voto do Ciro é um voto personalista, ou se o eleitor médio do Ciro é capaz de relacioná-lo ao PDT e confiar o seu voto no partido.

Tabela 14: proporção de votos da chapa do PDT em 2020 em comparação com os votos do Ciro em 2018 nas 26 capitais brasileiras

Município Ciro (2018) Chapa do PDT (2020) Prop. (%) Candidato apoiado pelo PDT Situação do PDT na chapa
São Paulo 943.576 54.802 5,8% Márcio França Vice
Rio de Janeiro 645.674 62.473 9,7% Martha Rocha Titular
Porto Alegre 154.701 36.165 23,4% Juliana Brizola Titular
Curitiba 124.336 47.613 38,3% Goura Titular
Campo Grande 49.502 17.149 34,6% Dagoberto Nogueira Titular
Fortaleza 546.488 233.422 42,7% José Sarto Titular
Aracaju 57.722 25.559 44,3% Edvaldo Nogueira Titular
Recife 148.655 14.108 9,5% João Campos Vice
Salvador 195.666 57.217 29,2% Bruno Reis Vice
Belo Horizonte 248.144 74.554 30,0% Alexandre Kalil Integrante da coligação
Vitória 30.786 8.566 27,8% Fabrício Gandini Integrante da coligação
Florianópolis 43.895 5.393 12,3% Elson Pereira Integrante da coligação
Maceió 60.338 8.928 14,8% JHC Vice
Natal 97.802 45.939 47,0% Alvaro Dias Vice
São Luís 79.054 42.120 53,3% Neto Evangelista Vice
João Pessoa 72.007 14.312 19,9% Edilma Freire Vice
Teresina 61.965 34.507 55,7% Kleber Montezuma Integrante da coligação
Manaus 95.210 9.546 10,0% Ricardo Nicolau Integrante da coligação
Belém 141.667 17.258 12,2% Edmilson Rodrigues Integrante da coligação
Rio Branco 12.508 19.317 154,4% Socorro Neri Vice
Goiânia 88.555 12.200 13,8% Elias Vaz Vice
Cuiabá 25.853 9.021 34,9% Gisela Simona Vice
Palmas 12.649 6.692 52,9% Marcelo Lelis Vice
Boa Vista 10.843 1.005 9,3% Gerlane Baccarin Vice
Porto Velho 22.335 5.930 26,5% Vinicius Miguel Integrante da coligação
Macapá 34.571 9.996 28,9% Josiel Alcolumbre Integrante da coligação

Alguns dados chamam a atenção na tabela:

  • As cinco maiores votações da chapa do PDT em capitais, em números absolutos, foram, na sequência: Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Fortaleza sozinha garantiu 26,71% da votação do PDT em capitais.
  • A média da proporção de eleitores do PDT em relação aos eleitores do Ciro em todas as capitais ficou em 21,8%. Em se considerando apenas as 6 capitais em que o PDT ficou com a cabeça de chapa, a média ficou em 26,8% (sendo que Rio de Janeiro e Porto Alegre ficaram abaixo da média). A taxa de aproveitamento dos votos do Ciro foi de 36,1% em se considerando apenas as capitais do Nordeste, contra 27,6% nas capitais do Sul, e apenas 10,7% nas capitais do Sudeste.
  • São Paulo foi a capital que teve o mais baixo aproveitamento de votos do Ciro na chapa do PDT: 5,8%. Isso significa que a cada 17 eleitores que votaram no Ciro em 2018 na capital paulista, apenas 1 votou no PDT em 2020. Se em 2018 a capital paulista representou 23,56% dos votos do Ciro em capitais, em 2020 foi responsável por apenas 6,27% dos votos do PDT nas capitais brasileiras.
  • A única capital em que a votação da chapa do PDT superou a votação do Ciro de 2018 foi Rio Branco.
  • Em 7 capitais a votação da chapa do PDT superou 40% da votação do Ciro em 2018, todas capitais do Norte e do Nordeste: Rio Branco, Fortaleza, Aracaju, Natal, São Luís, Teresina e Palmas.

A tabela indica também uma falta de identidade partidária mais orgânica da parte do PDT, especialmente se compararmos ao PT. Se em São Paulo e no Rio de Janeiro – as duas maiores cidades do país – as chapas pedetistas fizeram respectivamente apenas 5,8% e 9,7% das votações do Ciro em 2018, nessas mesmas cidades as chapas do PT fizeram, em 2020, 52,1% dos votos de Haddad em São Paulo em 2018 e 35,7% da votação do Haddad no Rio. Ou seja, um em cada dois eleitores do Haddad em São Paulo votou na chapa do PT, e um em cada três eleitores do Haddad no Rio votou no PT, enquanto o PDT foi incapaz de fidelizar sequer um em cada dez eleitores do Ciro das duas metrópoles do país.

