O que José Dirceu e Gleisi Hoffmann ensinam sobre a unidade da esquerda?

A unidade da esquerda nunca foi nem nunca será um processo pacífico. Compor com o PT é um imperativo prático. Não se pode menosprezar seu peso parlamentar, sindical e na sociedade civil como um todo, força que não pode ser desprezada no contexto do avanço da violência colonialista tanto na vertente do tosco bolsonarismo como da ameaça mais sólida do lavajatismo.

Mas, ao contrário dos sonhos idealistas da racionalidade e do diálogo pacífico, construir essa unidade implica derrotar o hegemonismo neoliberal do petucanismo, que se impôs muitas vezes violentamente sobre todo o resto da esquerda. Destruir a ideologia identitária importada dos blairistas, que fragmentou a atuação da esquerda e a paralisou em infinitas contendas internas. Varrer para sempre a herança de Palocci, Meirelles e Marcos Lisboa para o pensamento econômico nacional e sua covardia mal disfarçada de um pseudo-pragmatismo, fruto da mais completa ausência de um Projeto de Nação. Acabar com o republicanismo ingênuo de José Eduardo Cardozo, que gestou o ovo da serpente do lavajatismo.

O tuíte de Jaques Wagner aponta o caminho para essa composição: canibalizar os bons quadros tanto do petucanismo como os que o orbitam, cansados do peso do domínio da fração sudestina do PT, com seus olhos voltados para fora do país, incapazes de enxergar o peso da dependência que oprime o Brasil. A luta de classes em nossa nação sempre assumiu um caráter regional, marcada pelo conflito entre o Porto, umbilicalmente ligado às potências imperialistas e que se beneficia do progresso que é engendrado amiúde por essa dominação, e o Interior, o Brasil Profundo, esmagado pela superexploração da classe trabalhadora e da dependência tecnológica. Construir a unidade da esquerda frente ao avanço colonialista é entender a estrutura interna de nosso país. Não à toa, as frações do PT fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, sensíveis a essa determinação estrutural, já vinham demonstrando há tempos insatisfação com as diretrizes impostas a partir do sudeste.

Em suma: para construir a unidade da esquerda precisamos liquidar o terrível legado de Golbery para a esquerda brasileira, com o social-liberalismo que soterrou completamente nosso potencial subversivo.

Os primeiros sinais da unidade da esquerda começam a despontar.

Sair da versão mobile