Cynara Menezes inaugura o Lulolunatismo no Brasil

Está inaugurado o Lulolunatismo no Brasil - Cynara Menezes Ciro Gomes Tico Santa Cruz

Eu não gostaria de ter que escrever esse texto. Começo deixando claro que não me causa nenhum sentimento além de vergonha alheia ter que vir aqui me posicionar quanto a esse ato público de loucura da companheira Cynara Menezes, que dia sim, dia sim, distribui pancadas e agressões ao Ciro Gomes, ao PDT, à militância trabalhista e a todos que não se curvam a uma defesa patológica do ex-presidente Lula.

Estavam em uma live Cynara, Renato Rovai e Tico Santa Cruz. Quando Cynara jogou a sensatez pra tão longe como um pênalti isolado numa final de Copa do Mundo, no melhor estilo Roberto Baggio, em 94. O Brasil agradeceu pênalti perdido, mas não comemorou o chute desregulado da companheira progressista. Aliás, as urnas de 2020 deixaram claro isso, visto que o PT não conquistou nenhuma prefeitura de capital de estado, o que não ocorria desde 1985, quando a ditadura militar se encerrou e voltamos a ter eleições democráticas no país.

Vamos à pérola: “Em 2018, se tivesse mais duas semanas antes da eleição, o Haddad ganhava (do Bolsonaro)”. Os meus olhos arregalaram. E os de Tico Santa Cruz também, que eu parabenizo pela coragem e firmeza de ter discordado da insana especulação e ter rebatido na hora. Eu vou além: companheira, se o segundo turno de 2018 estivesse rolando até hoje, Haddad continuaria perdendo. A verdade é que todo mundo sabia – embora alguns por loucura, cegueira ou mesada tenham dito o contrário – que Haddad não vencia Bolsonaro de jeito nenhum. No próximo parágrafo explico o raciocínio e também onde eu estava politicamente nesses tempos de 2018, pra que não me acusem de fascista antipetista – o que já vão fazer, claro.

Eu, Thiago Manga, tirei título de eleitor em 2002, aos 17 anos de idade, pra votar no Lula. E votei no PT para a disputa presidencial em 2006, em 2010 e em 2014, embora se eu soubesse o que sei hoje sobre os ataques vis e covardes feitos à Marina Silva em 14, ali mesmo já não tinha mais votado. Mas no Aécio eu também não votaria jamais. Eleição essa que coloquei carreira e vida em jogo pra defender a Dilma, e que a honrada presidenta golpeada posteriormente junto com a democracia nos agradeceu nomeando Joaquim Levy para a Fazenda e entregando de vez a agenda econômica pra Direita que hoje somos acusados muitas vezes de integrar, embora quem tenha concedido lucros recordes aos bancos não tenha sido o PDT.

Seguindo. Veio o golpe e eu tava lá, apanhando na rua e nas redes e dando minha cara a tapa em nome da honra de Dilma Rousseff, que não cometeu crime de responsabilidade algum, e em defesa da democracia brasileira. Perdemos a batalha que lutamos juntos.

Pouco tempo depois, foi a vez de eu fazer o mesmo em defesa do Lula na perseguição fascista da Lava Jato, defendendo a ilegalidade do processo e denunciando os crimes de Sergio Moro quando a moda era chamá-lo de herói sem capa. Perdemos outra batalha. E aí chegamos em 2018. Meu pensamento era claro e o manifestei publicamente em relação ao primeiro ato de insanidade: quando Lula, condenado pela Justiça em 2a instância, decidiu ser candidato à presidência da República mesmo estando preso e importante: estando inelegível pela Lei da Ficha Limpa, que ele mesmo sancionou quando presidente (!!!).

