‘A vida privada de Stálin’ de Lilly Marcou

JONES MANOEL 'A vida privada de Stálin' de Lilly Marcou

Curiosidade acadêmica rápida. Terminei de ler o livro A vida privada de Stálin de Lilly Marcou. O livro lançado originalmente em 1996, na França, causou certo barulho e foi acusado de reabitar Stálin ou até ser stalinista (teve até quem falou de neo-stalinismo).

Você pega o livro e percebe o seguinte: a autora APENAS recusa o quadro referencial de Hannah Arendt e dos debates sobre totalitarismo e não compara ou iguala Stálin com Hitler. Aliado a isso, não faz uma abordagem psicopatológica e nem opera no subjetivismo da imagem do monstro. E é só isso mesmo.

Ela qualifica Stálin de ditador, tirano, assassino etc. Chega, inclusive, a usar certas tiradas que parecem clichê de cinema no estilo “Stálin não tinha remorso por suas vítimas. Para ele, os fins sempre justificaram os meios”.

Talvez tenha incomodado algumas pessoas, Marcou mostrar que duas histórias centrais da Era Khrushchev, a ideia de que Stálin mandou matar Kirov e de que o bigode não entendia nada de estratégia militar e traça os planos de guerra num globo escolar, eram totalmente falsas. Mas ninguém precisava de Marcou para saber disso. E o motivo é simples: Khrushchev nunca apresentou provas de sua versão da morte de Kirov e Stálin foi comandante militar durante a Guerra Civil, chegando a ser premiado e reconhecido pelo Partido como exímio comandante. Acreditar que um cara que já tinha experiência de guerra comprovada não sabia de questão militar é forçar demais a barra.

Em suma, é um livro bom, bem escrito, sério (com exceção do último capítulo, onde a autora pesa a mão numa visão ocidentalista da Guerra Fria), mas sem grande novidade.

E basta não operar a bizarria do “Stálin = Hitler” para ter chiliques de todos os lados.

É um clima cultural difícil.

Sair da versão mobile