‘Frente Ampla’ ou Frente Estreita? Freixo e a glamourização do isolamento

Marcelo Freixo é um grande quadro e sujeito de grande envergadura moral. Acho inclusive que cresceu como político em seu mandato na Câmara Federal. Já em 2016, tinha deixado minha refiliação ao PDT para depois das eleições municipais para poder apoiar sua candidatura a prefeito do Rio.

Me arrependi. A campanha do PSOL no segundo turno foi uma grande vergonha sectária e desconectada da realidade do povo carioca, e que levou, quase por W.O., Marcelo Crivella à prefeitura.

Mas deu para perceber em 2016, assim como com Haddad em 2018, que nunca houve nenhuma chance para Freixo no segundo turno, não importaria que um time de João Santanas e Duda Mendonças tivesse o convencido a fazer uma campanha para o povo de verdade, aquele que vive, ama e sofre o Rio de Janeiro em seus subúrbios e favelas.

E o mesmo, em ainda pior escala, se passava em 2020. Freixo não tinha a menor chance. Ele era o candidato dos sonhos de Crivella ou qualquer outro para um segundo turno. Essa posição foi construída por anos de sectarismo radical do PSOL, assim como sua identificação praticamente exclusiva com pautas identitárias que além de não falarem para os problemas principais da maioria da população, inclusive das minorias, ainda não raro atentam contra seus valores básicos.

Para piorar, Freixo tentou impor a outros partidos uma aliança eleitoral com o PT. Em outras palavras, somar à rejeição ao radicalismo do PSOL a rejeição ao petismo, mais forte no Rio de Janeiro do que em qualquer outro lugar do país. No Rio, essa rejeição agrega dos evangélicos ao bolsonarismo, direita liberal, brizolismo, psolismo e comunismo, abrangendo praticamente todo espectro político.

Como se não bastasse, o PSOL, que só existe como partido que aspira a cargos majoritários no Rio de Janeiro, sucumbiu às imensas contradições internas de suas dezenas de correntes, tendências e subcorrentes, já contando, até a data da renúncia de Freixo, com três candidaturas a prefeito prontas para disputar as prévias internas.

Diante do fracasso de todas as suas mal concebidas estratégias, Freixo glamouriza o pragmatismo e bom senso de sua renúncia com um discurso de sacrifício em nome do combate ao fascismo. Não dá nem para entender como sua renúncia poderia ajudar nessa luta.

Não há sacrifício em renunciar, assim como não há covardia nem deserção, há só realismo. Não é hora de Freixo ficar arriscando sua vida numa candidatura antimilícia no Rio para conseguir 15% dos votos no primeiro turno e eleger a bancada de vereadores que hoje disputa com ele a própria candidatura majoritária.

A contradição que ele tenta glamourizar é a mesma de sua tentativa de impor o PT pela goela do PSOL e do resto das forças progressistas do Rio: “Frente Ampla” com o PT é frente estreita. Nem a centro-esquerda aceita. Está na hora de deixarmos claro que quando falam de “frente ampla” contra o fascismo, o que petistas e psolistas realmente pedem é uma frente de esquerda eleitoral estreita para os salvar do isolamento onde se colocaram, frente onde sequer a Rede e o PV seriam bem-vindos.

Mas o novo campo progressista que surge hoje quer de fato uma nova frente ampla, que incorpore todos os setores da sociedade, da esquerda a centro-direita democrática, na luta contra o fascismo pela democracia, sem sectarismos.

Mas essa frente não é eleitoral, é política.

Nela estaremos juntos.

Mas em frente ampla eleitoral não cabem o PT ou o PSOL.

Eles afastam todo o centro e centro-direita que precisamos reunir para derrotar o bolsonarismo e o lava-jatismo nas urnas.

O PSOL, com seu sectarismo identitário e setores pseudo-revolucionários, é um peso para sairmos do isolamento eleitoral onde estamos. Já o PT, é o peso.

Hoje, a imagem do PT é uma mistura tóxica de hegemonismo, traição, personalismo lulista, corrupção, identitarismo radical e fracasso econômico.

Salvar a democracia exige que o PT não esteja na linha de frente dessa luta, que não contamine a causa com sua imagem e aceite o papel secundário que a história lhe legou nesse momento.

Já salvar o PT eleitoralmente, não é problema nosso.

Nosso problema eleitoral é a construção de um novo projeto para o país pactuado com um espectro grande da sociedade.

Os projetos eleitorais pessoais que dependem de uma frente estreita de esquerda para sonhar, não tem espaço no gravíssimo momento que o Brasil atravessa hoje.

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