Um novo Watchmen

O quadrinho é melancólico, mas com ação e humor em várias camadas e com uma estética que muda conforme quem ele quer referenciar, algo que hoje em dia ninguém faz como Lemire. A arte de Deam Ormston é perfeita para o roteiro, e isso fica evidenciado nos extras maravilhosos, dosando estranheza com heroísmo de uma forma orgânica. Para quem quer entrar no mundo dos quadrinhos é ideal, para os mais calejados é prato cheio. São quatro volumes em capa cartão e todos já estão disponíveis no Brasil.
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Ok, o título é puro sensacionalismo, mas quando fui comprar a série o vendedor da loja me disse isso de um jeito tão entusiasmado que ficou marcado na minha cabeça durante toda a leitura. Exagero? Sim, mas a série é maravilhosa em todos os aspectos possíveis.

O queridinho Jeff Lemire, transitando do alternativo ao mainstream faz uma super homenagem aos super-heróis. Black Hammer é o nome de uma fazenda nas cercanias de uma cidade pequena de interior, povoada por uma família de super-heróis nascidos na era de ouro que se uniram para enfrentar um vilão, o Antideus, e nessa batalha, onde um herói chamado Black Hammer (daí o nome da fazenda) deu a vida pra salvar todos, eles acabaram vitoriosos, mas foram arrebatados para essa fazenda, em uma espécie de purgatório temporal onde eles estão presos. Os 6 heróis decidem viver ali sem revelarem suas verdadeiras identidades, por isso criam essa “família” como uma identidade secreta. O tempo continua correndo normalmente na sociedade lá fora por isso eles, enquanto heróis, acabam caindo no esquecimento da sociedade lá fora (como o Batman em Cavaleiro das Trevas). O fato deles nunca terem trabalhado juntos como heróis antes da luta contra o Antideus gera relacionamentos interpessoais fascinantes que são o motor da trama.

Os 6 principais são claras referencias a personagens conhecidos do universo dos quadrinhos, que nessa primeira edição, chamada “Origens Secretas”, conta as origens desses 6. O primeiro deles é o Abraham Slam, um magrelo rejeitado pelo exército que fica forte e começa a combater o crime, e que em Black Hammer é o avô da família. Como não tem poderes é o que pode ir e vir pela cidade livremente e tem ali a sua aposentadoria, acaba se acomodando com a situação confortável. A neta desse avô é a Menina de Ouro, uma senhora que ganhou poderes do Mago Zafram e quando grita esse nome se torna uma menina superpoderosa, nesse limbo temporal ela não consegue mais voltar a forma adulta e precisa viver atuando no papel da neta, indo a escola e fazendo coisas de crianças normais. Claramente descontente com a situação ela já abandona o papel e fica o dia todo enchendo a cara e fumando, deixando os problemas que essas atitudes geram para seu “avô” resolver. A homenagem para os quadrinhos de terror é da Madame Libélula, a mãe da Menina de ouro, amaldiçoada por uma bruxa ela tem uma aparência horrível, vivendo escondida em uma cabana à qual é ligada pela maldição. O coronel Weird é uma referência aos quadrinhos de ficção cientifica, principalmente aos da DC, e vivia aventuras espaciais até passar por um portal que o levou para a Antizona, onde ele fica preso e tem grandes danos mentais. Está viajando no tempo e no espaço à todo momento, o que desordena a cabeça dele e faz falar maluquices que podem acabar sendo a chave pra sair da fazenda. Junto dele vem sua antiga companheira espacial, a robô Talky-Walky, única que ainda luta para tentar sair da fazenda por não poder aparecer em público. E a homenagem aos aliens fica com o Barbalien, um Caçador de Marte sem tirar nem por. Lemire trabalha várias sutilezas e essa família heroica se torna uma sacada para a família de todos nós.

O quadrinho é melancólico, mas com ação e humor em várias camadas e com uma estética que muda conforme quem ele quer referenciar, algo que hoje em dia ninguém faz como Lemire. A arte de Deam Ormston é perfeita para o roteiro, e isso fica evidenciado nos extras maravilhosos, dosando estranheza com heroísmo de uma forma orgânica. Para quem quer entrar no mundo dos quadrinhos é ideal, para os mais calejados é prato cheio. São quatro volumes em capa cartão e todos já estão disponíveis no Brasil.

Por: Antônio Cazarine.

O quadrinho é melancólico, mas com ação e humor em várias camadas e com uma estética que muda conforme quem ele quer referenciar, algo que hoje em dia ninguém faz como Lemire. A arte de Deam Ormston é perfeita para o roteiro, e isso fica evidenciado nos extras maravilhosos, dosando estranheza com heroísmo de uma forma orgânica. Para quem quer entrar no mundo dos quadrinhos é ideal, para os mais calejados é prato cheio. São quatro volumes em capa cartão e todos já estão disponíveis no Brasil.