Os versos íntimos de Flávio Dino

Não é novidade que o governador do Maranhão Flávio Dino está pretendendo a Presidência da República. As recorrentes tratativas de se contrapor ao presidente Bolsonaro são fortes evidências. Apesar de inúteis sob a lógica do pragmatismo político à gestão do estado maranhense, as tratativas garantem destaques nas diversas mídias de impacto nacional. Sim, esse é um dos principais desafios aos anseios de Dino. Tornar-se um nome de dimensão nacional. Ainda não é! Comparemos a postura de Dino com a do governador do Ceará Camilo Santana – PT. Camilo não entra em embates desnecessários com o presidente e seus ministros. Prefere o caminho do diálogo pois facilita a interlocução em imbróglios onde a presença do governo federal é condição sine qua non. A diferença entre ambos governadores está nas distintas pretensões à 2022. Ademais, Dino não nega seus planos quando questionado. Foi o que aconteceu ontem. Dino concedeu uma entrevista ao jornalista Marco Antônio Villa. Recortamos o trecho referente ao cenário político atual e sugerimos que assistam. O governador deu inúmeras pistas sobre o que pensa do cenário atual e como deseja que essa conjuntura se desenvolva.

1. Leitura do Brasil e futuro do PCdoB

Dino comenta que recentemente o PCdoB se fundiu com o PPL – Partido Pátria Livre. Chama atenção que a fusão incorporou alguns quadros do trabalhismo, a exemplo de João Vicente Gourlart, filho de João Goulart e Brizola Neto, neto de Leonel Brizola. Com isso, Dino defende que o PCdoB é um partido de síntese e confluência sob uma perspectiva “Nacional Desenvolvimentista”. Atenção, Dino afirma que o partido tem um programa em torno do conceito de “Projeto Nacional de Desenvolvimento” com um tripé: 1. Soberania, 2. Desenvolvimento com justiça social e sustentabilidade e 3. Defesa da democracia. Com os desafios impostos pela cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais, Dino defende o que vem chamando de “federação partidária”. Quais partidos formaria essa federação… PSB? Seria uma frente política já para o ano de 2021.

2. Cenário para 2022, pré-candidatura e a hegemonia do PT

Dino não nega sua pré-candidatura sugerida pelo entrevistador. Mesmo subliminar, a mensagem é fundamental. Dino não projeta um quadro de candidaturas únicas nem no espectro da direita e nem na esquerda. Defende um esforço de agregação o tanto quanto possível no campo da esquerda. A chamada frente ampla que se daria na luta contra os retrocessos medievais aos quais o povo está sendo cotidianamente submetido, como também eleitoralmente. O esforço reduziria arestas e possibilitaria a união, não no primeiro, mas no segundo turno de 2022. Dino espera duas candidaturas no campo da esquerda, sendo uma única, pouco provável.

3. PT candidato. Ciro candidato. E aí, Dino?

Dino concorda com Villa sobre o cenário das duas candidaturas irredutíveis. Mas o cenário não estaria cristalizado. As eleições municipais ensinariam muito. Seria possível extrair importantes lições de seus resultados. Essa mensagem, muito claramente, está direcionada ao PT. Espera-se, a exemplo das últimas eleições municipais, que o PT diminua ainda mais sua representatividade. Dino também não se posiciona sobre as celeumas entre PDT e PT, ou, entre Ciro e Haddad. As celeumas são importantes e, fundamentalmente, marcam distinções entre projetos e visão de desenvolvimento do país. Defende que as discussões foquem no futuro e não no passado.

Apesar de subliminares, as falas do governador nos deixam concluir importantes movimentos. Dino está indisfarçadamente construindo sua candidatura. Dino considera, corretamente, a candidatura de Ciro Gomes como dada. Há uma militância orgânica e crescente em volta do Projeto Nacional de Desenvolvimento construído coletivamente e em constante aperfeiçoamento pelos trabalhistas. Além disso, uma hipotética chapa Ciro/Dino seria inviável. Dois homens nordestinos jamais alcançariam um segundo turno no Brasil de 2022. Como Dino acredita em no máximo duas candidaturas no campo da esquerda, tentará aglutinar o PT em torno de si. Aqui está o recado de que as eleições municipais serviriam para ensinar alguns arroubos hegemônicos. O crescente antipetismo, associado aos sucessivos fracassos eleitorais, dariam espaço para o PT, de forma inédita, apoiar um quadro externo aos seus, nas próximas eleições majoritárias brasileiras. Para isso, Dino também prevê o efeito da cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais. Lembram da federação de partidos? PCdoB se fundiria com outro (s) partido (s). PSB, mais uma vez, seria a chave para o acesso ao segundo turno de 2022. Se o PCdoB e PSB se tornam uno, Dino atrairia essa importante força para sua órbita, desfalcando o PDT. Ciro e PDT, diferente de 2018, o apoiaria em um eventual segundo turno. Até mesmo porque, Dino passou a falar de “nacional desenvolvimentismo” e projeto nacional de desenvolvimento. Nada é por acaso. O apoio, via programa, seria natural. Enquanto Ciro e Haddad brigam, Dino participa de lives com ambos.

Os planos terão êxito? A política nunca foi justa, amigos de luta.

Atenção aos movimentos do admirável Flávio Dino!

Sair da versão mobile