Os ‘pensamentos caóticos’ da extrema-direita

Os pensamentos caóticos da extrema-direita
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Algo que me fascina na extrema-direita norte-americana — e na brasileira também — é sua cultura completamente incoerente, sua bricolagem de referências sobrepostas que não guardam relação interna de coerência lógica ou temporal. É uma radicalização da cultura do capitalismo pós-moderno, aquela da fragmentação em múltiplas direções nunca totalizáveis por uma narrativa minimamente consistente.

Exemplo? O Steve Bannon. O retrato perfeito do fascismo pós-moderno e profundamente americano: um gênio comercial e midiático sem qualquer rigor no seu uso suberabundante de referências de um passado idealizado.

O guru do Trump vive falando da sua admiração por Julius Evola — uma figura de culto na extrema-direita global –, da mesma forma que a chamada alt-right faz, ao mesmo tempo que clama pela defesa do Ocidente judaico-cristão.

Ora, Evola desprezava tanto o judaísmo — era antissemita e admirava muito a SS-Waffen, chegando a trabalhar para serviços de inteligência nazistas — quanto o cristianismo, particularmente na sua vertente protestante, a qual ele associava ao materialismo e à fraqueza igualitária e democrática. Cultivava um ódio mortal aos EUA e à Israel. Desprezava o próprio nacionalismo como algo decadente, preferindo uma visão pan-européia, de um Império supra-nacional.

Sua inclinação espiritual se direcionava à magia negra (“caminho da mão esquerda”), ao ocultismo, às tradições herméticas e esotéricas, às vertentes mais “tântricas”, sexuais e agressivas das culturas orientais. Se eu fosse cristão, eu acharia que o cara é o próprio capeta em pessoa.

Como um cara tão luciferiano pode ser a inspiração de gente apegada a uma identidade cristã radical e de um entusiasmo fanático por Israel? Aqui, no Brasil, é a mesma coisa. Bisbilhotando grupos de extrema-direita “intelectuais” vejo que muitos evolianos são bolsonaristas e alguns possuem cargos no governo federal — inclusive aquele que era o principal estudioso de Evola no Brasil.

Só gente com “pensamentos caóticos”, como diria a turma do Hermes e Renato.