A truculência petista vem de longe (eu a vi em 1986 e a vejo hoje)

truculência petista pt lula luís carlos prestes 2 - Cópia

As fotografias que ilustram este artigo foram tiradas no dia 1º de maio de 1986, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Portanto, no Dia do Trabalhador de dois anos antes de termos a Constituição que terminou de redemocratizar o país. Nelas, ninguém menos que Luís Carlos Prestes está sobre o palanque montado por sindicatos. Creio que a enorme figura de Prestes – o Cavaleiro da Esperança, o grande líder Tenentista – dispense apresentações.

Estas fotografias foram tiradas por meu pai, de próprio punho. Eu, então com nove anos, estava ao seu lado. E por que trazer de volta estas memórias?

Porque aquele 1º de maio terminou de maneira funesta, e os motivos para isto reaparecem perigosamente no Brasil de hoje, 33 anos depois. Naquele dia, Prestes foi impedido de discursar aos trabalhadores reunidos na Quinta. Armou-se uma confusão atrás do Cavaleiro da Esperança, e algumas personagens políticas menores resolveram autoritariamente retirar-lhe o microfone e retirá-lo do palanque. Podem reparar que na primeira imagem Prestes está falando, mas na segunda ele observa o tumulto atrás de si, já sem o microfone na mão.

O que ocorreu naquele dia? Muito simples: Prestes havia apoiado Leonel Brizola em 1982 para o governo do Rio de Janeiro, e já então era Presidente de Honra do PDT. O ato naquele 1º de maio era organizado pela CUT-RJ, que naquele momento histórico era uma correia de transmissão do PT.

Muito provavelmente, Prestes foi convidado por alguma liderança histórica como ele, e chegando lá viu-se vetado com truculência por um tipo de radicalismo esquerdista que negava a História do Brasil, que era anti-Brizolista e naquele dia revelou-se antagônico a uma das figuras mais incontestes da Esquerda Histórica brasileira. Tudo terminou, então, com Prestes sendo expulso de um ato sindicalista num 1º de maio. O Cavaleiro da Esperança morreria quatro anos depois, ainda Presidente de Honra do PDT.

33 anos depois

A opção petista pela animosidade e a truculência vêm de longe. Escrevo esta memória pessoal por uma única razão: no Brasil de hoje ela se repete contra qualquer voz que ouse atacar o PT e sua irresponsabilidade. É o método de sempre. Cria-se um ambiente hostil em torno da pessoa a quem querem destruir, fazem difamações, ridicularizam, excluem.

Quando eu era um menino filho de Brizolista no Rio de Janeiro em que Brizola era governador e grande liderança, esta prática antidemocrática foi usada contra Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Luís Carlos Prestes.

Depois, muitos foram alvo da máquina de difamação raivosa petista. Um belo exemplo disto é Itamar Franco, contra quem o PT fez oposição sistemática rechaçando um pacto de união nacional que então era de alta necessidade. Antes, a atriz Bete Mendes e outros dois parlamentares petistas que haviam optado por votar no Colégio Eleitoral em favor de Tancredo Neves contra Paulo Maluf haviam sido expulsos. Quando da promulgação da Constituição, o próprio Lula em pessoa que tinha sido deputado constituinte se recusou a assinar a Constituição que hoje tanto jura defender.

Hoje a vítima é Ciro Gomes, que ousa criticar por suas óbvias contradições aquele que é tratado como a semi-divindade do petismo. É certo que Lula governou sem alterar a estrutura tributária do país. É exato afirmar que a concentração bancária aumentou em seu governo. Ele próprio admitiu que em seu governo os bancos ganharam dinheiro como nunca. Para não falar na vergonha que foram as manipulações estatísticas que falsearam os resultados sociais em sua gestão. Nada disso, no entanto, pode ser criticado. Quem ousa é achincalhado, ridicularizado, isolado.

Mais do que direito a criticar, Ciro tem o dever de criticar Lula. Pois se todo dia Lula é considerado (com justa razão) conivente com a corrupção, nunca é criticado por sua aliança com o capital financeiro, por sua forma excludente e hegemônica de fazer política, por sua arrogância violenta.

O que será do futuro do Brasil, ninguém sabe. Mas é certo que Ciro Gomes já ocupa um honroso lugar ao lado de Leonel Brizola, Luís Carlos Prestes, Darcy Ribeiro, Itamar Franco e também vários bons petistas que foram vítimas da difamação e violência que são as marcas da ação política do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva.

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