Foi o nacional-desenvolvimentismo que reduziu a pobreza no Brasil

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A década de 1970, auge do nacional-desenvolvimentismo brasileiro, foi um dos períodos de maior redução da pobreza na história brasileira, em todas as regiões. Não apenas a proporção de pobres no Brasil reduziu quase pela metade, como também despencou o hiato absoluto em relação à renda dos não-pobres, isto é, o quanto a renda dos pobres precisaria aumentar para eles saírem da pobreza, o que indica que não apenas havia menos pobres, mas também que os pobres ficaram menos pobres. Tudo isso num período de forte crescimento demográfico – a população brasileira cresceu quase 30% nessa década – e de uma aguda crise internacional que afetou imensamente o Brasil.

Não houve “milagre”, como alguns poderiam supor, mas a aplicação do bom senso: grandes investimentos estatais em blocos de infraestrutura física e social, programas de desenvolvimento regional, pleno emprego e expansão de políticas trabalhistas (PIS-PASEP, salário-maternidade, previdência rural, aumento do tempo de férias remuneradas de 20 para 30 dias, extensão do seguro de acidente de trabalho ao meio rural) e assistenciais (criação do Sistema Nacional de Saúde, Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social, ampliação dos encargos previdenciários etc.).

Apesar do ligeiro aumento das desigualdades nessa década, comum em países de rápido desenvolvimento, o bolo cresceu e também foi dividido. Em vez de se reduzir a pobreza com medidas emergenciais como bolsas e auxílios, como se defende hoje da esquerda à direita e vice-versa, o que se fez foi criar condições estruturais para uma mobilidade social efetiva e substancial. Pode-se dizer que a década de 1970 foi a última em que houve uma mobilidade social efetiva, em que se criou uma classe média robusta a partir de setores vindos das classes mais pobres. Ainda havia muito por fazer e alguma coisa foi feita depois – o Plano Real e os governos PT também tiveram uma redução expressiva da pobreza – mas não com a escala, abrangência e densidade dos anos 70, caracterizados pelos lendários Planos Nacionais de Desenvolvimento, que não foram apenas planos, mas se materializaram na realidade física e social do país.

Não é preciso reinventar a roda para resolvermos nossos atuais problemas, basta redescobri-la, tirá-la do baú do esquecimento em que por décadas a propaganda financista transnacional a confinou.

Fonte das tabelas: ROCHA, Sonia (2006). Pobreza no Brasil – Afinal, de que se trata?

 

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