Falta de estrutura das candidaturas a vereador

Nesse ponto é necessário colocar o dedo na ferida: o PDT não investiu nas suas candidaturas proporcionais. Isso pode ser facilmente verificado comparando os recursos de fundo eleitoral recebidos pelas candidaturas dos partidos de esquerda. Essas informações são públicas e estão disponíveis para qualquer cidadão na plataforma Divulgacand do TSE.

O tema do financiamento público de campanhas costuma levantar muitos debates, e mesmo parte da esquerda se mostra receosa quanto à ideia de se financiar campanhas com dinheiro público. O Supremo Tribunal Federal declarou em 2015 inconstitucional o financiamento privado de campanhas feito por pessoas jurídicas. Quando ainda era permitido, era comum as empresas financiarem diversos candidatos de diferentes partidos, a fim de maximizar ganhos e cobrar contrapartidas dos eleitos – desde direcionamento de licitações, corrupção, até aprovação de projetos de lei de interesse direto dessas empresas em detrimento do povo, numa verdadeira privatização da representação parlamentar e captura do poder político pelo poder econômico.

Para substituir o financiamento empresarial de campanha, em 2017 o Congresso Nacional aprovou o Fundo Eleitoral de Financiamento de Campanha (FEFC) – também chamado de Fundo Eleitoral. Esse fundo se soma ao Fundo Partidário, que já existia desde 1995, como fontes de financiamento público de campanha para os partidos políticos. É um erro parte da esquerda adotar o discurso liberal de criminalização do financiamento público de campanhas, pois é esta forma de financiamento que possibilita que os partidos de esquerda e os candidatos que representam os interesses dos trabalhadores possam disputar com mais paridade contra os candidatos representantes do poder econômico e financeiro. Grupos como MBL e partido NOVO podem facilmente dizer que abrem mão do financiamento público de campanha porque seus candidatos são financiados pela nata do poder econômico e financeiro do país, para justamente representar os interesses econômicos dessas elites nas casas legislativas.

Na tabela a seguir podemos conferir quanto cada partido recebeu de Fundo Partidário e Fundo Eleitoral em 2020.

Tabela 15: valores de Fundo Partidário (valores distribuídos) e Fundo Eleitoral por partido em 2020

Partido  Fundo Partidário  Fundo Eleitoral Total
PSL  R$    89.819.560,92  R$  199.442.419,81  R$  289.261.980,73
PT  R$    75.403.849,47  R$  201.297.516,62  R$  276.701.366,09
MDB  R$    43.512.186,11  R$  148.253.393,14  R$  191.765.579,25
PSD  R$    45.896.087,55  R$  138.872.223,52  R$  184.768.311,07
PP  R$    43.839.046,11  R$  140.669.215,02  R$  184.508.261,13
PSDB  R$    46.994.745,89  R$  130.452.061,58  R$  177.446.807,47
PL  R$    41.861.259,56  R$  117.621.670,45  R$  159.482.930,01
DEM  R$    36.910.795,85  R$  120.810.759,08  R$  157.721.554,93
PSB  R$    43.380.089,51  R$  109.545.178,16  R$  152.925.267,67
REP  R$    40.071.858,22  R$  100.632.561,34  R$  140.704.419,56
PDT  R$    36.708.238,54  R$  103.314.544,11  R$  140.022.782,65
PODEMOS  R$    29.898.371,80  R$    77.968.130,80  R$  107.866.502,60
PTB  R$    17.226.373,01  R$    46.658.777,07  R$   63.885.150,08
PSOL  R$    23.083.085,98  R$    40.634.516,50  R$   63.717.602,48
SD  R$    16.690.500,44  R$    46.037.917,83  R$   62.728.418,27
NOVO  R$    22.807.221,13  R$    36.564.183,26  R$   59.371.404,39
PROS  R$    17.395.532,26  R$    37.187.846,96  R$   54.583.379,22
PATRIOTA  R$    19.246.629,94  R$    35.139.355,52  R$   54.385.985,46
CIDADANIA  R$    13.899.853,27  R$    35.824.724,42  R$   49.724.577,69
PCdoB  R$    17.561.437,40  R$    30.941.860,30  R$   48.503.297,70
PSC  R$    15.245.247,30  R$    33.239.786,22  R$   48.485.033,52
AVANTE  R$    15.928.421,68  R$    28.121.267,64  R$   44.049.689,32
PV  R$    13.918.872,64  R$    20.498.922,01  R$   34.417.794,65
REDE  R$                          –  R$    28.430.214,66  R$   28.430.214,66
PTC  R$                          –  R$      9.498.596,58  R$     9.498.596,58
PMN  R$                          –  R$      5.872.173,76  R$     5.872.173,76
DC  R$                          –  R$      4.025.171,90  R$     4.025.171,90
PCB  R$                          –  R$      1.233.305,95  R$     1.233.305,95
PCO  R$                          –  R$       1.233.305,95  R$    1.233.305,95
PMB  R$                          –  R$       1.233.305,95  R$    1.233.305,95
PRTB  R$                          –  R$       1.233.305,95  R$    1.233.305,95
PSTU  R$                          –  R$       1.233.305,95  R$    1.233.305,95
UP  R$                          –  R$       1.233.305,95  R$    1.233.305,95

