ELIAS JABBOUR: A armadilha

Comemoram enquanto é tempo a derrota de Trump. Mas vejo uma comemoração exagerada. Não por conta do que Trump representa, mas pelas pautas representadas pelo Partido Democrata em sintonia e por onde faz gravitar boa parte do campo progressista brasileiro.

História. Ernesto Geisel ao ser pressionado por Jimmy Carter, no berço das intervenções humanitárias e utilização das pautas ambientais e de direitos humanos, denunciou o acordo militar Brasil-EUA e permitiu ao Brasil furar o bloqueio do bloco ocidental e 1) fechar um grande pacote de troca de tecnologias por café com a Alemanha socialista (DDR);2) reconhecer o governo revolucionário de Mao Tsé-tung e 3) às Olimpíadas de Moscou em 1980. Diferente de Bolsonaro, Geisel era profundamente nacionalista. Jimmy Carter apenas deu os motivos para uma radicalização da política externa brasileira em relação a Washington.

A situação hoje é curiosa. Bolsonaro é o governo mais entreguista da história do Brasil e estará diante de um governo dos EUA agressivo em relação ao Brasil e suas políticas ambiental e de direitos humanos. O grande espectro das esquerdas brasileiras rejeitam abertamente dois elementos que a distinguiam de todo o “resto”: o nacionalismo e o desenvolvimentismo enquanto ideologias progressistas. Hoje retwittam e compartilham vídeos e textos sobre a vice de Biden, uma reconhecida fascistoide da Califórnia.

Encurralado Bolsonaro poderá pegar de novo a si a bandeira da Nação e se vender ao povo como algo que não é: um patriota em posição de defesa contra uma potência estrangeira hostil.

A dialética que tanto falamos poderá nos oferecer uma surpresa. Se conhecêssemos Hegel e o que ele chamava de Zeitgeist perceberíamos que o “espírito do tempo” ainda é a famosa centralidade da questão nacional. Imperialismo x Pátria. Pátria ou morte era o grito que ecoava dos mártires revolucionários cubanos aos pés de Sierra Maestra.

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