Das contradições do PDT

Por Matheus Bizzo – Diante da resolução da Executiva Nacional, Carlos Lupi, Presidente Nacional do PDT, anunciou que todo e qualquer pré-candidato do PDT que flerte com o Bolsonarismo e qualquer expressão de extrema-direita terá sua candidatura cancelada, abrindo margem para um processo na Comissão de Ética – um julgamento que leva tempo, mas necessário.

Adianto que acho uma medida importante, ainda que insuficiente, mas um posicionamento que envolve mais uma vez esta grande temática do PDT: as contradições.

Não foram poucas contradições, por exemplo, em parte da nossa bancada. Enquanto tivemos prefeito impecáveis no combate à Covid-19 (Roberto Cláudio, em Fortaleza e Rodrigo Neves, em Niterói), tivemos parlamentares (sendo que um deles não está no processo de saída) que votaram contra a prorrogação do auxílio emergencial até dezembro. Até Paulo Guedes consegue fazer um programa de renda mínima como o Renda Brasil.

Além disso, tivemos parlamentares que votaram a favor do golpe de 2016, PEC do Teto de Gastos, Reforma Trabalhista, MP da “Liberdade Econômica” e outras propostas dissonantes a nossa história e nosso atual programa para governar o país.

Nada pessoal com parlamentares X ou Y. Alguns até reavaliaram suas opiniões e combatem diariamente a agenda de destruição do tecido produtivo e social do Brasil.

Encarar a contradição diante do processo histórico deve estar livre de culpa ou qualquer purismo. Por isso, trato aqui das contradições como uma oportunidade de fortalecimento ou uma doença que atrofia nossa musculatura.

Se avaliarmos o histórico do Trabalhismo, antes e durante o antigo PTB, podemos observar muitas contradições. O Estado Novo de Getúlio Vargas carrega inúmeros equívocos políticos, mas também grandes avanços em matéria de direitos sociais para a classe trabalhadora, soberania e desenvolvimento econômico. Leonel Brizola, por exemplo, governou o Rio Grande do Sul com apoio dos ex-integralistas, liderados por Plinio Salgado, e foi o governo estadual mais avançado da nossa História.

Podemos pegar os exemplos dos famosos bigorrilhos. Estes eram deputados do então PTB de João Goulart, Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Guerreiro Ramos que votavam com a Ditadura contra os interesses nacionais. A mesma ditadura que nos golpeou ferozmente.

Nesse momento, o PTB, com suas inúmeras contradições, já tinha contribuído como nenhum Partido até hoje contribuiu para o País. Fizemos uma revolução, implementamos direitos sociais, construímos as bases pra modernização da economia. Organizamos a luta popular como na campanha d’O Petróleo é Nosso e posteriormente a Campanha da Legalidade.

Logo, apesar das contradições, o saldo foi positivo.

Com o processo de abertura e perda da legenda, o PTB passou a se chamar PDT. Leonel Brizola, sobrevivente, decide vir para o Rio de Janeiro. Chamava a unidade federativa de caixa de ressonância nacional. De fato, é até hoje. Tratou de ser governador duas vezes. Mas antes da segunda eleição no RJ, não foi ao segundo turno de 1989. Muito se deve pela falta de construção de quadros nacionais.

Estados como SP, MG, BA, além do Rio, são centrais. Se a construção paulista fosse com grupos mais ideológicos à época, talvez tirasse votos de Lula. Justamente aquele menos de 1% que não colocou Brizola no segundo turno.

Mas esse PDT com contradições, alianças com setores conservadores em várias regiões, ainda era um partido grande. Brizola, com exceção de grupos políticos medíocres como o PT carioca da época e boa parte do atual PSOL carioca, era visto como um estadista, um líder socialista e que sabia a tarefa histórica do Trabalhismo. Fez no RJ o melhor governo de todos os tempos – assim como fez no RS.

Mas, do final dos anos 80 até os anos 90, o PDT foi diminuindo, tendo dissidências e forte oposição dos grandes poderosos do Brasil e de fora.

Já nesse caso, as contradições da construção partidária pelo Brasil atrofiaram nossa musculatura.

Com a morte de Brizola, em 2004, o PDT estava dado como encerrado. Conseguiu, na Era Lupi, meio torto em alguns momentos, se estabelecer. Trouxe Ciro em 2015 e agora tem ali 12 milhões de votos para presidente. De certo modo, as contradições desse período – que não foram poucas – seguraram as pontas. Sem máquina, é difícil ter partido em um país desse tamanho e dessa complexidade. Sem contar que fiscalizar mais de 5 mil municípios e 1.2 milhão de filiados também é uma grande tarefa.

Porém o momento é outro.

Não tem como eleger um projeto e tampouco aplica-ló sem a coesão partidária. Quase 1/3 da bancada na Câmara votou a favor da reforma da previdência. Não basta punir, precisamos entender como isso aconteceu.

O processo de maior coesão envolve não só a escolha das nominatas, mas também a formação política (teoria + prática) diária de nossos militantes, quadros e dirigentes. E formação política não é uma provinha do colégio. É realmente fazer parte do Trabalhismo. Não adianta só falar coisas óbvias como defender em abstrato a democracia, a educação ou o diminuição das desigualdades. Isso até a Globo fala. Tabata Amaral, por exemplo, veio com discussões rasas sobre esses temas e posta foto paparicando presidente dos EUA. E não, ainda não é caso passado e tampouco agulha em palheiro.

O critério das alianças deve estar na capacidade de organizar a militância partidária para quando os acordos azedarem. Nem sempre fazemos acordo com quem gostamos, mas que seja vantajoso ao Partido – não só ao grupo dirigente local.

A demarcação ideológica hoje é o que tem determinado parte dos votos, talvez o que faça levar ao segundo turno. Bolsonaro entendeu isso e hoje governa o Brasil com a aprovação crescendo mesmo sendo o pior presidente do mundo em 2020.

Para Ciro chegar ao segundo turno, estou cada vez mais convencido de que precisará criar o maior polo de força anti-Bolsonarista para o brasileiro médio. Fortes decepções com quadros importantes do seu partido dificultam tal demarcação.

Que as contradições de hoje nos permitam avançar para encorpar o Partido não só nas ideias, mas na construção de um Brasil dos brasileiros.

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