Breves notas contra o entreguismo histórico e cultural.
Demorou, mas chegou. O telequete entre Bolsonaro e as massas já não é mais uma questão de “se”, mas de “quando”, parafraseando o deputado que adora pendurar os dentes em uma tradição kukluxaniana.
Parece ser esse também o “ato falho” do recente artigo do General Mourão[1]. Diz, num primeiro momento, que a luta antirracial americana não teria espaço no Brasil, “mais tolerante” com sua gente. Nesse sentido, seria um “equívoco” exportar rebeliões e insatisfações alheias, assim como símbolos advindos de lutas contra o “extremismo” que assolou a Europa – leia-se: da Segunda Guerra Mundial. Para construir sua argumentação recorre à citação de um presidente norte-americano (!). Quer evitar o pensamento teleguiado com uma visão de mundo teleguiada. O neocolonialismo, assim como o vírus, não tem lado: atinge a esquerda e a direita do espectro brasileiro.
No entanto, o vice-presidente pisa na memória de luta do povo brasileiro, e em especial, da Força Expedicionária Brasileira e da Força Aérea. Ora, se o extremismo não havia atingido o país – se esquece dos navios afundados em Natal por submarinos alemães – o que então foram os praças se meter em uma luta que era “exclusivamente européia”?
O vice-presidente pratica, ou por ignorância ou por total insensatez, o silenciamento de compatriotas na Segunda Guerra Mundial. Para defender correligionários do presidente, que hoje ateam bandeiras ucranianas neonazistas que “ontem” lutaram contra os praças e os Aliados, se esquece da história de luta militar antifascista, que deveria ser lembrada por todos os brasileiros.
Concordo com o vice-presidente em um aspecto. De fato, não precisamos dos símbolos antifascistas alheios. Já temos os nossos. Temos a honra de lembrar a história daqueles que destruíram o fascismo, anos depois foram destituidos pelo Ato Institucional número 1 em 1964, como o Brigadeiro Rui Moreira Lima, um dos maiores lutadores da Força Aérea Brasileira.
Para derrotar os ucranianos neocolonizados, que resgatemos a história de luta dos próprios militares e coloquemos os seus símbolos na rua, em nosso favor. Lembremos a eles que em solo brasileiro, que a “cobra fuma” e a gente Senta a Pua contra essa gente.
Não devemos aceitar o entreguismo cultural. É a pedagogia de maior desonra para uma nação antifascista como a brasileira.
[1] https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,opiniao-e-principios,70003322799