JONES MANOEL: A utopia de FHC

No começo dessa semana, no twitter, eu comentei como essa história de que o desenvolvimento da ciência e tecnologia vai acabar com a necessidade do trabalho humano existe desde o final do século XIX e que, especialmente ao final do século XX com o surgimento do computador e internet, era esperado uma substituição em massa do trabalho humano por máquinas (era o tempo da chamada “computadortopia”).

Como sabemos, isso não aconteceu. Em termos absolutos e relativos, temos mais operários hoje que na época de Marx.

Nos comentários do debate, uma questão interessante foi colocada: o 5G, Inteligência Artificial e a robótica teriam, supostamente, um potencial nunca visto de dispensar trabalho humano nos processos de produção e circulação do valor.

Não vou entrar no debate se essa apreciação é verdade. Digo, apenas, que se falava o mesmo do computador e internet nos anos 80. A questão que sempre coloco é outra.

O desenvolvimento e assimilação das inovações científicas e técnicas não é igual em escala global. É possível imaginar, por exemplo, as fábricas de chocolate da Bélgica totalmente automatizadas ou próximo disso, mas não as plantações de cacau da Costa do Marfim ou de Gana. Assim como eu vejo um vídeo na internet de trens de alta velocidade na China e depois pego o metrô do Recife de padrão tecnológico dos anos 80.

O processo de assimilação dos processos produtivos de vanguarda não é uniforme, global, linear. Hoje, na Índia, temos milhões de trabalhadores na industria têxtil produzindo com técnicas semelhantes ao começo do século XX.

FHC e José Serra – depois seguido por Guido Mantega – defenderam contra Ruy Mauro Marini que a tendência no capitalismo é a homogenização dos padrões de extração de mais-valor [relativo] e produtividade. Como sabemos, mais de 30 anos depois, essa tese é uma besteira.

Quem imagina um mundo sem trabalho humano a partir de coisas como IA parece esquecer que não estamos em Pequim ou Berlim… (e por aproximação defende uma tese próxima a de FHC…).

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