Nesse momento a coisa perdeu o rumo por completo. Passamos um mês, dois, com a cadeira do PT vazia nos debates e o apresentador sempre explicando com sorriso estampado no rosto que a mesma estava desocupada pois o candidato do Partido dos Trabalhadores estava preso, condenado por corrupção. E eu não quis crer que aquilo fosse possível quando o PT anunciou que Fernando Haddad seria o candidato. Não tenho nada contra o ex-prefeito de São Paulo, mas ele havia perdido a reeleição para a prefeitura de São Paulo, dois anos antes, no primeiro turno para o João Doria (PSDB). Sabe quantas vezes isso aconteceu na história da capital paulistana? Até então, zero. Não fazia o menor sentido na minha cabeça lançar uma candidatura – na minha visão – fadada a ser derrotada ao nascer em um momento em que o antipetismo doentio estava na mente e na boca de milhões de brasileiros e brasileiras. Haddad virou “Andrade” na boca de milhões que nunca haviam ouvido falar do ex-ministro da Educação de Lula, aliás, que fez um ótimo trabalho, tirando, claro, os programas que transferiram dinheiro público pra instituições privadas de ensino, como o ProUni.

Ali, eu já tinha abandonado o barco de mil furos. Havia, em junho, aderido à candidatura de Ciro Gomes à presidência. E disputei voto na rua e na rede. Com honra e sem dobrar a realidade com boatos e notícias falsas que as pessoas pensam ingenuamente que a turma do Bolsonaro inventou. Não foram eles, não. Mas pra terminar a pequena historinha: hoje eu não tenho dúvidas de que o pior aconteceu em 2018: Lula preferiu entregar – e ele como gênio político que é, sabia muito bem – o país aos fascismo do que ceder o protagonismo do campo progressista a alguém que não fosse do PT. No caso em tela, Ciro Gomes e o PDT.

Mas não esqueça antes de me odiar e me chamar de antipetista: quem caluniou, ofendeu e fez de tudo pra impedir que uma companheira de esquerda, um quadro histórico do próprio partido chegasse ao segundo turno foi o PT, em 2014, quando tratou Marina Silva como inimiga, igual nos trata agora. Pois é. Não é só o Bolsonaro que gosta de polarizações eleitorais. O PT preferiu enfrentar Aécio Neves em 2014 pois considerava que polarizando o debate com a direita liberal, tinha mais chance de vencer. E eu concordo. Só não concordo com mentiras e loucuras políticas, que acabam descambando pra irresponsabilidade. Deu certo. Quer dizer. Dilma venceu. E deu no que deu.

De 2018 pra cá, as coisas foram ficando mais claras pra mim em junho desse ano, me juntei ao PDT pra lutar pelo Projeto Nacional de Desenvolvimento se Ciro Gomes, mas que foi escrito por muitas mãos honradas, inclusive de gente que nem tá mais aqui e que vivem através da história do trabalhismo nacional. Comecei a entender melhor o que hoje chamamos de “Lulopetismo”. E a lamentá-lo ainda mais. Mas o que queimou minhas sobrancelhas foi ver esse vídeo – que publico junto pois eu não faço ilações contra ninguém, aqui a gente trabalha com fatos – eu fiquei ainda mais preocupado.

A companheira Cynara tem o direito de dizer o que ela quiser. E eu também. E a Patrícia Pillar também. Mas se eu digo publicamente pra companheira o que ela disse pra fantástica atriz ao ser contrariada, já tinham me cancelado na internet e tudo mais – em anexo novamente. Ora, a Patrícia Pillar não pode ter opinião? Tem que ser necessariamente a mando de um homem que ela publica as coisas nas redes sociais dela?

Afinal, o machismo tóxico que destrói a nossa sociedade e escraviza mulheres ainda hoje não parte só de homens, né? Ou falar isso é machismo?

Bom, eu fico, no fundo, triste. E um tanto indignado. Por isso pedi o espaço excepcional – já que minha coluna da semana foi publicada na segunda-feira – e que foi cedido gentilmente pelos companheiros do Portal Disparada.

Vim aqui só pra lamentar, mas sem perder a coragem de me posicionar sem medo: companheiros e companheiras, nasce no Brasil a ala mais radical do Lulopetismo: o Lulolunatismo.

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