É importante prestar atenção aos valores alocados ao PDT de fundos públicos de campanha. De fato, em 2020 o PDT recebeu um valor de Fundo Partidário equivalente a 48,7% do Fundo Partidário a que o PT tinha direito, e 51,3% do Fundo Eleitoral do PT. No entanto esses valores ainda são muito superiores ao que partidos como PSOL, PCdoB e REDE receberam (sendo que este último não tinha sequer direito ao Fundo Partidário). Uma coisa é afirmar que certos diretórios do PDT receberam menos repasses de fundos públicos de campanha do que outros; outra coisa é alegar que o PDT é um partido pobre, o que não é verdade e é facilmente desmentido pela tabela acima.

Dito isso, vamos comparar o financiamento partidário das candidaturas a vereador nas duas maiores cidades do país: São Paulo e Rio de Janeiro.

  • São Paulo

Vamos comparar o quanto receberam de recursos partidários as 10 candidaturas mais votadas dos principais partidos de esquerda, com base nos dados do Divulgacand.

Tabela 16: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PDT de São Paulo em 2020

Candidato Votos CNPJ da Campanha Antonio Neto Diretório Estadual PDT Diretório Municipal PDT Diretório Estadual PSB Total de recursos do PDT Total de recursos partidários (PDT + PSB)
Prof. Marcelo Nascimento  7.706  R$ 8.060,09 R$ 0,00  R$ 935,48  R$ 0,00  R$ 8.995,57  R$ 8.995,57
Wesley Periferia Ativa Búfalos  3.698  R$ 8.360,09 R$ 0,00  R$ 935,48  R$ 3.000,00  R$ 9.295,57 R$ 12.295,57
Barbara Panseri  3.477  R$ 8.510,09 R$ 0,00  R$ 935,48 R$ 15.000,00  R$ 9.445,57 R$ 24.445,57
Gabriel Cassiano  2.393  R$ 8.060,09 R$ 63.000,00  R$ 935,48 R$ 15.000,00 R$ 71.995,57 R$ 86.995,57
Thabata Ganga  2.375  R$ 5.560,09 R$ 0,00  R$ 935,48 R$ 20.000,00  R$ 6.495,57 R$ 26.495,57
Todd  1.721  R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00
Jesus da Periferia  1.533  R$ 3.300,00 R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 3.000,00  R$ 3.300,00  R$ 6.300,00
Claudinho de Oliveira  1.462  R$ 3.300,00 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 5.000,00  R$ 3.300,00  R$ 8.300,00
Leticia Gabriella  1.341  R$ 3.600,00  R$5.000,00  R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 8.600,00  R$ 8.600,00
Fernando Moura  1.334  R$ 7.260,09 R$ 0,00  R$ 935,48  R$ 3.000,00  R$ 8.195,57 R$ 11.195,57

 

Tabela 17: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PT de São Paulo em 2020

