É verdade que Che Guevara fuzilou homossexuais?

Realmente, o jargão “Che Guevara fuzilou homossexuais” não é comprovado enquanto fato. Porém, é sabido e oficialmente assumido que o regime castrista promoveu um expurgo em massa de homossexuais nas áreas da educação e cultura, inclusive com vexatórios julgamentos públicos, e confinou e torturou vários homossexuais nas UMAP, batalhões de trabalho forçado para fins de “regeneração moral”, criados em 1965.

Tamanho horror provocou protestos internacionais, que levaram ao fechamento das UMAP dois anos depois. Guevara estava fora de Cuba nesse período e não pode ser individualmente responsabilizado, mas o regime que ele representava fazia isso, e, a julgar pelo que ele e Fidel falavam na época de homossexuais, com certeza avalizavam as perseguições.

A contextualização na época é válida, mas é bom lembrar que, no Brasil, desde que D. Pedro I descriminalizou a “sodomia”, a homossexualidade nunca mais voltou a ser considerada crime, tampouco quaisquer leis discriminatórias, como restrições de emprego e idades de consentimento diferenciadas – como havia no Reino Unido e no Canadá até o final do século XX. Nem mesmo o Estado Novo e o Regime Militar tentaram algo nesse sentido.

Se os governantes brasileiros não promoviam, também não combatiam; politicamente era uma não-questão. Claro que havia, como ainda há, da parte da sociedade e de algumas pequenas autoridades, hostilidades e discriminações mesquinhas e cruéis, coisa de gente pequena e covarde, como infelizmente são grande parte das pessoas em todas as épocas e lugares. Mas não havia perseguição oficial, como houve durante certo tempo na Cuba socialista.

Se a OMS na época ainda considerava a homossexualidade doença, nem todos os países do mundo a proibiam, e menos ainda os que a perseguiam com a violência de Cuba. A realidade histórica é complexa e multifacetada, e o que aconteceu em Cuba não desmerece os avanços ocorridos nem acentua os estragos causados. Seria muito pobre e moralista condenar Fidel e Guevara como “homofóbicos”. Mas o exemplo cubano é um entre tantos que atestam que os comunistas não têm a superioridade moral que pretendem ter.

Não é ilegítimo, contudo, que o símbolo Che Guevara (diferente do Che Guevara histórico, literal), imortalizado no célebre retrato e representativo da rebeldia juvenil, seja utilizado como ícone de diversidade sexual, ainda mais em espetáculos, onde cabe a licença poética. É preciso também discernir os diferentes usos e evocações.

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