O processo de desmanche da qualidade do trabalho da SME do Rio de Janeiro chegou à Subsecretaria de Ensino (SubE). Os relatos são impressionantes. A tristeza é geral. Predomina um sentimento de perplexidade.
Ali é o coração do nível central da SME, onde se trata, antes de tudo, de pedagogia e aprendizado. É a área-fim por excelência. Dediquei grande atenção ao seu desempenho.
Para lidar com uma rede tão grande – 1.538 escolas, 650 mil alunos — havíamos montado uma rotina de trabalho muito bem ajustada, aproveitando também diversas iniciativas positivas de gestões anteriores. Vou apresentá-la de forma simplificada.
A Gerência de Currículo interagia com as equipes que produziam provas bimestrais aplicadas em toda a rede, conforme o nível esperado para cada série.
Os professores aplicavam as provas e lançavam os resultados no sistema. Eles eram capturados pelo Núcleo de Informações Estratégicas Educacionais (NIEE), que fazia todos os recortes possíveis. A cada dois meses, sabíamos, por exemplo, o nome, a turma e a escola de todos os alunos que estavam com conceito insuficiente; conhecíamos o desempenho de cada turma em cada disciplina; e assim por diante.
Esses resultados quantitativos eram analisados e complementados pela Gerência de Avaliação, que agregava análises qualitativas, tanto gerais quanto específicas por região, por disciplina, por séries, por escolas e por turmas.
De posse dessas análises, definíamos prioridades pedagógicas para a rede.
Em paralelo, a Gerência de Supervisão orientava a atividade dos cerca de 200 professores-supervisores, cada um responsável por um subconjunto de escolas situado em uma mesma uma microárea da cidade. Eles iam ao campo, para interagir com diretores e professores, com todas as informações sobre o desempenho pedagógico de cada escola, até o nível individual de cada aluno. Definiam-se, então, medidas específicas, adequadas para cada caso.
As análises da Gerência de Avaliação serviam de base para a produção do material didático do bimestre seguinte, feita por equipes de professores da própria SME, sob a coordenação da Gerência específica.
Dávamos grande ênfase a acompanhar o desempenho do time de 1.900 professores-alfabetizadores, organizados e liderados pela Gerência de Alfabetização, que trabalhava em íntima ligação com a Gerência de Educação Infantil. Sabíamos que o bom desempenho nessas duas áreas era essencial. Os professores-alfabetizadores mantinham encontros mensais entre si para trocar experiências.
O ciclo de trabalho da SubE era bimestral, cobrindo o período entre duas provas aplicadas em toda a rede, adequadas a cada série. Os resultados dessas provas, rapidamente consolidados pelo NIEE com apoio da Assessoria de Informática, eram o nosso insumo permanente de trabalho, junto com os relatórios de campo preparados pelas equipes de supervisão.
Trabalhávamos exaustivamente, mas com a alegria de quem sente estar cumprindo uma grande missão.
* * *
Tudo isso se perdeu. As equipes foram desfeitas e dispensadas coletivamente, sem que a atual gestão tivesse dialogado com elas para tentar entender como a SubE se organizava.
Foram extintas as provas bimestrais. A SME passa a trabalhar às cegas.
Deixaram de existir o NIEE, os times de professores-alfabetizadores e de supervisores, as gerências de Avaliação, de Alfabetização, de Currículo, de Supervisão etc. É um apagão pedagógico. Cada um por si.
A SME se transformou em um puxadinho da Casa Civil, dedicada a cumprir a agenda fisiológica de um vereador inescrupuloso e medíocre, que nada sabe de educação. As questões corporativas voltam a dominar tudo, para que os políticos manejem reivindicações de cada grupo.
É de partir o coração. Lamento, sinceramente, escrever isso: um crime perfeito, pois ninguém defenderá o direito das crianças ao aprendizado. Elas são o elo fraco nessa politicagem.
Assim se fazem carreiras políticas e se constrói o subdesenvolvimento.
Neste link, republico meu artigo “Educação básica: o começo de tudo”, que explicita as bases teóricas do trabalho que estávamos fazendo.
Por Cesar Benjamin