Candidato Votos CNPJ da Campanha Jilmar Tatto Diretório Nacional PT Diretório Estadual PT Diretório Municipal PT  TOTAL
Eduardo Suplicy  167.552  R$ 361,45 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 153.012,05  R$ 153.373,50
Donato  31.920  R$ 40.361,45 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 162.991,15  R$ 203.352,60
Alessandro Guedes  31.124  R$ 361,45 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 242.991,15  R$ 243.352,60
Jair Tatto  29.918  R$ 361,45 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 153.012,05  R$ 153.373,50
Juliana Cardoso  28.402  R$ 1.602,04 R$ 80.000,00 R$ 50.000,00  R$ 233.012,05  R$ 364.614,09
Senival Moura  25.311  R$ 361,45 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 242.991,15  R$ 243.352,60
Alfredinho  25.159  R$ 12.861,45 R$ 0,00 R$ 30.000,00  R$ 244.991,15  R$ 287.852,60
Arselino Tatto  25.021  R$ 361,45 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 153.012,05  R$ 153.373,50
Reis  23.300  R$ 361,45 R$ 0,00 R$ 80.000,00  R$ 242.991,15  R$ 323.352,60
Manoel Del Rio  23.075  R$ 8.361,45 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 115.212,05  R$ 123.573,50

Tabela 18: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PSOL de São Paulo em 2020

Vereador  Votação Diretório Nacional PSOL Diretório Estadual PSOL  TOTAL
Erika Hilton  50.508 R$ 0,00  R$ 62.484,34  R$ 62.484,34
Silvia da Bancada Feminista  46.267 R$ 0,00  R$ 41.656,23  R$ 41.656,23
Luana Alves  37.550 R$ 0,00  R$ 50.841,82  R$ 50.841,82
Celso Giannazi  28.535 R$ 0,00  R$ 98.040,61  R$ 98.040,61
Toninho Vespoli  26.748 R$ 0,00  R$ 98.040,61  R$ 98.040,61
Elaine do Quilombo Periférico  22.742 R$ 0,00  R$ 45.084,76  R$ 45.084,76
Juntas Mulheres Sem Teto  21.172 R$ 0,00  R$ 45.084,76  R$ 45.084,76
Andréa Werner  17.565 R$ 0,00  R$ 41.656,23  R$ 41.656,23
Ana Mielke  14.392 R$ 0,00  R$ 57.677,85  R$ 57.677,85
Keit Lima  11.355 R$ 9.987,56  R$ 0,00  R$ 9.987,56

Tabela 19: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PSB de São Paulo em 2020

Candidato  Votos Diretório Nacional PSB Diretório Estadual PSB Diretório Municipal PSB TOTAL
Camilo Cristofaro  23.431  R$ 0,00  R$ 226.000,00 R$ 0,00 R$ 226.000,00
Eliseu Gabriel  21.122  R$ 100.000,00  R$ 100.000,00 R$ 0,00 R$ 200.000,00
Masataka Ota  9.427  R$ 100.000,00  R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 100.000,00
Dr. Adriano Santos  5.813  R$ 0,00  R$ 18.000,00 R$ 0,00 R$ 18.000,00
Dr. Tanaka  5.535  R$ 0,00  R$ 48.000,00 R$ 0,00 R$ 48.000,00
André Negão  5.387  R$ 0,00  R$ 75.000,00 R$ 0,00 R$ 75.000,00
Samuel Emílio  4.090  R$ 60.000,00  R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 60.000,00
Diego Hypolito  3.786  R$ 0,00  R$ 70.000,00 R$ 30.000,00 R$ 100.000,00
Jailson  3.550  R$ 0,00  R$ 15.000,00 R$ 0,00 R$ 15.000,00
Prof. Herbert Melo  3.006  R$ 0,00  R$ 15.000,00 R$ 0,00 R$ 15.000,00

Tabela 20: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PCdoB de São Paulo em 2020

Candidato  Votos CNPJ da Campanha Orlando Silva Diretório Nacional PCdoB Diretório Estadual PCdoB Diretório Municipal PCdoB TOTAL
Profª Adriana Vasconcellos  7.961  R$ 0,00  R$ 75.000,00  R$ 1.983,83  R$ 14.800,00 R$ 91.783,83
Carina da Bancada Feminista  7.272  R$ 572,69  R$ 60.000,00  R$ 1.644,62  R$ 33.238,04 R$ 95.455,35
Rodrigo da Bancada Trabalhista  5.021  R$ 0,00  R$ 22.000,00  R$ 1.079,27  R$ 7.050,00 R$ 30.129,27
Mariana Moura  3.073  R$ 0,00  R$ 70.000,00  R$ 0,00  R$ 10.000,00 R$ 80.000,00
Camila Aguiar  2.218  R$ 0,00  R$ 15.000,00  R$ 513,92  R$ 1.830,51 R$ 17.344,43
Edson Passaro  2.024  R$ 107,38  R$ 14.000,00  R$ 626,99  R$ 2.610,00 R$ 17.344,37
Rozina de Jesus  1.920  R$ 0,00  R$ 82.022,10  R$ 1.624,62  R$ 7.930,00 R$ 91.576,72
Keila Pereira  1.772  R$ 8.067,38  R$ 52.010,45  R$ 513,92  R$ 2.610,00 R$ 63.201,75
Prof. José Valdene  1.765  R$ 107,38  R$ 2.000,00  R$ 400,85  R$ 2.934,00 R$ 5.442,23
Arnaldo Bispo  1.752  R$ 214,76  R$ 15.000,00  R$ 1.192,34  R$ 8.170,00 R$ 24.577,10

