Minha amiga feminista em apuros

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Tenho uma amiga que se tornou referência do feminismo no país. Ela é muito acima da média dos sapiens comuns como eu. Inteligência aguçada, extremamente culta, uma intelectual que justifica o uso da palavra.

Há algum tempo, o feminismo radical passou a monopolizar sua fala pública.

Lutas específicas devem ser respeitadas e valorizadas. Mas quando vira identitarismo, a coisa degringola.

Ela, feminista militante, referência, se viu agora obrigada a defender mulheres de outras mulheres que passaram a atacar mulheres que optaram, de forma consciente ou não – neste caso não importa se vítimas ou escolhas livres, a crítica vem do mesmo jeito -, pela maternidade. Ter filhos, para as mais radicais, seria algo “nocivo e horrível”. Oi?

O identitarismo é um buraco sem fundo. É anti-marxista por excelência. É um projeto ideológico que tenta substituir a identidade de classe por identidades biológicas, de raça, de gênero, opção sexual e etc.

E não para por aí. Milita pela divisão da sociedade, é a apoteose da fragmentação, para alegria dos grandes donos do capital.

É mulher feminista? Não basta! Tem que ser mulher, feminista e não ter filhos! Já nasce outro grupo. Daqui a pouco vem outro grupo batendo no anterior, mais fragmentado ainda.

E já nasce uma nova identidade para brigar com as outras. Se auto-intitulando mais oprimida e injustiçada que a anterior.

O identitarismo é um projeto ideológico para liquidar a consciência e unidade de classe, fraturando a sociedade em milhares de fragmentos numa guerra de todos contra todos, sem fim.

Não tem como projeto juntar pra frente, gerando solidariedade e unidade na luta pelo bem comum. Seu objetivo é dividir, transplantando para o presente uma disputa infinita entre os passados mais injustiçados.

Já ouviram falar na guerra de todos contra todos? Parece óbvio, mas não é. Tempos estranhos.

Por Ricardo Cappelli.

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