O genocida bem aceito: Winston Churchill e mitologia do século XX

Churchill também era antissemita e racista. O inglês apoiou de forma inequívoca os regimes de supremacia racial na África – especialmente na África do Sul – e foi um político que ganhou fama na sua carreira como político colonial.

A Editora Zahar anunciou a publicação de um livro sobre Churchill e Orwell colocando-os como campeões da liberdade. O livro é fartamente premiado e festejado na Europa. Toda semana alguém, especialmente da esquerda, me acusa de “stalinista” como se isso fosse uma grande ofensa. Eu, nenhum grande entusiasta de Stálin, apenas me recuso a jogar o líder soviético na lata do lixo da história e destaco os elementos emancipatórios do período stalinista. Isso basta para eu ser considerado quase um criminoso.

Agora vamos pensar um pouco. Durante a eleição de 2018, Ciro Gomes citou várias vezes Churchill como o grande estadista do século XX. Reinaldo Azevedo faz o mesmo. Nas prateleiras da livraria Cultura, temos várias biografias elogiosas de Churchill. Não é considerado um crime, uma indignidade moral, citar esse sujeito de forma positiva. Mas quem foi de verdade Churchill?

Bem, o líder inglês foi um fanático apoiador do esmagamento imperialista da jovem República Soviética. A Revolução Russa, não custa lembrar, praticamente não provocou mortes. As mortes aconteceram durante a Guerra Civil quando 17 potências reacionárias apoiaram de diversas formas a invasão militar contra o país dos soviets. Depois, quando Benito Mussolini subiu ao poder na Itália, Churchill apoiou o fascismo considerando que ele salvou o país do socialismo.

Churchill também era antissemita e racista. O inglês apoiou de forma inequívoca os regimes de supremacia racial na África – especialmente na África do Sul – e foi um político que ganhou fama na sua carreira como político colonial. Foi um verdadeiro ditador genocida na Índia ao ponto de Mahatma Gandhi, nenhum marxista ou revolucionário, dizer que Churchill era comparável à Hitler e que o governo inglês era “hitleriano”. Nas suas “obras” histórias, construía uma narrativa de pureza racial do povo inglês e chamava várias vezes os bolcheviques e comunistas no geral de “bárbaros asiáticos” e falava de “complô judaico-bolchevique”.

Racista, antissemita, belicista, supremacista branco, apoiador do fascismo italiano, defensor do genocídio colonial, mas exaltado como herói da liberdade e da democracia. Como muito bem colocou Domenico Losurdo, a grande mitologia do século XX é o recalcamento, a exclusão, da questão colonial. A partir disso, se afirma que stalinismo e nazifascismo são os grandes males do século passado e o liberalismo, o anjo redentor dos direitos do indivíduo.

Por coisas assim que qualquer comentário positivo sobre Mao, Stálin, Fidel, Kim Il-sung e outros é visto como inaceitável, mas idolatrar esse psicopata assassino é normal, elegante. E ainda tem gente na esquerda que considera que repetir os elementos fundamentais dessa ideologia é “autocrítica”. Eu chamo de hegemonia liberal e anticomunismo com tranquilidade.

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