Tabela 21: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas da REDE de São Paulo em 2020

Candidato  Votos CNPJ da Campanha Marina Helou Diretório Municipal REDE TOTAL
Marina Bragante  9.710  R$ 580,00  R$ 34.039,52  R$ 34.619,52
Flávia Bellaguarda  4.869  R$ 870,00  R$ 49.412,00  R$ 50.282,00
Raquel Marques  4.704  R$ 290,00  R$ 57.398,00  R$ 57.688,00
Vinícius Lima  4.370  R$ 0,00  R$ 57.552,00  R$ 57.552,00
Lia Esperança  4.070  R$ 1.632,20  R$ 46.984,00  R$ 48.616,20
Tami Fakih  2.734  R$ 0,00  R$ 40.666,01  R$ 40.666,01
Patricia Zanella  2.668  R$ 648,60  R$ 25.270,01  R$ 25.918,61
Fernanda Gomes  2.256  R$ 3.230,00  R$ 34.092,00  R$ 37.322,00
Anderson Severiano  2.171  R$ 0,00  R$ 30.106,00  R$ 30.106,00
Lígia Jalantonio  1.538  R$ 667,50  R$ 15.158,00  R$ 15.825,50

Comparando as tabelas, e considerando apenas as 10 candidaturas mais votadas de cada partido, percebe-se que o PDT foi o partido de esquerda que menos investiu em suas candidaturas a vereador: em média o partido direcionou R$ 12.962,34 por candidato. Mesmo assim essa distribuição de recursos foi bastante desigual: uma das candidaturas (Todd) não contabilizou nenhum recurso recebido, e uma única candidatura (Gabriel Cassiano) recebeu R$ 63.000,00 apenas do Diretório Estadual do PDT. Se fizermos a média dos valores do PDT desconsiderando esta candidatura específica (cujo valor elevado acaba por distorcer a média para cima), o financiamento médio dos mais votados do PDT é de apenas R$ 6.403,09 por candidato, na maior cidade do país – contra R$ 55.055,48 do PSOL, R$ 51.685,51 do PCdoB e R$ 39.859,58 da REDE (ver tabela 28). Além do mais, três candidaturas (Barbara Panseri, Thabata Ganga e Claudinho de Oliveira) receberam mais recursos do PSB (partido da coligação) do que do próprio PDT. O resultado colhido pelo PDT paulistano nas urnas apenas é reflexo disso: queda de 57,5% em comparação com a votação do partido em 2016, e apenas 5,8% dos votos recebidos pelo Ciro em São Paulo em 2018 – o pior aproveitamento do PDT entre todas as capitais.

  • Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, 2º maior colégio eleitoral do país, o PDT lançou Martha Rocha como candidata. Considerando o quanto que o Diretório Nacional do PDT investiu na candidatura majoritária (R$ 5.210.000,00)[7], percebe-se que eles trataram Martha como uma candidata competitiva, que em determinadas pesquisas chegou a ficar em 2º lugar e ameaçar a vaga de Crivella no segundo turno. Vejamos se o PDT investiu para que Martha Rocha tivesse uma base de apoio na Câmara Municipal para sustentá-la.

Tabela 22: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PDT do Rio de Janeiro em 2020

Candidato  Votos CNPJ da Campanha Martha Rocha Diretório Estadual PDT Diretório Municipal PDT Total
Fernando William  13.327  R$ 862,50  R$ 0,00  R$ 39.989,59  R$ 40.852,09
Everton Gomes  4.167  R$ 9.475,00  R$ 8.700,00  R$ 17.106,00  R$ 35.281,00
Vitor Almeida  3.510  R$ 6.660,00  R$ 0,00  R$ 583,78 R$ 7.243,78
Fernando William  3.211  R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00 R$ 0,00
Toninho Bondade  2.273  R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00 R$ 0,00
Leandro Farias  1.166  R$ 6.800,00  R$ 0,00  R$ 583,78 R$ 7.383,78
Claudio Aranha  1.115  R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00 R$ 0,00
Fernando Mendonça  1.006  R$ 6.800,00  R$ 0,00  R$ 583,78 R$ 7.383,78
Toninho Albuquerque  981  R$ 8.760,00  R$ 0,00  R$ 583,78 R$ 9.343,78
GM Rodrigo Figueiredo  829  R$ 1.425,00  R$ 0,00  R$ 5.833,78 R$ 7.258,78

