Sobre o aniversário de Getúlio Vargas

Minha posição sobre Vargas será expressa em detalhes no meu livro que está saindo esse ano. Dedico, no total, cerca de 30 páginas a debater o varguismo nos seus dois momentos: o movimento de 1930 e o Estado Novo e o Vargas dos anos 50.

Adianto, contudo, duas coisas: Vargas, como bem disse Sodré, foi o maior líder burguês no Brasil. Representou a consciência possível de um projeto modernizador burguês e conservador – sem rebeldia popular – nas margens abertas pela – de novo com Sodré – “pausa imperialista” (o período do entre guerras junto com a crise de 1929 e a desorganização do sistema mundial). O primeiro Vargas é, essencialmente, o Vargas da conciliação com o latifúndio e com a oligarquia paulista, o Vargas que mandou Olga para morrer e torturou milhares de comunistas, o Vargas do Filinto Müller e do Gaspar Dutra. A grande utopia varguista do Estado Novo era um pacto de classe onde todos ganham um pouco – menos os camponeses – sem luta de classes e com o Brasil pacificado com “democracia racial”.

O II Vargas, com o fim da “pausa imperialista”, hostilidade crescente da burguesia, avanço da oligarquia paulista, é o Vargas que apela para as massas e que aceita o fim do “atestado de ideologia” (um excremento protofascista) nos sindicatos e que fala em lei de remessa de lucros, Petrobras, Eletrobras, 100% de aumento do salário mínimo, o plano Salte de investimentos públicos no setor de saúde, alimentação, transporte e energia; Plano Rodoviário Nacional, Fundo Nacional de Eletrificação; renovação do equipamento da marinha mercante e sistema portuário.

Esse Vargas, o Vargas que a burguesia odeia, tentou a utopia do capitalismo nacional autônomo com participação popular. A burguesia faltou ao encontro com o “projeto nacional de desenvolvimento”.

O curioso, e a nossa tragédia, é que esse Vargas foi o único presidente até hoje que teve coragem frente aos golpistas de sempre. Jango recuou na campanha da legalidade e conciliou. Depois não enfrentou os golpistas. Lula e Dilma eu não preciso falar.

O trágico da história brasileira é que o único a sentar na cadeira presidencial e dizer “aqui tem um povo digno e que não se dobra” (palavras de Hugo Chávez), foi um político que passou décadas tentando agradar os homens de sempre.

Isso diz muito sobre a história brasileira. Diz ainda mais sobre a natureza do petismo. Nasceu para superar a “herança varguista” e não conseguiu repetir bravura semelhante a da Carta Testamento(clique aqui para ler na íntegra).

Sair da versão mobile