A Frente Ampla e a tática do medo

A Frente Ampla e a tática do medo jones manoel ciro gomes rodrigo maia

Sabe o motivo de não decolar frente ampla? Historicamente, a tática da frente ampla só tem algum resultado quando setores da burguesia expressam oposição ao governo e assim condicionam seus partidos a essa tática. Atualmente nenhum setor da burguesia está contra o bolsonarismo.

No final dos anos 70 e início dos anos 80, só teve “frente ampla” no Brasil não por uma abstrata defesa da democracia, mas porque a burguesia paulista, com respaldo do imperialismo, queria se livrar da ditadura. Esse foi o solo histórico da frente ampla “pela democracia”.

Não compreender isso é ficar dando murro em ponta de faca – ou melhor: cabeçada em ponta de faca. Para quem defende a tática de frente ampla – não é meu caso! -, saiba que sua tática só vai decolar se a unidade burguesa em torno do bolsonarismo for rompida.

A 1° eleição de Lula também expressou uma tática de frente ampla materializado com Zé Alencar na vice. Mas isso só aconteceu porque um setor da burguesia se deslocou da orbita dos tucanos. Desde o final de 2015, nenhum setor da burguesia busca compromissos.

Esse é um dos motivos, inclusive, da mudança da relação da burguesia interna com Lula. Lula passou de ser “o cara”, como chamava Obama, adorado pelo Itaú, Bradesco, empreiteiras, agronegócios, para um perseguido político em 2015, por uma série de motivos, marca uma mudança política.

Desde 2015, todos os setores da burguesia brasileira rumam para uma radicalização reacionária e antipopular. Note que alguns representantes orgânicos do capital, como Katia Abreu, mesmo sendo reacionários, por não acompanhar essa radicalização ficaram para trás.

Sem compreender essa movimentação de classe, suas razões, tendências e contradições, esse papo sobre “frente ampla” vira uma abstração vazia e o famoso murro em “ponta de faca”. É tudo “análise” institucionalista, superficial e presa a um formalismo jurídico.

***

É uma constante, quando você aponta com provas factuais a falência da tática da “frente ampla”, um deboche no estilo “qual alternativa“, “cadê as armas”, “cadê a revolução”. Como já disse antes, o deboche é só a prova que o sujeito é incapaz de sustentar sua tática. Faz poucos minutos, um desses fãs de Ciro Gomes, fez um comentário grosso e irônico. Disse que não responderia grosseria. O sujeito tira prints do post e usa como “prova” de que eu não “tenho resposta”. Ele não percebe que mesmo se isso fosse verdade, não prova que ele está certo.

A questão é de raciocínio lógico básico. Vamos supor que não existe alternativa consolidada. Mesmo se isso fosse verdade, ela não prova que a tática da frente ampla tá certa e muito menos que ela deve ser seguida. São questões diferentes. Claramente diferente. A retórica do deboche e a ideia falaciosa/reacionária do “cadê as armas”, “cadê a revolução” etc., é uma manobra de MEDO. É a ideia que ao invés de construir alternativa popular e radical, como isso é difícil, temos que nos conformar com o que tá posto, não importa sua eficácia

É uma tática paralisante, baseada no medo, na insegurança e na sensação de impotência. A lógica não é apresentar alternativa de futuro, mas dizer que ousar, buscar fazer diferente, é perigoso. Curiosamente, é a mesma estética discursiva do neoliberalismo, mesma simbologia.

A ideia, é claro, não é formar militantes, fomentar a radicalidade, a ousadia política, um projeto de transformação. Mas manter e ganhar eleitores na base do medo e do “não há alternativa”. E usar essa tática é muito fácil porque dialoga com o espírito do tempo neoliberal.

Em suma, é uma forma oportunista, covarde e conservadora de usar a mesma ideologia liberal, mas com “conteúdo” de “esquerda”. Não surpreende que o grande trunfo desse povo seja “meu candidato tem mais chance de ganhar no 2° turno”. Medo, medo e mais medo.

Sair da versão mobile