Os bastidores do dia 26 de maio

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Foto: Diego Var/Reuters
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A análise dos bastidores na semana que antecedem as manifestações a favor do governo serve de laboratório político. Apesar de saltar mais aos olhos a atípica necessidade juvenil de autoafirmação com uma convocação de apoio a um governo de cinco meses, a articulação do próprio evento é reveladora e confirma a ideia de que os eleitores do Bolsonaro nunca compuseram um grupo coeso.

A repetição da narrativa de: “os fascistas elegeram o Bolsonaro” foi muito comum após a consagração do candidato do PSL, sobretudo no discurso do Partido dos Trabalhadores. Entretanto, essa irreal rotulação no esforço de transformar todos os 57 milhões de átomos do Bolsonaro em uma só matéria, foi a forma mais cômoda encontrada pelos petistas para justificar a própria derrota.

Ao definir que todos os outros são fascistas, o PT, além de não aceitar e tentar camuflar o imenso antipetismo convertido em votos para a vitória do rival, ainda tenta se firmar como salvação ao fascismo. Contra ideologias totalitárias como a fascista, inexiste meio termo. Ou se é fascista ou não se é. Assim, ao unificar todos os eleitores de Bolsonaro em um grupo de fascistas, automaticamente também se une toda a oposição a ideia de não fascistas, logo se intenciona formar o ideário de que se não for um deles (fascista), está comigo (antifascista).

Todavia, essa retórica de bipartidarismo ideológico não se sustenta na prática. As pessoas que vivem em um mundo real, que está muito além da retórica, sabem que seu tio, primo e amigo tiveram ambos motivos diferentes para votarem em Bolsonaro. Essa multiplicidade foi evidenciada na preparação dessa distinta manifestação de 26 de maio.

Tão logo se divulgou o evento, as distinções entre as lideranças que representam o núcleo dos eleitores do Bolsonaro apareceram. Vimos políticos que brigavam com outros políticos, que brigavam com youtubers, que brigavam com cantores, que brigavam com apresentadores, que brigavam com influenciadores digitais, que brigavam com os militares, que brigavam com ministros, que brigavam com o astrólogo, que brigou com pastores, que brigavam com os herdeiros e por aí vai.

Essa quadrilha às avessas, no sentido buarqueano do termo, reflete a pluralidade de interesses e visões envolvidas na vitória do presidente. Atesta também a falta de projeto de governo de um presidente que foi eleito em silêncio e deixou subtendido que poderia ultrapassar a barreira do possível e agradar todos esses grupos que são diferentes em origem.

Nessa leitura, se é possível fracionar algo ao meio são os próprios eleitores do Bolsonaro. Esses sim é que podem ser divididos entre o grupo dos que votaram no Bolsonaro porque quiseram e outro grupo de cidadãos que votaram porque não queriam votar no PT, sendo que pertencer a um desses grupos não é requisito para ser excluído do outro. O primeiro grupo contempla a diversidade dos personagens da base do governo. São separadamente armamentistas, religiosos, moralistas, ingênuos, liberais, fascistas, esperançosos, oportunistas, apolíticos, ruralistas entre outros. Todos esses subgrupos estão gradativamente se encontrando com a decepção. O segundo grupo, do antipetismo, não se decepcionou, pois não tinha expectativa alguma no governo, apenas não queria o retorno do PT, o que nesse caso está consumado.

Entender essa composição é uma importante forma de fugir da armadilha daqueles que querem surgir como heróis do caos e reduzir o debate político ao propósito raso e fictício de combate aos fascistas. O comportamento político maduro para as próximas eleições tem que se desprender da oposição aos eleitores para se concentrar na oposição ao governo. Pois se ao governo cabe todas as críticas possíveis, aos eleitores só cabe a informação educativa, como muito bem sugere o Observatório Trabalhista.

Por Borges Lima.