Bolsonaro no Roda Viva: uma ode à ignorância

Jair Bolsonaro no Roda Viva

O deputado e ex-militar Jair Bolsonaro é o candidato do PSL para a Presidência da República e foi o convidado do Roda Viva desta semana. DISPARADA, neste espaço, cobrirá todas as entrevistas da série com os candidatos.

Tendo em vista a ampla divulgação e audiência do programa, este espaço, diferentemente das análises anteriores, priorizará uma análise menos literal, já que pouquíssimas propostas foram apresentadas ou mesmo os reais problemas do Brasil foram discutidos.

Jair Bolsonaro era o protagonista do Roda Viva mais esperado da série. O candidato outsider não costuma dar entrevistas para audiências mais “qualificadas”. Mesmo que nestes dias peque na qualidade, Roda Viva possui uma marca respeitável no jornalismo brasileiro. Um desafio ainda pendente para o líder das pesquisas (excluindo Lula).

O capitão começou a entrevista com um tom ameno, quase acenando uma possível moderação. Bolsonaro disse que queria ser conhecido como o presidente mais liberal do Brasil, numa clara tentativa de tornar-se mais palatável para setores do mercado. Durante a entrevista, diversas vezes acenou essa “moderação” para com os endinheirados.

O candidato é despreparado. Creio até mesmo que parte de seu eleitorado escolarizado sabe disso. Seu despreparo mostra-se inclusive como seu trunfo. Um simplista confiante, alguém atrativo por parte da população sofrida e pouco atenta à complexidade dos reais dilemas do país. Num Brasil profundo desempregado, violento e novamente cada vez mais miserável, Bolsonaro representa uma simplificação grosseira às resoluções dos problemas que mais são caros ao cidadão comum.

Não citou como governaria o Brasil, atacou as esquerdas, defendeu os banqueiros e não apresentou absolutamente nenhuma proposta para seu governo. Em vez disso, preferiu passar o tempo atacando seus adversários de esquerda, apontando “ligação com os cubanos” e aquela velharia datada da Guerra Fria. O Brasil tem 14 milhões de desempregados e o candidato responde a todas as perguntas com ataques ao inimigo invisível. É desrespeitoso.

A bancada sabia da fragilididade e por vezes o colocou na parede. Arrancaram dele a fantástica declaração de que “gostaria de estar mais perto de Cunha”. De quebra, o fizeram reiterar o que havia dito sobre o fuzilamento de FHC e sobre colocar-se contra greves – sendo lembrado de que apoiara a de um grupo de policiais do Espírito Santo – e por fim, admitiu ser favorável aos privilégios dos políticos, pois “estão na lei”. Para coroar sua ode ao absurdo, soltou a pérola de que a mortalidade infantil aumentara pois as mães não escovam os dentes e não cuidam do sistema urinário.

A contradição o acompanhou em todos os momentos. Defendeu o torturador Ustra, condenado em segunda instância, dizendo: “não se pode considerar ninguém culpado até que se transite em julgado”. Seria racional se o mesmo candidato não fosse favorável à prisão após julgamento em segunda instância. E mais racional ainda se seu maior “inimigo” e adversário não fosse o condenado em segunda instância, Lula. Disse que cortaria despesas no momento seguinte em que disse que não teria condições de viajar o Brasil “com dinheiro próprio”.

O resto do programa ficou marcado pelas discussões sobre o Golpe Militar, que o “liberal” Bolsonaro defendeu. Fosse no autoritarismo, fosse na economia.

Jair Bolsonaro é incapaz de formular uma resposta e talvez seja o candidato mais despreparado a tentar pleitear a Presidência da República do país. É caricato, atrasado, possui uma retórica fraca e um radicalismo mais do que intransigente: cruel. Não é um Trump. Seria incapaz de formular políticas como a do bilionário americano. Não é um Enéas, um conservador ultra-direitista convicto e de retórica convincente e rebuscada. Definitivamente não é um liberal. Jair Bolsonaro é um Frankstein da ignorância.

O programa não o diminuiu para seu eleitorado militante. Estes, continuarão balbuciando suas frases feitas. Mas serviu de algo: sabemos que Bolsonaro, sob pressão, responde mal. E mais ainda, sua moderação acaba no primeiro ou segundo contraditório. É o candidato mais fácil de ser abatido pela nossa democracia.

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