Foto do pacto entre os poderes revela fraqueza e desorientação do governo

Foto do pacto entre os poderes
O presidente Jair Bolsonaro recebe os presidentes do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre e ministros, no Palácio da Alvorada.
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Se não foi burra a manifestação do último domingo, conforme escrevi aqui e até reformulo hoje diante do fato imediatamente subsequente – qual seja, a formalização de um bizarro pacto entre os Poderes de Estado –, ela revela o desespero do governo que vai caindo pelos barrancos de uma pá de cal anunciada pelo acúmulo cotidiano de diferentes problemas. Desespero que se manifesta em tom de ameaça de golpe – possibilidade plausível, sim, porém com consequências incontroláveis pelo próprio governo.

O cálculo para a manifestação pode ter sido bem pensado, aliás, tendo como ardil o discurso de Jair Bolsonaro de que os atos pró-governo nada teriam a ver com fechamento do Congresso e do STF. Ou seja, que seriam apenas recado espontâneo de que o “povo” apoia a destruição da previdência pública, bem como as promessas messiânicas de um governo que não consegue governar tamanha a quantidade de contradições da realidade, incluindo, obviamente, os conflitos internos de sua equipe.

É amplo o consenso de que a inciativa de um pacto desses não tem sentido algum, a não ser criar um clima sinistro. Se essas movimentações do governo não revelassem sua fraqueza, não haveria necessidade de ameaças veladas ou não de golpe. A foto das altas autoridades do país perfiladas diante das câmeras dos repórteres revela que ou cerimonial do Planalto também está desorientado, ou nada entende de liturgias palacianas, ou então as especulações que arrisco aqui se confirmam pelo gesto da situação.

Se estivesse com liderança legitimada e reconhecida, o principal “magistrado” da nação, isto é, o presidente da República, estaria no centro da foto, e não quase na ponta, ao lado do presidente do STF, conforme apareceu no jornal O GLOBO, com seu ministro da Fazendo ao centro. Talvez ficasse melhor estar ladeado pelos presidentes do STF e da Câmara (mais da Câmara que do Senado, por uma deferência à representação popular), ficando os demais nas laterais, inclusive o tal Posto Ipiranga. Em outras fotos, o presidente aparece no centro, mas o jornalão carioca publicou a que ele está quase na ponta, ao lado de Dias Toffoli.

Pode parecer mero detalhe de falhas de cerimonial, porém, palavras e protocolos assinados não bastam para marcar momentos simbólicos. Os gestos contam e muito. Linguagem verbal e corpos fazem comunicação integrada, cada qual com sua gramática, mas nunca de forma hierarquizada, como se a palavra fosse superior ao movimento do olhar e de lances como a piscada, o sorriso, o aceno de mão e diversos outros movimentos. Daí que a linguagem verbal é fundamento da sociabilidade, desde acompanhada dos gestos e também diante da presença física do outro, e não de forma isolada, solta, fria e atomizada, sem corpos, conforme a ilusão coletiva de estarmos conectados pelas redes sociais para compartilhamento de coisas comuns. Sem a presença física do outro não há sociabilidade – essa é a verdade e talvez o mais novo desafio da democracia desde que o fetiche das tecnologias de comunicação tomou conta de nossas vidas.

Tanto isso é verdade que as manifestações de rua são eloquentes em se mostrar como mais consequentes e impactantes do que palavras, gestos e imagens disparadas pelos robozinhos digitais do mundo virtual. Melhor dizendo, estes morreriam na praia sem a presença física nas ruas. Não existe protesto mais eficaz do que nas ruas, óbvio, mesmo sendo convocados pelo mundo virtual.

Da mesma forma também não existe liderança “lateral”, ainda que por descuido numa foto com outras autoridades. Ou se está no centro dos problemas de forma assumida, segurando o touro pelos chifres, para sair bem na foto – ou melhor nem posar. Análises semióticas à parte, o fato é que o Wikipédia informa muitas coisas sobre o Rei Pirro, suas inúmeras conquistas e batalhas vencidas no século III a.C. Mas, corre por fora a lenda de que ele morreu atingido na cabeça por uma telha arremessada por uma velhinha.

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