O 1º de Maio mais turbulento da Rússia

O 1º de Maio mais turbulento da Russia

Por Lucas Rubio – O feriado do Dia do Trabalhador de 1993 foi um dos mais emblemáticos e violentos feriados desse tipo na Rússia pós-soviética. O dia foi marcado por intensos embates entre a polícia e os manifestantes que pediam a restauração da URSS.

Nos últimos dias de 1991, havia se iniciado o governo de Boris Yeltsin, um dos principais atores do dissolução da União Soviética e o primeiro presidente da Federação Russa. Suas controversas ações no governo incluíram a privatização em massa dos serviços e empresas públicas da ex-Rússia soviética, causando uma crise econômica somente vista no antigo Império Russo.

No 1º de Maio de 1993, a população russa saiu às ruas de Moscou carregando bandeiras da União Soviética e retratos de Lenin e Stalin, exigindo o fim das medidas antipopulares de Yeltsin e a restauração do socialismo. Essas manifestações foram organizadas pelo Partido Comunista da Federação Russa – herdeiro do antigo e poderoso PCUS -, pelo Partido Trabalhista de Moscou e pela Frente Nacional de Salvação.

A reação do governo Yeltsin foi colocar a polícia nas ruas e reprimir sistematicamente as manifestações. Em algum momento durante as passeatas pela Avenida Lenin, policiais e manifestantes trocaram agressões e a polícia respondeu disparando contra as pessoas.

Logo as ruas se tornaram verdadeiros campos de guerra: os manifestantes montaram barricadas e começaram a atirar pedras e objetos contra os policiais, que por sua vez eram reforçados por outras tropas que chegavam. Até os mastros das bandeiras vermelhas eram usados como armas.

Nas fileiras manifestantes, havia inclusive veteranos da Grande Guerra Patriótica que foram gravemente feridos, além de mulheres e crianças. A truculência policial do novo Estado capitalista russo mostrou sua face diante das manifestações populares pacíficas.

O número de vítimas é muito incerto, mas a mídia da época noticiou que pelo menos 150 pessoas haviam sido mortas naquele dia, número esse que pode chegar a mais de 600, na verdade.

O Dia do Trabalhador de 1993 marcou o início da repressão da polícia russa às manifestações populares de 1º de Maio, que antes aconteciam tradicional e harmoniosamente há pelo menos 74 anos na União Soviética em clima de alegria e orgulho.

Por Lucas Rubio

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