Tabela 23: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PT do Rio de Janeiro em 2020

Candidato  Votos CNPJ da Campanha Benedita da Silva Diretório Nacional PT Diretório Estadual PT Total
Lindbergh Farias 24.912  R$25.540,00 R$ 0,00  R$ 144.720,00  R$170.260,00
Tainá de Paula 24.881  R$3.040,00 R$ 0,00  R$ 98.000,00  R$101.040,00
Reimont 16.082  R$3.040,00 R$ 0,00  R$ 108.000,00  R$111.040,00
Luciana Novaes 15.311  R$4.800,00 R$ 30.000,00  R$ 198.160,00  R$232.960,00
Elika Takimoto 11.857  R$3.040,00 R$ 0,00  R$ 100.000,00  R$103.040,00
Edson Santos 4.468  R$3.040,00 R$ 0,00  R$ 140.000,00  R$143.040,00
Niquinho 3.006  R$3.040,00 R$ 0,00  R$ 50.000,00  R$53.040,00
Indianarae Siqueira 2.504  R$37,50 R$ 0,00  R$ 40.000,00  R$40.037,50
Robson do Chocolate 2.366  R$1.390,00 R$ 0,00  R$ 30.000,00  R$31.390,00
PC Allevato 1.395  R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00

Tabela 24: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PSOL do Rio de Janeiro em 2020

Candidato  Votos CNPJ da Campanha Renata Souza Diretório Municipal PSOL Total
Tarcisio Motta  86.243  R$ 32.740,00  R$ 127.742,44  R$ 160.482,44
Chico Alencar  49.422  R$ 0,00  R$ 127.742,44  R$ 127.742,44
Monica Benicio  22.919  R$ 40.000,00  R$ 126.831,25  R$ 166.831,25
Paulo Pinheiro  14.760  R$ 0,00  R$ 82.376,94  R$ 82.376,94
Thais Ferreira  14.284  R$ 0,00  R$ 2.368,49  R$ 2.368,49
William Siri  9.957  R$ 0,00  R$ 42.267,99  R$ 42.267,99
Dr. Marcos Paulo  9.009  R$ 0,00  R$ 82.358,44  R$ 82.358,44
Luciana Boiteux  8.909  R$ 16.500,00  R$ 82.353,16  R$ 98.853,16
Monica Cunha  7.253  R$ 13.577,50  R$ 82.334,66  R$ 95.912,16
Leonel Brizola Neto  5.978  R$ 0,00  R$ 80.021,38  R$ 80.021,38

Tabela 25: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PSB do Rio de Janeiro em 2020

Vereador Votação Diretório Nacional PSB Diretório Estadual PSB Diretório Municipal PSB  Total
Renato Pellizzari  7.413  R$ 0,00  R$ 23.000,00  R$ 0,00  R$23.000,00
A Liga Candidatura Coletiva  2.985 R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 26.845,58  R$26.845,58
Felipe Berin  2.086 R$ 0,00 R$ 25.000,00  R$ 2.350,00  R$27.350,00
Francisco Budal  1.981 R$ 0,00 R$ 23.000,00  R$ 1.757,58  R$24.757,58
Guilherme Cohen  1.760 R$ 0,00 R$ 24.500,00  R$ 1.100,00  R$25.600,00
Cynthia Vallim  1.572 R$ 0,00 R$ 34.500,00  R$ 2.351,58  R$36.851,58
João Pedro Rocha  1.572 R$ 0,00 R$ 34.500,00  R$ 2.351,58  R$36.851,58
Marcelo da Internet  1.535 R$ 0,00 R$ 2.000,00  R$ 2.335,58  R$4.335,58
Biscaia  1.165 R$ 33.000,00 R$ 0,00  R$ 2.280,00  R$35.280,00
Prof. Helton Moreira  1.071 R$ 0,00 R$ 0,00  R$ 1.100,00  R$1.100,00

Tabela 26: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas do PCdoB do Rio de Janeiro em 2020

