Haddad se apequena em nome do ‘lulopetismo’

Haddad se apequena em nome do 'lulopetismo'. Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

Desde que o STF anulou as condenações de Lula na Lava Jato, o que se frisa é o justo e o correto a se fazer, o gabinete do ódio petista colocou suas garras de fora como há tempos não fazia. Porém, uma novidade se consolida neste 2021: Fernando Haddad assume a liderança pública do “lulopetismo” e age como o porta-voz da turma que não se permite discordar de seu Deus barbudo – mas não o bíblico.

A última de Haddad foi cruel. E covarde. E ainda por cima, em meio à intimação de Ciro Gomes pela Polícia Federal, por “ofensa à honra” do presidente. Ainda mais em um momento como este, comparar Ciro a Carlos Lacerda é de uma desonestidade intelectual que faria inveja aos bolsonaristas mais canalhas. E olha que eles costumam caprichar.

Carlos Lacerda foi um jornalista e político conservador, apoiado pela elite brasileira, que boicotou o getulismo de todas as formas e é considerado um dos pivôs do suicídio de Vargas, em 54. Uma década após a morte de Getúlio, Lacerda, então governador do Estado do Estado da Guanabara (Rio de Janeiro), apoiou o Golpe de 64 que depôs João Goulart – o Jango -, e depois acabou perseguido pelos próprios aliados de outrora.

O que ‘Andrade’ fez foi chamar Ciro Gomes de traidor da pátria, de oportunista e de golpista. Ora, você pode ter todas as discordâncias do mundo com o pedetista. Mas chamá-lo de golpista é absurdo, é insensato. Uma atitude desonesta e canalha, para dizer o mínimo. Ciro Gomes pode ter mil defeitos – e com certeza possui inúmeras falhas, como qualquer ser humano –, mas certamente os listados acima não estão entre eles.

Mas hoje vou propor um exercício: vamos fingir que estou a serviço de algum blog lulopetista e vamos fingir que Haddad tem razão. Então vamos ver se o carteiro é digno da carta que carrega, como gostam de fazer do lado de lá da ponte moral.

Que moral tem um liberal brasileiro para falar em traição? Que moral para falar em golpismo tem alguém que classificou a palavra “golpe” como “dura” em meio à derrubada ilegal de Dilma Rousseff e a prisão e condenação arbitrárias a que Lula foi submetido?

Vejam. Não tenha nada pessoal contra o Fernando Haddad, nem o sequer conheço. E amigos que já estiveram próximo do professor que hoje ensina a mentir na internet sempre me disseram que ele é um cara legal. Não duvido. Estou tratando de política, não de convidados para um churrasco entre amigos.

Mas politicamente, me dói dizer: Haddad hoje ocupa o lugar mais medíocre do “lulopetismo” no país. Chega a ser desprezível como depois de virar poste do Lula, Haddad agora age como um garoto de recados que eleva as ofensas em nome de quem, por covardia ou estratégia, não as quer dizer em público.

Haddad, ver ou ouvir você falar em Getúlio Vargas é como Bolsonaro falar de Ghandi. Se atenha às coisas do mundo as quais você possui algum domínio, alguma propriedade para fazer considerações. É o que um professor como você deveria fazer. E dar de exemplo.

Evite piadelas e analogias vis enquanto aquele que lutou contra o Golpe – muito mais que você e que muitos petistas, aliás – é perseguido pelo autoritarismo fascista instalado no país através da sua derrota em 2018, companheiro. Elas só alteram uma coisa: o seu tamanho político, que a cada dia fica menor e que se continuar nessa ‘pegada’, vai acabar no limbo da lata de lixo da história política do Brasil.

Assumindo a liderança na defesa do ‘lulopetismo’, Fernando Haddad se apequena como homem público, como aliás gente de calibre muito maior que o professor da USP tem feito. Gente com trajetória honrada, que neste momento político do país comete o erro histórico de promover o que virou ilusão quando se perdeu na própria grandeza.

Sair da versão mobile