Para além do fascismo

Caso Bolsonaro seja eleito, se a oposição ao seu governo se resumir a lhe gritar "fascista!", estaremos perdidos.

O PT, ao declarar que a candidatura de Bolsonaro representa um perigo à ordem democrática, reafirma, dialeticamente, o discurso reativo de certos eleitores do capitão reformado.

Isso é o que a militância petista não enxerga.

Ao menos, o PT começou, tardiamente, a mudar sua postura, passando a se desvincular do discurso “Lula livre”. Tanto que Haddad andou trocando figurinhas com expoentes da Lava Jato, como Joaquim Barbosa.

O grande problema do PT e, principalmente, de sua militância, é não reconhecer que Bolsonaro, se eleito, irá adaptar-se à ordem institucional.

O Estado em sua forma constitucional atual é instrumento ideal para a postura radical liberal do economista Paulo Guedes. Não seria preciso valer-se de golpe algum. Diretos sociais irão ser reduzidos? Claro, mas sem a necessidade de romper com a ordem constitucional vigente. Aliás, os dois candidatos, ao serem pressionados pela bancada do Jornal Nacional, rechaçaram substituir a Constituição de 1988.

Bolsonaro, como representante da anti-política, é a figura vitoriosa da Operação Lava Jato. O espectro político foi sugado e delimitado por ela. Seu partido, PSL, aparelhou-se da Câmara dos Deputados justamente no momento de vigência da cláusula de barreira partidária (ou cláusula de desempenho). Vitória da direita.

Nesse cenário, cumpre à esquerda primeiramente situar-se. A Lava Jato pautou as eleições de 2018 e está na boca do povo o desejo pelo fim da corrupção. Não há como ignorá-la.

Por outro lado, não há como se submeter ao constante abuso de poder que o Judiciário tem adotado contra o Legislativo e o Executivo.

A esquerda precisa reencontrar os anseios populares, sem se perder apenas em pautas identitárias e em defesas desesperadas e, por vezes, irracionais do “politicamente correto”.

A campanha eleitoral de 2018 foi marcada pelo esvaziamento do discurso econômico no debate público. Assume-se em seu lugar o discurso identitário, simplório, que não reconhece a verdadeira origem das desigualdades sociais.

Caso Bolsonaro seja eleito, se a oposição ao seu governo se resumir a lhe gritar “fascista!”, estaremos perdidos.

Por: Felipe Machado.

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