Candidato  Votos Diretório Nacional PCdoB Diretório Municipal PCdoB Total
Marcelinho do CIEP  3.045  R$ 25.016,13  R$ 3.000,00  R$ 28.016,13
Enfermeiro Glauber Amancio  2.840  R$ 63.161,32  R$ 0,00  R$ 63.161,32
Campanha Delas  1.885  R$ 85.032,26  R$ 3.000,00  R$ 88.032,26
Marcio Ayer  1.882  R$ 57.161,32  R$ 0,00  R$ 57.161,32
Prof. Edson Paiva  1.551  R$ 6.258,06  R$ 307,50  R$ 6.565,56
João Xavier  1.482  R$ 87.032,26  R$ 0,00  R$ 87.032,26
Rafael Floriano  1.445  R$ 0,00  R$ 307,50  R$ 307,50
Alcimar Batista  1.320  R$ 14.316,13  R$ 0,00  R$ 14.316,13
Elen Ferreira  1.274  R$ 0,00  R$ 0,00  R$ 0,00
Jairo da Saúde  973  R$ 6.258,06  R$ 1.307,50  R$ 7.565,56

Tabela 27: Total de recursos partidários obtidos pelas 10 candidaturas a vereador mais votadas da REDE do Rio de Janeiro em 2020

Candidato  Votos CNPJ da Campanha Eduardo Bandeira CNPJ da Campanha Andrea Gouvêa (vice) Total
Coletivas 3.409  R$3.729,06  R$ 15.000,00  R$18.729,06
Marco Pereira 1.137  R$3.500,00  R$ 0,00  R$3.500,00
Vanessa Santos Enfermeira 799  R$3.914,06  R$ 7.100,00  R$11.014,06
Simone Pereira 675  R$3.729,06  R$ 0,00  R$3.729,06
Fabio Mamedio 619  R$11.086,06  R$ 0,00  R$11.086,06
Ivania Ferreira 573  R$3.624,06  R$ 1.700,00  R$5.324,06
Fabio Guimarães 537  R$7.566,06  R$ 0,00  R$7.566,06
Elaine Ferreira 509  R$3.201,66  R$ 2.600,00  R$5.801,66
Carlinhos da Comunidade 492  R$6.376,06  R$ 0,00  R$6.376,06
Luiz Carlos Delega 429  R$3.671,06  R$ 0,00  R$3.671,06

Caso tivesse sido eleita, Martha Rocha enfrentaria uma câmara de vereadores bastante hostil, uma vez que o PDT elegeu apenas 1 único vereador. Todavia o resultado eleitoral da chapa do PDT carioca era previsível, visto que o partido foi o 2º partido de esquerda que menos investiu nas candidaturas proporcionais (considerando o valor médio recebido pelos 10 mais votados); três dos mais votados do partido (Fernando William, Toninho Bondade e Claudio Aranha) não receberam nenhum financiamento público do partido, sendo um dele vereador do partido com mandato (Fernando Willaim). A chapa do PDT como um todo ficou com uma votação 39,1% menor que a de 2016.

 Conclusão

O PDT desperdiçou a oportunidade de eleger novos quadros trabalhistas da base partidária nas eleições de 2020, por não ter tratado as eleições proporcionais com o mesmo olhar estratégico com que tratou as eleições majoritárias. É necessário questionar o que o PDT fez com sua cota de fundo partidário e eleitoral de 2020, porque esses recursos não foram investidos de maneira estratégia. Isso fica claro ao se comparar o financiamento médio que o partido investiu, em relação a outros partidos de esquerda.

Tabela 28: Valor médio dos recursos partidários advindos do próprio partido para as 10 candidaturas mais votadas dos partidos de esquerda em São Paulo e no Rio de Janeiro em 2020

Partido São Paulo Rio de Janeiro
PT  R$   224.957,11  R$   98.584,75
PSOL  R$     55.055,48  R$   93.921,47
PDT  R$     12.962,34  R$   11.474,70
PSB  R$     85.700,00  R$   24.197,19
PCdoB  R$     51.685,51  R$   35.215,80
REDE  R$     39.859,58  R$     7.679,71

Nas duas capitais em que Ciro obteve suas maiores votações nominais em 2018 – São Paulo e Rio de Janeiro – a votação da chapa do PDT encolheu em relação a 2016, enquanto o PT conseguiu aumentar sua votação no Rio e o PSOL cresceu nas duas cidades (cresceu 140,8% em São Paulo em relação a 2016). Caso o partido tivesse enxergado como estratégico eleger bancadas fortes nas duas metrópoles do país, poderia aproveitar esses mandatos como vitrines para o trabalhismo, nas duas cidades que são o centro da política nacional. O PSOL já ultrapassou o PDT e se torno o 2º maior partido de esquerda nas cidades com mais de 500 mil habitantes, e isso trará reflexos já na eleição para a Câmara Federal em 2022 – o que por sua vez também terá reflexos na cota de fundos eleitoral e partidário a que cada partido terá direito a partir de 2023.

