Depois da “ajuda humanitária” – América do Sul na encruzilhada

O Brasil cedo ou tarde deverá assumir o princípio de que a América do Sul é para os sul-americanos, ou estaremos todos condenados à vassalagem. 

Passado o teatro da “ajuda humanitária” para a Venezuela, o que temos?

Apaziguadas as tensões (não eliminadas), é útil refletir sobre o que passou e o que virá.

A crise certamente não existiria se o Brasil não houvesse perdido o protagonismo regional das últimas décadas. Claro que o modus operandi imperial dos Estados Unidos – mas também de todas as grandes potências – é um elemento que precisa constar na equação sob prejuízo de não identificarmos os verdadeiros vetores de todo o processo. No entanto, não existe vácuo de poder: foi a ausência de uma articulação regional, liderada naturalmente pelo Brasil, que abriu espaço para que EUA, Rússia e China passassem a disputar o destino da Venezuela, país com as maiores reservas de petróleo conhecidas do planeta.

Portanto, não há boa solução para a crise que não passe pelo retorno do Brasil ao tabuleiro geopolítico regional de forma autônoma, distanciando-se da política externa ideológica-submissa de Ernesto Araújo e retornado à tradição da política externa independente de Afonso Arinos de Melo Franco e San Tiago Dantas e do pragmatismo de Azeredo da Silveira.

Tampouco se pode ignorar a experiência positiva da política externa ativa e altiva de Celso Amorim no governo Itamar Franco e nos anos Lula. Porém, é preciso ir além.

O mais importante, agora, e também possível, é firmar posição em torno da soberania inviolável da Venezuela e da não intervenção. Trata-se de diretriz para o curto prazo, e os militares do governo já se ocuparam disso.

No médio e longo prazos, importará redesenhar a visão de política externa do país e o papel do Brasil no continente diante da sociedade:

Como bem disse o peruano Victor Raúl Haya de la Torre, os continentes sem capacidade de governo e de defesa próprias estão condenados à vassalagem, a serem colônias dos mais distintos imperialismos. O caso mais notório é a África.

O Brasil, cedo ou tarde, terá que assumir o princípio de que a América do Sul é para os sul-americanos, e deverá sempre ter em mente que a distância entre o destino e o anti-destino de uma nação, de um povo ou de um continente é mais larga que a fronteira entre dois países.

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