Identitarismo: trabalhador vira inimigo e bilionário aliado

Identitarismo: trabalhador vira inimigo e bilionário aliado

Por vezes as pessoas me perguntam por que o identitarismo tomou conta do campo progressista tão depressa. Como para quase tudo, não há um único motivo: a queda da URSS deixou a esquerda órfã de uma orientação; a hegemonia neoliberal no mundo deu uma guinada no espectro político à direita; e os movimentos por direitos individuais ganharam legitimidade diante do fato de que problemas como machismo, homofobia e a separação turva entre Estado e religião sempre foram um tanto negligenciados nos países capitalistas.

Mas há um outro elemento: há muito financiamento estrangeiro e de ricaços e isso tem locupletado muitas pessoas, as quais usam teses estapafúrdias como do tal “lugar de fala” para se projetar em movimentos que, como dito, geram dinheiro e que viraram um verdadeiro nicho de mercado. Mas a questão fundamental aqui é: por que ONGs e bilionários injetam tanto dinheiro nesses movimentos? É simples entender: querem tornar toda a esquerda global em imagem e semelhança do Partido Democrata dos EUA, da Hillary Clinton, do Justin Trudeau. Defender diversidade (o que em si é bom, mas o fazem a partir de concepções as mais absurdas, pós modernas e irracionalistas) para obliterar da agenda do dia algo que combata o encarniçado estado de extrema desigualdade que temos no mundo: o 1% mais rico tem mais de 50% das riquezas. É uma nova aristocracia mundial, uma plutonomia.

E essa aristocracia percebeu que precisa legitimar seu domínio. Nada melhor do que fazer propaganda de ideais que lhe confiram uma roupagem humanista e ao mesmo tempo desmantelem qualquer possibilidade de se questionar seus privilégios: enquanto uma pessoa negra, uma mulher e um ateu estão procurando um indivíduo de cor branca, um homem e um religioso para culpar pelas mazelas do mundo, para chamar de privilegiado, eles não perceberão que todos eles fazem parte do 99% que é explorado pelo 1%, pelo topo da pirâmide. O 1% que agora é visto, por seu financiamento, sua suposta generosidade e modernidade, como promotor de um mundo melhor por defender a diversidade. O Luciano Huck que faz discurso contra o machismo, que patrocina site lacrador em nome das minorias passa a ser visto como alguém melhor que o Seu João da esquina, peão, trabalhador, embrutecido pela vida e que manda a, b ou c tomar naquele lugar (o que seria homofóbico). Huck vira aliado e João, trabalhador, inimigo.

Reconheçamos: é um golpe de mestre.

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