O PDT precisa decidir que tipo de partido quer ser – se quer continuar sendo apenas uma legenda para quadros políticos (inclusive fisiológicos), ou se quer de fato voltar a ser um partido de esquerda. Para isso precisa investir na renovação de quadros, desprender recursos, garantir visibilidade e poder real a esses quadros da base. Também precisa apostar em quadros jovens, que falem a linguagem da juventude, que não tenham medo de adotar um posicionamento progressista e de dialogarem com as lutas do povo[8], inclusive a dos chamados novos movimentos sociais de representatividade, como o movimento feminista, o movimento negro e LGBT, sem reduzi-los a “identitarismo”.

Além disso nossos candidatos precisam de fato investir no trabalho de base. Seja no movimento estudantil, no movimento sindical, nas entidades de classe, nos cursinhos populares, nos bairros, nas igrejas, nas periferias, nos coletivos de mulheres, nos movimentos de juventude; os quadros do partido precisam fazer um trabalho contínuo de base que não seja apenas no ano da eleição, pois não existe liderança popular sem base popular, e mesmo todo o financiamento de campanha do mundo não dá conta de eleger uma candidatura sem base. Também é necessário que nossos candidatos busquem assumir identidade própria, com uma construção política própria, sem depender única e exclusivamente da figura do Ciro. Ciro Gomes sem dúvida é um quadro importante na renovação do nosso partido e é nosso candidato para 2022, mas o trabalhismo vai além do cirismo. Nossa corrente política tem história, tem um legado de realizações e contribuições para a construção do Brasil desde Vargas até Brizola, e tem um legado de formulações originais sobre o Brasil que passa por pensadores como Pasqualini, Abdias, Lélia, Darcy, Theotônio dos Santos, entre outros autores que devem ser constantemente lidos e estudados pelas lideranças trabalhistas.

O processo de reconstrução do trabalhismo também deve visar a coerência partidária. Parte do insucesso eleitoral do PDT se dá porque a esquerda tem receio de votar no PDT e eleger pessoas que irão trair a bancada e votar contra os trabalhadores. Não adianta a militância trabalhista criticar PT e PSOL sem cuidar do próprio quintal, porque esses partidos conseguem coordenar suas bancadas para que sempre votem de maneira unificada e coesa, e não há espaço para deputados que traem a bancada e votam contra os trabalhadores nesses partidos. Por quê o PT consegue coordenar uma bancada de 54 deputados para que sempre votem de acordo com a orientação partidária e o PDT com 28 deputados não consegue fazer isso? Existe um espaço vago no espectro político brasileiro para um partido de esquerda nacionalista, e o PDT tem todas as condições de ocupar esse espaço. Mas como se firmar aos olhos da população como um partido de esquerda nacionalista se parte da bancada federal vota a favor da privatização da água, da compra de terras por estrangeiros, da entrega da Base de Alcântara, da desnacionalização das companhias aéreas, entre outras pautas entreguistas, e nada acontece com esses deputados traidores?

Para concluir, é muito importante que a militância do PDT adote uma postura de mais humildade e autocrítica. Não adianta cobrar autocrítica do PT e não olhar para os problemas do próprio partido. O PDT ainda tem um longo caminho a percorrer para se firmar novamente como um partido orgânico de esquerda. Mais do que um otimismo cego e triunfalismo subserviente, precisamos adotar um espírito de reflexão e abertura ao debate que ajude nosso partido a corrigir seus erros e caminhar rumo à combatividade e coerência partidária. Falta menos de dois anos para a eleição presidencial de 2022; Ciro será candidato à presidência, e precisa de uma base parlamentar orgânica e coesa para sustentar seu governo, caso contrário se tornará apenas mais um presidente refém do Centrão fisiológico e incapaz de pôr em prática o próprio programa de governo. Todo o investimento de renovação do PDT deve ser direcionado para este objetivo agora, inclusive com a candidatura à Câmara Federal dos quadros do PDT que foram derrotados nas eleições majoritárias. Com essa contribuição, encerro o meu balanço sobre o PDT nas eleições de 2020.

Por Felipe Augusto Ferreira, graduado em Relações Internacionais pela USP, funcionário público e membro da Executiva Municipal do PDT de São Paulo.